terça-feira, 30 de outubro de 2012

DESERTOS, DESERTIZAÇÃO E DESERTIFICAÇÃO

Esse texto visa apresentar respostas objetivas para dez questões relevantes que envolvem os temas apresentados em seu título. Aborda a dinâmica da Natureza e a interação do homem com o meio ambiente como agente causador de impactos. As questões que apresentamos aqui são as seguintes:

1) O que são desertos?
2) O que é desertização?
3) Como ocorre a desertização?
4) O que é desertificação?
5) Como ocorre a desertificação?
6) Quais são as principais consequências da desertificação?
7) Quais são os principais espaços que sofrem a desertificação no Mundo atualmente?
8) Quais são os principais espaços que sofrem a desertificação no Brasil atualmente?
9) Como evitar ou controlar o avanço da desertificação?
10) A desertificação é um processo reversível?

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O que são desertos?

Desertos são espaços onde os níveis de precipitação registrados são muito baixos, em geral até 250 mm anuais em média, e onde os níveis de evaporação superam os de precipitação.

A baixa presença de vapor d’água na atmosfera cria condições para uma elevada amplitude térmica (variação de temperatura) diária. O vapor d’água é um gás estufa, por isso, nas áreas úmidas, o calor do dia é bastante retido à noite. Já nos desertos, a pobreza em vapor d’água favorece a dissipação do calor na atmosfera, tornando as noites bem mais frias que os dias.

Como resultado disso, as paisagens desérticas costumam ter solos muito arenosos ou rochosos. A variação de temperatura induz a ocorrência da meteorização das rochas (uma forma de intemperismo físico), em que a sucessiva dilatação (que ocorre com o aquecimento durante o dia) e a contração (que ocorre com o resfriamento durante a noite) gera a fratura das rochas em blocos menores, o que garante o aspecto arenoso ou rochoso do solo.

As formas de vida são apenas aparentemente pouco diversificadas. As espécies se adaptam ao rigor do clima desértico. Os vegetais, em geral plantas xerófitas, são muito resistentes à seca e à alta salinidade. Encontram-se de forma dispersa no espaço, desenvolvem raízes profundas e armazenam água em seus caules, folhas e raízes. Apresentam espinhos que contribuem para a realização da fotossíntese evitando a perda de água para o meio por causa de seu formato aciculifoliado (folhas em forma de agulhas). Muitos animais mantêm hábitos noturnos e passam o dia protegidos dos intensos raios solares, escondidos na areia ou em tocas.

A maioria dos rios dos desertos tem caráter temporário. Surgem nos momentos de chuva e depois desaparecem. Como nos desertos as tempestades podem trazer grande volume de chuva concentrado em poucos minutos, caminhar pelo leito dos rios enquanto estão secos pode ser perigoso. É comum eles transbordarem em pouco tempo após o início das chuvas. Excetuando esses casos, os principais rios que cortam desertos têm nascentes em áreas não desérticas com chuvas regulares, como é o caso do rio Nilo.


O que é desertização?

Desertização é um processo natural em que um ambiente transforma-se em um deserto. Trata-se de um processo lento e que possui causas naturais independentes da ação humana.

Como ocorre a desertização?

A desertização é resultado de complexas interações entre a atmosfera, a litosfera, a hidrosfera e a biosfera. Os desertos que encontramos na Terra atualmente são formados por pelo menos um dos fatores, ou uma associação deles, a seguir:

- Desertos em zonas de alta pressão subtropical: essas áreas são caracterizadas pela descida dos ventos contra-alísios, que têm uma ação ressecante. Os ventos contra-alísios, ao descerem nas altas pressões subtropicais, dispersam moléculas e dificultam a subida do vapor d’água, que é fundamental para que haja condensação e chuvas.

- Desertos em áreas à sotavento de grandes barreiras orográficas: alguns desertos do planeta se encontram impedidos por montanhas de ter um contato mais amplo com massas de ar úmidas. Dizemos que essas montanhas constituem barreiras orográficas ao fluxo da umidade. A vertente da montanha que é voltada para a origem do fluxo, e que recebe umidade, é chamada de “barlavento”. Já a vertente voltada contra a origem do fluxo, e que não recebe a umidade, é chamada de “sotavento”.

- Desertos Polares: são áreas onde a precipitação é muito baixa pois as temperaturas médias, que ficam sempre abaixo ou muito próximas de 0°C, restringem demais a evaporação que forma as chuvas. Não se encontram dunas de areia mas dunas de neve em certas áreas de desertos polares.

- Desertos costeiros: são os mais complexos. Estão presentes nas margens ocidentais da América, da África e da Oceania, sempre nas regiões próximas aos trópicos. O desvio Coriollis, provocado pela rotação da Terra, faz com que os ventos predominantes nessas margens ocidentais soprem do continente para o oceano, dificultando a ação de ventos úmidos do oceano. Soma-se a isso o fato dessas áreas serem invariavelmente banhadas por correntes marinhas frias, que reduzem a evaporação nos oceanos e refrigeram a baixa troposfera, exercendo um efeito ressecante na atmosfera, ou seja, provocando chuvas sobre o oceano, que não chegam ao continente. A presença comum de dunas em formato de Lua Crescente voltadas para o mar são uma evidência clara do sentido dos ventos. O deserto de Atacama, que é o mais árido do planeta, é um deserto costeiro.

Muitos estudos em Geologia e Paleoclimatologia (ciência que estuda os climas antigos) apontam para a formação de desertos muito antigos no planeta, alguns já desaparecidos, muitos deles cobertos por florestas atualmente. Acredita-se que muitos desertos surgiram ao longo das glaciações que a Terra viveu. As glaciações congelam grande parte da água do planeta, tornando os climas mais secos, o que favorece a desertização.


O que é desertificação?

Desertificação é um processo regressivo da biosfera de um ambiente, gerado pela ação humana. É notavelmente mais comum em áreas de clima semiárido, sub-úmido e em áreas que circundam desertos.

Como ocorre a desertificação?

Diversas ações inapropriadas do homem sobre o solo podem provocar esse processo. Vejamos os principais:

- Monoculturas intensivas sobre ecossistemas frágeis. As monoculturas desgastam muito o solo pois exigem muitos nutrientes da Natureza, o que provoca seu empobrecimento. Em ambientes frágeis, a superexploração do solo pode ser perigosa nesse sentido.

- Desmatamento. A retirada da cobertura vegetal expõe os solos à radiação solar mais intensa e ao contato direto com as águas das chuvas. Naturalmente, esse desmatamento reduz a infiltração das águas no solo, a alimentação dos lençóis freáticos e aumenta o escoamento superficial das águas, potencializando a erosão, que empobrece o solo.

- Técnicas agropecuárias impróprias. Diversas formas indevidas de uso podem favorecer a erosão e a perda de solo, facilitando assim a desertificação. Entre essas formas, destacam-se a pecuária extensiva, em que o gado criado solto pisoteia e compacta os solos dificultando o crescimento dos vegetais; e o plantio direto sem curvas de nível em encostas, que favorece a erosão.

Quais são as principais consequências da desertificação?

As áreas afetadas sofrem diversas consequências, tanto no âmbito ecológico quanto nos âmbitos social e econômico. São consequências comuns em espaços desertificados:

- Redução da retenção de recursos hídricos; impactos sobre a fauna e a flora; mimetização de espécies no ambiente transformado; impactos sociais decorrentes da falta de água, como desnutrição e desidratação; expansão da pobreza; migrações; desagregação familiar associada às migrações; perda de potencial e produtividade agropecuárias; redução das receitas agropecuárias locais; etc.

Uma forma moderna de exploração dos espaços desertificados é o cultivo de eucaliptos. A planta já demonstrou capacidade de crescer nesse tipo de ambiente, no entanto sua presença em larga escala age de forma nociva ao ambiente. O eucalipto é uma espécie de crescimento muito rápido e de grande absorção de água do solo. Essa relação gera enorme extração de água dos solos das regiões desertificadas, o que contribui para a expansão do espaço desertificado.



Quais são os principais espaços que sofrem a desertificação no Mundo atualmente?

A desertificação é um processo que ocorre principalmente em ambientes que possuem alguma fragilidade, como as regiões semiáridas, sub-úmidas e as que circundam desertos. Alguns casos chamam a atenção no Mundo. Vejamos alguns:

- Sahel africano: a palavra “sahel” tem origem árabe e significa “orla”. A região conhecida como Sahel corresponde à orla semiárida meridional do deserto do Saara, uma faixa relativamente fina de terras semidesérticas ao sul do Saara. É uma das regiões mais pobres do planeta, com péssimos indicadores sociais. Lá, boa parte da população combina uma agricultura itinerante rudimentar com um pastoreio nômade. As duas atividades contribuem para a desertificação. Há também a presença de monoculturas exportadoras comandadas principalmente por empresas europeias, que também contribuem para a desertificação.

- Mar de Aralnos anos 1920, a antiga União Soviética desviou os cursos dos principais rios que alimentavam o Mar de Aral para irrigar projetos agrícolas na região semiárida do entorno do mar, processo que continuou sendo ampliado nas décadas seguintes. Com a redução dessa alimentação, o volume de água do mar foi progressivamente reduzindo-se. Hoje ele corresponde a aproximadamente 10% da área original e é uma das maiores tragédias ambientais da história. A região conta com um “cemitério de navios” encalhados e com águas e solo altamente salinizados.


- Portugal Meridional: as províncias do Alentejo e do Algarve sofrem forte pressão hidrográfica causada pelos baixos índices pluviométricos, pela agricultura intensiva e pela ampla infraestrutura turística. Em Alentejo, os portugueses construíram a barragem do Alqueva, criando o maior lago artificial da Europa para enfrentar a falta de chuvas e viabilizar a irrigação agrícola. Além disso, o governo restringiu o uso de água para atividades turísticas em Algarve como em piscinas e campos de golfe.

Quais são os principais espaços que sofrem a desertificação no Brasil atualmente?

No Brasil, os principais espaços que sofrem desertificação são municípios do Sertão nordestino. O clima tropical semiárido e as formas tradicionais de uso do solo favorecem esse processo.

Na microrregião da Campanha ocidental, no Sudeste Rio-grandense, com destaque para Itaqui e Alegrete, ocorre um processo de arenização do solo. Cabe destacar que, embora os processos tenham aspectos semelhantes, a arenização se desenvolve em ambientes úmidos.


No Nordeste, o clima semiárido associado a prática de uma agricultura de subsistência vinculada ao pastoreio de bovinos e caprinos explica a evolução da desertificação. Na campanha ocidental, é a pecuária de bovinos, uma atividade histórica com mais de dois séculos na região, que explica o processo, através da compactação dos solos provocada pelo pisoteio do gado.

Como evitar ou controlar o avanço da desertificação?

Para evitar a desertificação ou controlar seu avanço é necessário identificar e agir sobre as causas do processo. Deve-se proteger a vegetação; praticar a agropecuária de maneira apropriada, sem superexploração do solo ou uso de técnicas indevidas; e manejar os recursos hídricos de forma sustentável, evitando grandes desvios ou transposições de rios.

A desertificação é um processo reversível?

Sim! É possível observar a retomada da expansão vegetal em ambientes que vivem a desertificação. No entanto, dependendo do grau de comprometimento, o processo pode levar séculos para se completar. O homem contribui para essa retomada desocupando as terras e aplicando formas de manejo que contribuam para a reversão do quadro. Esse manejo pode ser extremamente dispendioso, podendo custar bilhões de dólares.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

MIGRAÇÃO PENDULAR E TRANSUMÂNCIA


Nesse texto abordamos dois tipos de movimentos populacionais cujas características despertam interesse e dúvidas nos alunos. Por isso, apresentamos cinco perguntas importantes para você dominar esses temas.

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O que é Migração Pendular?

Migração Pendular é um movimento populacional regular em que as pessoas viajam da cidade em que residem para outra cidade onde trabalham ou estudam em tempo integral. A rigor, não se trata de uma migração já que o tempo de permanência não é longo e os movimentos definidos como migração são entendidos como movimentos definitivos ou de longa duração.

Metrô do Rio de Janeiro lotado.

A Migração Pendular é, necessariamente, um movimento diário?

Tomando por base a definição estabelecida acima, podemos afirmar que as migrações pendulares não devem ser entendidas somente como movimentos de caráter diário mas de qualquer intervalo de tempo, desde que se trate de um movimento regular em que o tempo entre a ida e a volta não seja muito longo.

Quais são os principais exemplos de Migração Pendular?

No campo, o principal exemplo de movimento pendular é o realizado pelos trabalhadores volantes, conhecidos popularmente como boias-frias. Em geral, eles se deslocam no início da manhã, da cidade em que vivem para o campo, de onde voltam para suas casas, na cidade, no final do dia.

Outra situação exemplar é a dos trabalhadores que moram nos municípios de uma Região Metropolitana e fazem o movimento diário de suas cidades para trabalhar na metrópole ou em outra cidade da região. A lotação dos meios de transporte intermunicipais e os congestionamentos das vias urbanas e interurbanas no início da manhã e no fim do dia são fortes evidências desse movimento.

Entre os casos em que o movimento não é diário, destacam-se as seguintes situações:

1 – Executivos – Muitos viajam da cidade em que vivem para a cidade em que trabalham no início da semana, abrigam-se em hotéis ou apart-hotéis, e retornam para casa no fim de semana.

2 – Políticos – Deputados estaduais, deputados federais, senadores e outros representantes políticos vivem, em muitos casos, em cidades diferentes daquela em que trabalham. O próprio Congresso Nacional do Brasil não possui reuniões plenárias regulares nos dias de segunda-feira e sexta-feira pois esses são os dias em que os parlamentares chegam e saem de Brasília.

3 – Petroleiros – Muitos trabalhadores petroleiros passam de 10 a 15 dias consecutivos embarcados em plataformas de petróleo, de onde retornam para casa para alguns dias consecutivos de descanso.

4 – Profissionais liberais – Médicos e professores muitas vezes possuem empregos diferentes. Sendo assim, alguns acabam viajando pelo menos uma vez por semana para outra cidade a fim de realizar um plantão ou ministrar suas aulas semanais .

Quais são as principais diferenças entre Migração Pendular e Transumância?

A migração pendular e a transumância têm em comum o fato de serem movimentos regulares com ida e retorno periódicos. A transumância é um movimento descrito tradicionalmente como sendo executado por rebanhos, vaqueiros e pastores que sobem montanhas no verão em busca do clima ameno das altitudes e descem para as planícies no inverno fugindo do rigor do frio nas montanhas. Fica claro que trata-se de um movimento sazonal, ou seja, regulado pelas estações do ano, o que não ocorre nos movimentos pendulares.

No entanto, o movimento de transumância ganha outro significado quando interpretado do ponto de vista de trabalhadores rurais. O termo “transumância” é usado para designar o movimento migratório realizado por camponeses que vão para a cidade em busca de emprego nos períodos em que o calendário agrícola não oferece trabalho no campo. Numa questão do primeiro exame de qualificação da UERJ de 2009, o movimento é apresentado a partir de um texto de jornal que o descreve do seguinte modo, com grifo nosso na frase definitiva [1]:

Assim, conversinha mole e a criançada que se multiplica. ‘Eu não vou para São Paulo’, anuncia Ari Félix, 12. Mas o irmão dele foi. ‘Difícil ficar’ é a frase mais repetida. Safras perdidas, falta de emprego, família crescendo. A soma faz os homens alternarem: seis meses lá, seis meses cá. Acostumada às despedidas, Vila São Sebastião sabe a rotina: abraços, apertos de mão e adeusinhos frenéticos que, no caso deles, sempre querem dizer ‘até logo’”.

Como as transformações no campo e na cidade contribuíram para Migração Pendular nas Regiões Metropolitanas brasileiras?

O processo de modernização do campo que ganha força no Brasil a partir da crise de 29 e se expande nos anos 1960 e 1970 promove transformações nas relações de trabalho e de produção rurais que tem como consequência uma forte liberação de mão de obra e uma notável concentração fundiária.

Essas realidades associadas às transformações impostas pelo avanço da industrialização nas principais cidades do país, movida pelo desenvolvimentismo brasileiro, criaram uma grande atração de pessoas para esses centros urbanos. Assim, o Brasil observou, em meados da década de 1960, uma mudança na distribuição espacial da população, que passou a viver mais em áreas urbanas do que em áreas rurais.

Diante dessas metamorfoses, podemos dizer que ao mesmo tempo em que o Brasil se urbanizava, o país vivia o processo de metropolização [2] de suas principais capitais, sendo ambos os processos resultados de um fantástico fluxo migratório no sentido campo-cidade observado naquele contexto. Fluxo que convencionamos chamar de êxodo rural, pelo caráter de massa dessas migrações internas.

Assim, o acelerado crescimento dos aglomerados metropolitanos se traduz no crescimento do núcleo metropolitano e, principalmente, na expansão das suas periferias, que nas últimas três décadas passaram a crescer mais rápido que seus respectivos núcleos. É a população residente nessas cidades periféricas em expansão que vai protagonizar os movimentos pendulares diários, principalmente no sentido periferia-núcleo-periferia.


REFERÊNCIAS:


[2] Fausto Brito e Joseane de Souza: Expansão urbana nas grande metrópoles e o significado das migrações intrametropolitanas e da mobilidade pendular na reprodução da pobreza. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-88392005000400003&script=sci_arttext

terça-feira, 23 de outubro de 2012

ENERGIA NUCLEAR

Nesse texto nós apresentamos dez perguntas importantes para quem quer conhecer mais sobre a energia nuclear no mundo. São elas:

1 - Como é gerada a Energia Nuclear?
2 - Quais são as principais formas de uso da Energia Nuclear?
3 - Como funciona uma Usina Nuclear?
4 - Qual é o contexto histórico do desenvolvimento e do uso da energia nuclear?
5 - Como ocorre o processo de enriquecimento de urânio?
6 - Como os Estados se organizaram para elevar a segurança nuclear internacional?
7 - Por que muitos países desconfiam do Programa Nuclear do Irã?
8 - Por que muitos ambientalistas são contrários ao uso da energia nuclear?
9 - Quais foram as principais catástrofes mundiais ligadas à radioatividade até 2011?
10 - Quais são as principais vantagens e desvantagens da energia nuclear?

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Vamos às respostas?

Como é gerada a Energia Nuclear?

Segundo as informações do site da Eletronuclear [1], empresa subsidiária da Eletrobrás, vinculada ao Ministério das Minas e Energia do Brasil, a energia nuclear pode ser produzida pois “os átomos de alguns elementos químicos apresentam a propriedade de, através de reações nucleares, transformar massa em energia. Esse princípio foi demonstrado por Albert Einstein. O processo ocorre espontaneamente em alguns elementos, porém em outros precisa ser provocado através de técnicas específicas”.


A Eletronuclear explica ainda que “existem duas formas de aproveitar essa energia para a produção de eletricidade: A fissão nuclear, onde o núcleo atômico se divide em duas ou mais partículas, e a fusão nuclear, na qual dois ou mais núcleos se unem para produzir um novo elemento”.

Quais são as principais formas de uso da Energia Nuclear?

Uma das principais formas de uso da Energia Nuclear no mundo contemporâneo é a geração de eletricidade. Ainda de acordo com a Eletronuclear, “a fissão do átomo de urânio é a principal técnica empregada para a geração de eletricidade em usinas nucleares. É usada em mais de 400 centrais nucleares em todo o mundo, principalmente em países como a França, Japão, Estados Unidos, Alemanha, Suécia, Espanha, China, Rússia, Coréia do Sul, Paquistão e Índia, entre outros”.

O site da empresa segue explicando que “segundo a WNA (Associação Nuclear Mundial, da sigla em Inglês), hoje, 14% da energia elétrica no mundo, é gerada através de fonte nuclear e este percentual tende a crescer com a construção de novas usinas, principalmente nos países em desenvolvimento (China, Índia, etc.). Os Estados Unidos, que possuem o maior parque nuclear do planeta, com 104 usinas em operação, estão ampliando a capacidade de geração e aumentando a vida útil de várias de suas centrais. França, com 58 reatores, e Japão, com 50, também são grandes produtores de energia nuclear, seguidos por Rússia (33) e Coréia do Sul (21)”.

É importante ressaltar que o processo de produção de energia nuclear em usinas ocorre através de uma fissão nuclear controlada. Bem diferente do que ocorre no caso do uso dessa energia como armamento, onde a reação ocorre de forma descontrolada.

Outra forma de uso da energia proveniente de materiais radioativos se enquadra nos processos de radiação ionizante utilizados, sobretudo, em técnicas medicinais. Exames de cintilografias, Raios-X, tomografias computadorizadas e radioterapia para pacientes com câncer são exemplos clássicos.

O uso de traçadores radioativos pode ser extremamente útil à agricultura. O Conselho Nacional de Energia Nuclear (CNEN), através de apostila educativa sobre aplicações da energia nuclear [2], explica que isso pode ser feito da seguinte maneira:

“É possível acompanhar, com o uso de traçadores radioativos, o metabolismo das plantas, verificando o que elas precisam para crescer, o que é absorvido pelas raízes e pelas folhas e onde um determinado elemento químico fica retido. Uma planta que absorveu um traçador radioativo pode, também, ser ‘radiografada’, permitindo localizar o radioisótopo. Para isso, basta colocar um filme, semelhante ao usado em radiografias e abreugrafias, sobre a região da planta durante alguns dias e revelá-lo. Obtém-se o que se chama de autorradiografia da planta”.

O mesmo material educativo do CNEN ainda explica como esses traçadores podem combater pragas agrícolas:

“A técnica do uso de traçadores radioativos também possibilita o estudo do comportamento de insetos, como abelhas e formigas. Ao ingerirem radioisótopos, os insetos ficam marcados, porque passam a “emitir radiação”, e seu “raio de ação” pode ser acompanhado. No caso de formigas, descobre-se onde fica o formigueiro e, no caso de abelhas, até as flores de sua preferência. A ‘marcação’ de insetos com radioisótopos também é muito útil para eliminação de pragas, identificando qual predador se alimenta de determinado inseto indesejável. Neste caso o predador é usado em vez de inseticidas nocivos à saúde”.

Como funciona uma Usina Nuclear?

Mais uma vez, tomamos para nossa explicação o exemplo apresentado pela Eletronuclear. Ela nos explica que “a fissão dos átomos de urânio dentro das varetas do elemento combustível aquece a água que passa pelo reator a uma temperatura de 320 graus Celsius. Para que não entre em ebulição – o que ocorreria normalmente aos 100 graus Celsius -, esta água é mantida sob uma pressão 157 vezes maior que a pressão atmosférica”.

A empresa segue explicando que “o gerador de vapor realiza uma troca de calor entre as águas deste primeiro circuito e a do circuito secundário, que são independentes entre si. Com essa troca de calor, a água do circuito secundário se transforma em vapor e movimenta a turbina - a uma velocidade de 1.800 rpm - que, por sua vez, aciona o gerador elétrico. Esse vapor, depois de mover a turbina, passa por um condensador, onde é refrigerado pela água do mar, trazida por um terceiro circuito independente. A existência desses três circuitos impede o contato da água que passa pelo reator com as demais”.

Qual é o contexto histórico do desenvolvimento e do uso da energia nuclear?

O desenvolvimento da energia nuclear para uso da sociedade contemporânea é produto do trabalho de cientistas como Ernest Rutherford, Albert Einstein, Enrico Fermi, Ida Noddack, Otto Hahn, Fritz Strabmann, Lise Meitner e Otto Frisch.

O site Brasil Escola [3] nos explica que os “primeiros resultados da divisão do átomo de metais pesados, como o urânio e o plutônio, foram obtidos em 1938. A princípio, a energia liberada pela fissão nuclear foi utilizada para objetivos militares. Posteriormente, as pesquisas avançaram e foram desenvolvidas com o intuito de produzir energia elétrica. No entanto, armas nucleares continuam sendo produzidas através do enriquecimento de urânio”.

As tecnologias que envolvem a produção de energia nuclear são bastante sofisticadas e consideradas compatíveis com os níveis tecnológicos da terceira revolução industrial. A ampliação do uso da energia nuclear, contudo, ocorreu de forma significativa ao longo da década de 1970 quando duas crises energéticas geradas pelo forte aumento dos preços do petróleo impuseram investimentos na busca e na consolidação de fontes energéticas alternativas ao petróleo, entre as quais, a matriz nuclear. Tais crises encontram raízes em instabilidades políticas no Oriente Médio, com a Guerra do Yom Kippur, para a crise de 1973, e com a Revolução Iraniana, para a crise de 1979.

Como ocorre o processo de enriquecimento de urânio?

O material didático do CNEN sobre energia nuclear [4] explica que “o processo físico de retirada de urânio-238 do urânio natural, aumentando, em consequência, a concentração de urânio-235, é conhecido como Enriquecimento de Urânio. Se o grau de enriquecimento for muito alto (acima de 90%), isto é, se houver quase só urânio-235, pode ocorrer uma  reação  em  cadeia  muito  rápida, de difícil controle, mesmo para uma quantidade relativamente pequena de urânio, passando a constituir-se em uma  explosão:  é  a  ‘bomba atômica’”.

E explica ainda que “foram desenvolvidos vários processos de enriquecimento de urânio, entre eles o da Difusão Gasosa e da Ultracentrifugação (em escala industrial), o do Jato Centrífugo (em escala de demonstração industrial) e um processo a Laser (em fase de pesquisa). Por se tratarem de tecnologias sofisticadas, os países que as detêm oferecem empecilhos para que outras nações tenham acesso a elas”.

Como os Estados se organizaram para elevar a segurança nuclear internacional?

Em julho de 1957 foi criada a Agência Internacional de Energia Atômica, com sede em Viena, na Áustria, inicialmente com 56 Estados-membros, e que contava com 155 membros em outubro de 2012. Essa agência foi criada para ser uma entidade global voltada para a promoção da cooperação no campo nuclear e para estimular a criação e o uso de tecnologias nucleares pacíficas e seguras.

No ambiente da Guerra Fria, em meio à desenfreada corrida armamentista, as potências nucleares propuseram, em 1968, um Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). Os Estados Unidos, a antiga União Soviética, a França, o Reino Unido e a China manteriam seu direito a armas nucleares e os demais países se submeteriam à proibição internacional de produção dessas armas.

De início, o tratado teve poucas adesões, afinal ele legitima uma enorme diferença de forças entre os Estados. Atualmente possui 189 signatários, entre os quais o Brasil e o Irã. Índia, Paquistão e Israel não são Estados-membros desse tratado. A Coreia do Norte se retirou do TNP em 2003.

Por que muitos países desconfiam do Programa Nuclear do Irã?

O Irã é um país persa do Oriente Médio. Sua política externa foi reordenada após a revolução teocrática que conduziu os aiatolás xiitas ao poder em 1979. Habitualmente, as lideranças iranianas se pronunciam contra a existência de Israel, Estado criado pelos seguidores do judaísmo no espaço da Palestina, que há muitos séculos era habitado por muçulmanos e que se converteu em território amplamente disputado por esses grupos.

Nesses pronunciamentos contra Israel, é comum ocorrerem ameaças de ataques ao Estado dos judeus, o que deixa o programa nuclear iraniano sob suspeita, pois sabe-se que o país, embora seja membro da Agência Internacional de Energia Atômica e do TNP, possui a tecnologia de enriquecimento de urânio e impõe duros limites à fiscalização de seu programa nuclear.

Por que muitos ambientalistas são contrários ao uso da energia nuclear?

Muitos ambientalistas são contrários à energia nuclear pois sua produção é uma atividade que envolve sérios riscos ambientais. Os funcionários das usinas devem submeter-se a rigorosos protocolos de segurança pois o contato com a radioatividade possui elevado potencial de contaminação, podendo levar a morte por câncer.

Os resíduos da produção, embora tenham baixo volume, são altamente radioativos, o que exige um enorme rigor em seu manejo e soluções muito seguras para o seu despejo. Além disso, mesmo com elevados investimentos em segurança, a atividade envolve o risco de vazamentos e explosões, cujas consequências para a sociedade e o meio ambiente são, em geral, catastróficas.

Apresar disso, alguns ambientalistas muito preocupados com o aquecimento global, como o famoso James Lovelock, da célebre tese Gaia, defendem que a matriz nuclear é indispensável por afetar muito pouco a atmosfera com emissões de gases-estufa, que provêm, fundamentalmente, dos insumos fabricados para serem utilizados na produção de energia nuclear. Ou seja: são emissões indiretas.

Quais foram as principais catástrofes mundiais ligadas à radioatividade até 2011?

Além do uso das bombas nucleares em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, ocorreram acidentes nucleares que marcaram para sempre a história da humanidade. Entre eles destacam-se as explosões em Chernobyl (1986) e Fukushima (2011), ambos classificados, segundo a Wikipédia [5] com grau 7 na escala INES (Escala Internacional de Acidentes Nucleares). Um acidente com risco gerado para espaços fora do local de ocorrência (grau 5) foi o da usina de Three Mile Island, nos Estados Unidos.

Além desses acidentes, a Agência Internacional de Energia Atômica possui registros de centenas de anomalias (grau 1), incidentes (graus 2 e 3) e de alguns acidentes com risco no local ocorrido (grau 4).

Quais são as principais vantagens e desvantagens da energia nuclear?

Entre as vantagens destacam-se as seguintes: é uma matriz de alta produtividade pois um baixo volume de matéria-prima gera muita energia; não gera alta emissão de gases estufa; não gera grandes alagamentos para a formação de represas; não depende de condições ambientais como sol, chuvas ou ventos para sua instalação; seu combustível é basicamente o urânio natural, que pode ser reprocessado (através de enriquecimento) para ser reutilizado; e seus subprodutos podem ser reaproveitados, como é o caso do Plutônio, que serve como combustível de satélites.

Entre as desvantagens destacam-se as seguintes: é uma matriz energética que possui alto custo de construção e operação de suas usinas; exige a manipulação de materiais altamente tóxicos; e tem elevado risco ambiental em caso de vazamentos ou explosões de seus reatores.


REFERÊNCIAS:


[2] Conselho Nacional de Energia Nuclear (Apostila Educativa sobre Aplicações da Energia Nuclear): http://www.cnen.gov.br/ensino/apostilas/aplica.pdf


[4] Conselho Nacional de Energia Nuclear (Apostila Educativa sobre Energia Nuclear): http://www.cnen.gov.br/ensino/apostilas/energia.pdf