Foi numa gruta do Monte Hira que Maomé recebeu a mensagem essencial do Arcanjo Gabriel, no momento definido pela tradição islâmica como a Noite da Revelação ou Noite do Destino: “Só há um Deus, que é Alá, e Maomé é o seu profeta”. Daí em diante o profeta passou a pregar entre seus familiares, que pertenciam ao clã hashemita, um dos clãs pobres que integravam a tribo dos coraixitas que governava a cidade de Meca, onde ele nasceu. Como foi casado com a viúva de um rico comerciante, acredita-se que ele tenha assumido os negócios e assim entrado em contato com judeus e cristãos, conhecendo-lhes as crenças.
O profeta passou a pregar, também, para os mais humildes, conquistando novos adeptos. Para evitar a eternidade no inferno, os seguidores de Maomé passaram a cumprir os fundamentos da nova fé, orando pelo menos cinco vezes ao dia e buscando ser benevolentes, visando a conquista de um lugar no paraíso pelo julgamento de Alá, depois do fim do mundo.
Os seguidores da religião são chamados de Muslim, palavra árabe que significa “aquele que se submete, o crente”, e a própria religião chama-se Islã, palavra árabe que significa “submeter-se”. A reza agachada é uma forma de negar a arrogância, o egoísmo e o orgulho, além de servir para vivificar no espírito o sentimento de submissão absoluta a Deus. A religiosidade da Arábia era marcada pelo politeísmo e o culto aos astros e às pedras sagradas. No templo da Caaba, em Meca, incrustada em uma das paredes, fica a pedra sagrada mais importante, motivo de orações e romarias antes mesmo do advento do islamismo.
A Caaba, em Meca. Ao redor da Pedra Sagrada surge a mesquita.
Em pouco tempo as pregações começam a atingir os comerciantes e a nobreza. Os sacerdotes dos cultos dominantes, com o apoio dos mercadores abastados estimulam a perseguição aos seguidores do profeta. Maomé foge de Meca para Yatrib, em 622 d.C., sendo esse o marco inicial da difusão do islamismo. Como o profeta ampliou sua autoridade a partir de Yatrib, a cidade passou a ser chamada de Medina, que significa “a cidade do profeta”. Como dissemos aqui num texto sobre o festejo de ano novo ( leia aqui ), o próprio calendário islâmico tem sua origem marcada nesse evento. Segue citação do texto, que inclui informações sobre o ano novo judaico, islâmico, chinês e hindú, escrito em janeiro deste ano:
“O calendário Islâmico tem sua contagem iniciada a partir da hégira (fuga) de Maomé, de Meca para a Medina, ocorrida no dia 16 de julho de 622 do calendário gregoriano. O reveillon muçulmano acontecerá no próximo dia 20 de janeiro (do nosso 2007), quando eles, que já são quase 1,3 bilhão, e crescendo, festejarão a chegada do dia 1º de Muharram (primeiro mês islâmico) do ano de 1428”.
De 622 até 632, ano da morte do profeta, o islamismo é espalhado por toda a Península Arábica, tendo Maomé como chefe religioso, político e militar da comunidade muçulmana. Sua doutrina defendia a Jihad (Guerra Santa) afirmando que o combate que expande a fé visa a glorificação de Alá. E a promessa do paraíso aos que morrem combatendo pela fé vem desde essa época, fatos que explicam tamanha velocidade no processo de expansão.
Os quatro primeiros califas – sucessores do profeta – construíram um império vastíssimo, com unidade política centrada no islã. Entre 632 e 656 os califas encontraram um cenário perfeito para a expansão territorial do islã. O império Bizantino, o império Persa e o Estado Visigodo estavam enfraquecidos. Os exércitos árabes foram enviados para Palestina, Síria, Armênia, Mesopotâmia, Pérsia, Egito e Tripolitânia (norte da África). A expansão desse império não beneficiava somente as classes mercantil e urbana da aristocracia, mas a todos os que se convertessem ao islamismo. Conseqüentemente, todas essas regiões, incluindo a Palestina e a cidade de Jerusalém, foram conquistadas e islamizadas.
As disputas pela sucessão dos califados geraram a fragmentação do islamismo em seitas como os xiitas e os sunitas. Os xiitas são, originalmente, os membros do partido Xiat Ali – partido de Ali - defensores de um califa que seja obrigatoriamente descendente direto de Maomé. Os sunitas acreditam que o califa pode ser alguém que possua um profundo conhecimento sobre os preceitos do islamismo e que pratique o que está escrito nas Sunas. As sunas são livros que transcrevem o padrão de comportamento do profeta e dos quatro primeiros califas. Atualmente os sunitas representam 90% do mundo islâmico.
Em 661, os sunitas assumem o poder com Moaviá, que faz da sucessão um processo hereditário, inaugurando a dinastia dos Omíadas, e transfere a capital do império de Medina para Damasco. Essa dinastia expande o islamismo dominando todo o norte da África, do Egito até o atual Marrocos, a Pérsia, atingido até a região de Cabul no atual Afeganistão, o oeste da Península Indiana, no atual Paquistão e a Península Ibérica, antigo reino dos Visigodos, especialmente a área da atual Espanha.
Abrangência do Império Árabe (expansão omíada).
Em 750, a dinastia abássida assume o poder e transfere a sede do califado de Damasco para Bagdá. A língua persa passa a ser a segunda língua do império árabe. No entanto inúmeras dinastias independentes tomam o poder em áreas específicas e em muitas regiões o poder civil dos sultões e dos emires torna-se mais importante do que o poder religioso dos califas, o que denota o enfraquecimento e a fragmentação do império. Sultões são chefes militares muçulmanos e emires são responsáveis pela administração e segurança das cidades islâmicas. Em 1258 o império islâmico foi, então, fragmentado nos califados de Bagdá, Cairo e Córdoba.
Embora o império estivesse enfraquecido, a difusão da religião não foi interrompida, atingindo aos turcos da Ásia central e estes, no século XI, dominaram a Península da Anatólia, na Ásia Menor, onde seria fundada, no século XIV a dinastia otomana, que dominou vastas áreas do Império Bizantino e se expandiu em direção aos Bálcãs. Durante a expansão dos turcos islamizados, a cidade de Jerusalém foi alvo de diversas cruzadas cristãs que tinham o objetivo de assumir o controle da cidade sagrada, tirando-a das mãos dos muçulmanos. O controle da cidade alternou-se várias vezes entre cristãos e muçulmanos no período que vai de 1099 e 1291, ficando com os turcos muçulmanos a partir deste ano.
Em 1453, a antiga Bizâncio, fundada pelos gregos, e então Constantinopla, sede do império Bizantino, foi dominada pelos turcos otomanos que passaram a chamar a cidade de Islambol (Istambul), que significa “difusão do Islã”. Na Europa, os Espanhóis conquistam Granada em 1492 e expulsam definitivamente os árabes de seu último reduto no continente.
Daí em diante, a difusão do Islã segue em direção ao Oriente, na fronteira entre China, Índia e Paquistão; na Ásia Central, ao redor do mar Cáspio; e também no continente africano, no sentido Norte-Sul, atingindo o Sudão, no vale do Nilo, todo o Magreb, o Sahel (orla semi-árida do Saara), o Golfo da Guiné, em países como a Nigéria, Gana, Costa do Marfim, Benin, o Chifre da África, com parte da Somália, Eritréia e Etiópia, além de outras áreas ao sul como a faixa litorânea de Moçambique. Com base nesse processo de difusão do Islã, sabemos que a Palestina foi uma das primeiras áreas islamizadas no planeta, constituindo, também, um espaço que possui vínculos históricos e religiosos com os muçulmanos. Isso, somado aos vínculos do judaísmo com a mesma terra, corresponde ao fator básico que imprime as disputas claramente manifestadas na região atualmente.