domingo, 21 de agosto de 2011

"ENTRE RIOS" - DOCUMENTÁRIO SOBRE EXPANSÃO URBANA DA CIDADE DE SÃO PAULO

Quais são os limites da intervenção humana sobre o espaço? O crescimento das cidades deve ser planejado a serviço de quem? Quais as razões para a adoção do rodoviarismo individualista como nosso modelo essencial de transporte nas metrópoles?

É possível produzir um desenvolvimento urbano pautado nos preceitos da sustentabilidade, desenvolvendo a vida econômica e social garantindo o respeito ao meio ambiente?

O documentário "Entre Rios", de 2009, produzido como trabalho de conclusão do curso de bacharelado em audiovisual do Senac São Paulo, dirigido por Caio Silva Ferraz, aborda algumas dessas questões tomando como foco a expansão urbana da cidade de São Paulo.

O filme explica como a elite paulistana buscou transformar a cidade em uma metrópole europeia ou ainda numa espécie de "Chicago da América do Sul", alterando os cursos dos seus rios, desmatando suas várzeas, aterrando, loteando e vendendo as áreas de suas margens dando vez à especulação imobiliária.

"A urbanização de São Paulo foi uma coisa tão violenta que ocupou o lugar do rio. Então, enchente é coisa que nós inventamos. Ela é produto da Urbanização", disse a professora Odete Seabra, do departamento de Geografia da FFLCH-USP.

"Entre Rios" ressalta o fato da urbanização ter priorizado a abertura de espaços para consolidação do automóvel de passeio como modelo de transporte às custas da precariedade dos transportes de massa, num evidente processo de modernização conservadora em oposição à uma modernização progressista.

E apresenta importantes depoimentos de especialistas nas áreas relacionadas ao tema da urbanização, além da já citada Professora Odete Seabra, como Professor Nestor Goulart Reis, do Departamento de História da Arquitetura da FAU-USP; Professor Alexandre Delijaicov, do Departamento de Projeto da FAU-USP; Professor Marco Antônio Sávio, do Departamento de História da UFU; e Professor Mario Thadeu de Barros, do Departamento de Hidráulica da POLI-USP.

O filme, com cerca de 25 minutos, é uma bela aula de Geografia Urbana! Aproveite!








ENTRE RIOS from Caio Ferraz on Vimeo.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A DOUTRINA MONROE E O DESTINO MANIFESTO

Os Estados Unidos da América possuem a quarta maior extensão territorial do planeta e o processo de formação do seu território, marcado por uma imensa expansão de sua área, ocorreu sob os fundamentos teóricos e ideológicos da Doutrina Monroe e do "Destino Manifesto".

O país que proclamou a independência em 1776 tinha apenas 13 estados, as até então chamadas 13 colônias que haviam se insurgido contra o domínio inglês. Atualmente são 50 estados ocupando área quase dez vezes maior que a inicial.

A expansão projetada desde os tempos da colonização ganhou força com a independência. O Tratado de Paris, de 1783, definiu as fronteiras dos Estados Unidos reconhecidas pela ex-metrópole, o Reino Unido, incluindo as áreas ao sul dos Grandes Lagos, entre os rios Mississipi e Ohio. Dali partiria a "Marcha para o Oeste" para consolidar as fronteiras atuais.

No início do século 19, Napoleão exige o território da Lousiana, que pertencia à Espanha e incluía o porto de Nova Orleans, fundamental para o livre-comércio dos Estados Unidos. Com receio do expansionismo napoleônico, os americanos pagam-lhe 15 milhões de dólares pelas terras e dobram seu território num acordo em 1803.

Vinte anos depois, o então presidente dos Estados Unidos, James Monroe, num discurso histórico em que projeta a hegemonia geopolítica dos Estados Unidos no continente americano, profere a sentença clássica: "América para os americanos". O recado foi claro e direto para as potências europeias:

"Julgamos propícia esta ocasião para afirmar, como um princípio que afeta os direitos e interesses dos Estados Unidos, que os continentes americanos, em virtude da condição livre e independente que adquiriram e conservam, não podem mais ser considerados, no futuro, como suscetíveis de colonização por nenhuma potência européia [...]"

A América se descolonizava naquele início de século 19. Revolução Haitiana (1791-1804); Independência da Argentina (1810-1816); Independência do México (1810-1821); Independência do Brasil (1822). A Doutrina Monroe define a descolnização da América como processo irreversível e, claro, justificaria a expansão territorial através de aquisições ou guerras de territórios controlados por europeus na América.

James Monroe

Se a América era para os americanos, não haveria razão para que europeus mantivessem posses territoriais no novo mundo. Assim, os americanos ainda buscariam controlar os territórios do Oregon e do Alasca, ampliando ainda mais a abrangência do seu território.

A ocupação das terras conquistadas foi estimulada e viabilizada por imensas correntes migratórias. A descberta de ouro na região da califórnia em 1848 - território anexado do México após guerra com a assinatura do Tratado de Guadalupe Hidalgo - atraiu milhares de pessoas para a Costa Oeste do país.

Outro grande evento que atraiu pessoas foi o Homestead Act (Lei de Propriedade Rural - 1862). A Lei garantia a propriedade de terras de 130 acres de extensão para quem nelas se fixassem e produzissem ininterruptamente por cinco anos.

Feita em meio à Guerra de Secessão (1861-1865), a Lei excluía desse direito os que já tivessem empenhado armas contra o governo dos Estados Unidos e garantia o acesso à terra apenas àqueles que fossem qualificados como "cidadãos desejáveis", o que incluía majoritariamente pessoas do perfil "WASP", ou seja, brancos, anglo-saxônicos e protestantes.

No entanto, todo esse processo de expansão territorial e colonização foi revestido de um certo caráter missionário através da ideologia do Destino Manifesto. A ideia central consiste na "predestinação divina". Segundo a concepção do Destino Manifesto, Deus desejava que os norteamericanos dominassesm as terras da América do Norte.

Progresso Americano, de John Gast. Alegoria do Destino Manifesto.

Essa concepção foi largamente utilizada na prpaganda expansionista americana nos anos 40 do século 19. A expressão "Destino Manifesto", cunhada pelo jornalista John O'Sullivan, foi usada pela primeira vez em 1844 como argumento para que o congresso estadunidense aceitasse a propsta de anexação da República do Texas e depois em 1845 na defesa da anexação completa das terras do Oregon.

Do ponto de vista territorial, o Destino Manifesto apoiou-se na Doutrina de Naturalização das Fronteiras que definia limites naturais para a posse do território. Desse modo, legitimou-se a ideia de que as terras ocupadas deveriam estender-se de um oceano ao outro, do Atlântico ao Pacífico, ou seja, os limites seriam naturais.

Entende-se esse processo como "naturalização" das fronteiras quando partimos do pressuposto que as fronteiras são sempre artificiais, pois são construções humanas. Mas podem ser naturalizadas quando usam elementos naturais tais como oceanos, rios, linhas de cristas etc. como marcos naturais de fronteiras.

O crescimento populacional acelerado da época, potencializado pela intensa entrada de imigrantes, somou-se ao argumento da predestinação divina na defesa do expansionismo. O'Sullivan argumentou assim:

"Nosso destino manifesto atribuído pela Providência Divina para cobrir o continente para o livre desenvolvimento de nossa raça que se multiplica aos milhões anualmente."

É notável a presença da noção de raça nos ideais expansionistas. Isso porque o Destino Manifesto é acompanhado do sentimento de superioridade racial. A expansão dos domínios territorias enfrentou a oposição dos nativos indígenas que sofreram com o extermínio praticado pelos norteamericanos. Cada vitória contra um povo indígena inflava ainda mais o sentimento de superioridade racial.

O Destino Manifesto teve ainda influência sobre o pensamento do geógrafo alemão Friedrich Ratzel e uma de suas principais teorias, a do "Espaço Vital". Ratzel impressionu-se bastante com os resultados da propaganda do Destino Manifesto e sua teoria foi, no século 20, reinterpretada e distorcida por nazistas para sustentar o expansionismo alemão com base na noção de superioridade racial ariana.

A Doutrina Monroe e o Destino Manifesto ainda serviram de instrumentos idelógicos para justificar o expansionismo sobre territórios espanhóis como Cuba e Porto Rico e para a anexação do Havaí. O lema "América para os americanos" influenciou ainda na política do Big Stick, nos vultuosos investimentos em indústrias e terras na América Latina, e na busca da presença cultural através do cinema.

Golpes militares durante a Guerra Fria são reflexos da tentativa de garantir o espaço latinoamericano como área de influência direta no contexto bipolar do conflito geopolítico contra a União Soviética. O uso das engrenagens do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial para fins de recuperação econômica ds países latinamericanos em crise e o Consenso de Washington também são manifestações recentes dessa política.

O crescimento de econonomias emergentes como o Brasil e o México nesse espaço latinoamericano e a aproximação da América do Sul com a China e a Europa são vistos como desafios à manutenção dessa ordem de vínculos que a Doutrina Monroe construiu e se esmerou para preservar.

sábado, 13 de agosto de 2011

O VENENO ESTÁ NA MESA

O filme do diretor Silvio Tendler devassa um ponto crucial e dramático da produção de alimentos no Brasil: o uso intensivo de agrotóxicos para fins de aumento da produtividade agrícola. Esses defensivos agrícolas (na verdade, ofensivos agrícolas), herbicídas, são venenos chegam às mesas dos brasileiros e de todos que consomem nossos produtos exportados.

E por trás dessa violência que atenta contra a dignidade da pessoa humana estão as engrenagens do sistema capitalista preocupado em produzir mais gastando menos e evitando perdas para maximizar os lucros da atividade.

Veja o filme clicando neste link e conheça mais sobre os meandros dessa questão.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O MUNDO SEGUNDO A MONSANTO

A maior corporação entre as dedicadas à produção de trangênicos e insumos para a agropecuária não tem uma relação saudável com as pessoas, o meio ambiente, os animais e com a verdade.

Com 90% do mercado mundial, A Monsanto, indústria química e de engenharia genética estadunidense, é denunciada no filme de Marie-Monique Robin por praticar absurdos como:

Propaganda enganosa sobre a biodegradabilidade de produtos; exploração de tráfico de influência no alto-escalão do governo americano; despejo de resíduos químicos letais em áreas habitadas e nos ecossistemas de suas plantas industriais; entre outras atrocidades.

A melhor forma de entender como tudo isso é feito pela Monsanto é ver o filme "O Mundo Segundo a Monsanto", que você pode ver agora.

sábado, 6 de agosto de 2011

MECANISMOS DA GUERRA CAMBIAL E A CILADA DO EURO

Mecanismos da Guerra Cambial

Uma das principais formas de se garantir o crescimento de uma economia e a manutenção de suas finanças em níveis saudáveis é ganhar mais e gastar menos, uma receita muito popular. Contudo existem diversas maneiras de produzir esse efeito, entre as quais destaco as seguintes:

- Arrecadar mais impostos e reduzir despesas internas.
- Exportar mais e importar menos.

Quanto ao primeiro grupo de medidas, fica evidente que a parte mais prejudicada nesse tipo de ajuste é a população, que pagará impostos mais altos e verá seu governo reduzir os gastos com educação, saúde, habitação, transportes e outros setores importantes para a sociedade.

O segundo grupo de medidas encontra obstáculos diferentes afinal não se muda o padrão de exportações e importações da noite para o dia.

Para exportar mais é preciso gerar um ambiente propício à exportação e isso depende de infraestrutura de transporte, de armazenagem de produtos e de comunicações. Depende também da carga tributária, dos custos espaciais (aluguel ou compra de terrenos, preservação ambiental etc.) e dos custos de mão-de-obra.


Fonte: http://migre.me/5pQw2

Essas condições não são criadas em pouco tempo mas às custas de investimentos de longo prazo ou de pressões sobre os trabalhadores, que veem sua legislação flexibilizada e seus sindicatos incapazes de defendê-los, e sobre o meio ambiente, quase sempre prejudicado sem proteção ou reparação de danos.

Reduzir as importações seria uma opção mais rápida com a possibilidade de se realizarem bloqueios às importações por decreto. No entanto, essa prática foge aos princípios que regulam o mercado internacional atual, configurando forte protecionismo, podendo, inclusive, ser impedida aos membros da Organização Mundial do Comércio através de sanções do organismo.

Nesse contexto, a subvalorização cambial, ou seja, a desvalorização da moeda, se apresenta como um mecanismo que cria artificialmente as condições para elevar as exportações e reduzir as importações. Para entender como isso é possível, tomaremos dois cenários de comparação entre o Real (moeda brasileira) e o Dólar (moeda estadunidense).

Cenário 1: Um dólar equivale a 2 reais, ou seja, o real está valorizado.

Cenário 2: Um dólar equivale a 4 reais, ou seja, o real está desvalorizado.

Observe que o Brasil já viveu essas duas situações em momentos diferentes nos últimos 10 anos. E tomemos, primeiramente, o ponto de vista de um exportador brasileiro.

Se o produto de um exportador brasileiro tem custo final de 20 mil reais, no cenário 1, sua produção vale 10 mil dólares. Já no cenário 2, sua produção valeria apenas 5 mil dólares, ou seja, um valor menor e muito mais competitivo. Conclusão: a moeda desvalorizada facilita as exportações.

Tomemos, agora, o ponto de vista de um importador brasileiro. Se o produto importado custa 20 mil dólares, no cenário 1 ele custaria 40 mil reais. Já no cenário 2, com real desvalorizado, o mesmo produto custaria 80 mil reais, ou seja, um preço bem menos competitivo. Conclusão: a moeda desvalorizada dificulta a importação.

Diante da crise financeira que se arrasta desde 2008, a China, os Estados Unidos e alguns países europeus de fora da Zona do Euro adotaram mecanismos que criam e recriam a subvalrização cambial de suas respectivas moedas. O objetivo desses países é claro: elevar a balança comercial ganhando mercados e reduzindo importações.


Fonte: http://migre.me/5pQ7Q

O governo brasileiro já acusou diversas vezes esses países de praticarem uma "Guerra Cambial", que afeta diretamente a economia brasileira, especialmente os seus setores exportadres. Esse ambiente "corrosivo" (ver link de "Guerra Cambial") levou o governo brasileiro a lançar uma política industrial apresentada como uma "cruzada" contra o ambiente comercial predatório.

Segundo matéria publicada no G1, a política industrial lançada pelo governo "inclui a devolução de impostos e financiamento a exportadores, desoneração de folha de pagamento para setores intensivos em mão de obra e uma política tributária especial para montadoras. O programa é anunciado num momento em que vários países desvalorizam suas moedas na ânsia por aumentar sua competitividade em uma economia enfraquecida, sobretudo nos países mais ricos".

Cabe ressaltar que em economias e em setores muito dependentes da importação, a subvalorização cambial pode ser desastrosa ao encarecer produtos essenciais como alimentos ou medicamentos importados, por exemplo, ou restringir a importação de maquinário industrial determinando desaceleração da produção industrial e desemprego, consequentemente.


A Cilada do Euro

O mecanismo da subvalrização cambial não está à disposição dos países que compõem a Zona do Euro. Como a moeda é comunitária, não cabe a um país ou outro resolver suas crises financeiras internas manipulando o valor do Euro. Quem controla a moeda comum da União Europeia é o Banco Central Europeu, em Frankfurt.

Nesse caso as alternativas que tem se apresentado aos países em crise como a Grécia, a Irlanda, a Espanha, a Itália e Portugal tem sido:

1 - recorrer à ajuda interna de outros membros do bloco com economias mais sólidas, como a Alemanha, a França e o Reino Unido. Uma situação que cria a desconfortável sensação para alemães franceses e britânico de estarem "sustentando" economias pobres.

2 - Recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que foi criado justamente para oferecer créditos de curto prazo para fins de recuperação econômica.


Fonte: http://migre.me/5pQhH

No entanto, a receita tradicional do FMI baseia-se na aplicação do primeiro grupo de medidas que mencionamos aqui, ou seja, aumentar impostos e cortar gastos. As populações desses países já sabem que vão viver em recessão por muito tempo com efeitos sociais muito fortes. Desemprego, dificuldade de acesso à educação, saúde, moradia estão entre os principais problemas a serem o enfrentados por eles.

Não é em vão que estão nas ruas a protestar.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A CRISE ECONÔMICA DOS ESTADOS UNIDOS

A situação econômica dos Estados Unidos inspira muitos cuidados. Como desdobramento da crise financeira que se arrasta desde 2008, quando bancos quebraram, empresas de grande porte faliram ou tiveram sua falência evitada pelo governo, a dívida que o país ostenta atingiu seu limite.

A solução imediata proposta pelo governo de Barack Obama para evitar o default, ou seja, o calote aos seus credores, foi aumentar o teto do endividamento do governo de 14,3 trilhões de dólares para até 16,7 trilhões. Contrair mais empréstimos para pagar no futuro as dívidas que estão vencendo agora.

Pinto&Chinto. La Voz de Galícia. 02/08/2011


Mas a oposição republicana fez desse processo o seu momento político. Impôs a Obama o compromisso de redução dos gastos domésticos em aproximadamente 1 trilhão de dólares e, numa batalha de nervos, fez com que esse aumento do teto da dívida fosse aprovado somente no último dia antes do calote.

Certamente a situação atingiu esse limite pois "o crescimento da dívida ultrapassou a expansão econômica geral e a arrecadação fiscal" do país, como explicou a agência chinesa de avaliação de risco Dagong Global, ao rebaixar a nota dos Estados Unidos de A+ para A.

O ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, ironizou a decisão da agência chinesa e apresentou uma visão diferente daquela da Dagong Global quanto à solidez da economia estadunidense, de acordo com a reportagem no site da Folha de São Paulo:

"Eles deviam tomar cuidado, porque o principal credor dos Estados Unidos é a China e eles estão rebaixando os títulos que eles possuem. Não é o caso de rebaixamento dos Estados Unidos, porque do ponto de vista financeiro, (o país) vai continuar sólido e cumprindo suas obrigações".

Contudo, a questão que deve ser posta para reflexão é: será que tais medidas aprovadas serão eficientes e suficientes para sanar as deficiências da economia americana, incluindo efeitos de longo prazo, ou tornarão o problema do endividamento um desafio ainda maior para as contas do país?

domingo, 31 de julho de 2011

A REVOLUÇÃO DOS COCOS

A Geopolítica do espaço da Oceania, das terras do Pacífico, é muito pouco abordada nos ensinos fundamental e médio.

O filme que trago hoje é um excelente exemplo das relações imperialistas de dominação política, econômica e cultural de territórios na Oceania. Trata-se de "Revolução dos Cocos", do diretor Dom Rotheroe, que exibe a situação da ilha de Bougainville, na Papua Nova Guiné.

A obra mostra como o imperialismo - de forma bastante semelhante ao que fez na África - subjugou um povo, implantou o cristianismo e estruturou empreendimentos mineradores que exploraram de forma insustentável o território e seu ambiente.

Revela também os meandros da luta dos Bougainvilleanos pela independência e contra os agentes dessa dominação e as formas de sobrevivência e produção desenvolvidas em função do bloqueio territorial a que foram submetidos.

É nesse contexto que o fruto do coqueiro surge como produto essencial à sobrevivencia desse povo confinado, tanto como alimento quanto como medicamento, matéria-prima para artesanato e em muitas outras formas de uso, inclusive energéticas.

Vale muito cada minuto de sua duração. Aproveite!



segunda-feira, 4 de abril de 2011

OS COMPLEXOS REGIONAIS BRASILEIROS

O conceito de Região é um dos mais importantes da Geografia. Abordada por diversas correntes do pensamento geográfico, a região é uma subdivisão do espaço definida a partir de critérios objetivos pré-estabelecidos por quem faz a regionalização.

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Existem regionalizações formais e informais. Há, ainda, regionalizações administrativas e científicas. Para entendê-las melhor, analisaremos as principais formas de divisão regional do Brasil.

A divisão oficial do Brasil, feita pelo IBGE, é um exemplo de divisão formal e administrativa. Ela contém as cinco Macrorregiões do país: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Essa divisão baseia-se nas características naturais do território nacional (relevo, clima) mas também se dá em função da composição social e dos atributos econômicos.

Obedecendo os limites das fronteiras entre os estados da federação, essa divisão regional facilita a compreensão das realidades nacionais a partir das informações estatísticas produzidas e agrupadas por cada estado. Esses dados são usados por prefeitos, governadores e pela presidência para planejar as ações governamentais sobre os territórios.

Sendo muito genérica a divisão do Brasil em macrorregiões, o IBGE elaborou subdivisões mais profundas que permitissem o trabalho de planejamento territorial de forma mais eficiente. Assim surgem as Mesorregiões e as Microrregiões.

As mesorregiões se diferenciam pela estrutura produtiva ou por elementos naturais muito marcantes. As Microrregiões são diferenciadas essencialmente pelas formas dominantes de uso do solo e pela relevância de um centro urbano regional.

Um exemplo de divisão informal e científica do Brasil é a divisão em Complexos Geoeconômicos Regionais. Contemplando as características econômicas do território, inclusive os processos históricos que marcaram sua apropriação, o geógrafo brasileiro Pedro Pinchas Geiger elaborou uma divisão que não obedece aos limites dos estados do Brasil.


Ela pode ser definida como uma divisão informal já que não possui um caráter oficial e pode ser definida como científica na medida em que sua elaboração obedece os rigores da análise geoeconômica do território brasileiro e sua apropriação histórica, como já assinalamos. Nela não existem 5 macrorregiões mas 3 complexos regionais: Amazônia, Nordeste e Centro-Sul.

A Amazônia coincide, essencialmente, com a Amazônia Legal, incluindo o norte do estado do Mato Grosso e o oeste do estado do Maranhão, ou seja, áreas que não pertencem à macrorregião norte.

Além da particularidade ecogeográfica, a região é marcada pelos menores níveis de industrialização do país. Destacam-se as culturas de subsistência, o extrativismo vegetal, os grandes projetos de mineração e a expansão recente - e devastadora - da fronteira agrícola nacional.

O complexo do Nordeste abarca todos os estados da macrorregião nordestina - exceto o oeste maranhense - e inclui a mesorregião Norte de Minas (MG), onde as características físicas, sociais e econômicas se assemelham muito mais com o sertão nordestino do que com o sudeste industrializado.

Subdividido em Zona da Mata, Agreste, Sertão e Meio-Norte,o complexo do Nordeste tem múltiplas características e grande diversidade interna impostas pela natureza e pela apropriação histórica do espaço nordestino.

O complexo do Centro-Sul reúne os estados do sul, sudeste e centro-oeste, exceto as frações já mencionadas que pertencem aos complexos da Amazônia e do Nordeste. Trata-se do complexo onde a presença e os desdobramentos da influência das indústrias são maiores. O eixo São Paulo - Rio de janeiro - Minas Gerais forma o centro pulsante da atividade industrial, a core area do país.

A industrialização peculiar da região sul e a expansão da agroindústria pelo oeste paulista e centro-oeste completam o painel com os principais componentes econômicos desse que é o maior e mais diversificado complexo regional brasileiro.

Se a divisão oficial do Brasil em cinco macrorregiões é genérica, a divisão em complexos regionais é ainda mais. No entanto representa um esforço notável de análise e síntese das principais características histórico-econômicas do território brasileiro.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A passagem dos modos de produção artesanal e manufatureiro para o modo de produção industrial é, certamente, um processo transformador da realidade mundial, verdadeiramente digno de ser tratado como uma revolução. Até então, a evolução técnica das sociedades era muito lenta e com a indústria torna-se muito mais rápida e complexa. Para a produção, a grande mudança está na forte aceleração que o processo produtivo sofreu e na conseqüente multiplicação da capacidade produtiva.

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Essa passagem ocorre em uma data indeterminada, por volta de 1760, ou seja, na segunda metade do século 18, em terras da Inglaterra. Isso porque, naquele contexto histórico, os ingleses reuniram um conjunto de condições básicas - além do desenvolvimento tecnológico e do empreendedorismo - que permitiram a ocorrência das mudanças que criaram o advento da Grande Indústria.

Entre essas condições que levaram ao pioneirismo inglês destacam-se a disponibilidade de capital; a existência de reservas de carvão mineral no país; a presença de mão-de-obra livre e desempregada em grande volume após a expulsão de camponeses com os cercamentos dos campos; e a disponibilidade de matéria-prima para as primeiras indústrias, como a lã produzida no país e o algodão importado, que abasteceram a indústria têxtil.

Num primeiro momento a produção industrial gerava produtos de primeira necessidade como roupas, calçados, ferramentas, materiais de construção, alimentos e utilidades domésticas. Ao longo do processo, foram desenvolvendo-se as indústrias de base, especialmente as metalúrgicas e siderúrgicas, quando, já no início do século 19, a demanda de materiais metálicos vai além dos artefatos militares e se estende à construção das primeiras ferrovias.

O primeiro mercado consumidor foi o próprio mercado nacional inglês. Aos poucos os investimentos foram ampliados, com incentivos do Estado, viabilizando a busca de mercados além das fronteiras da Inglaterra, pondo em curso os primeiros passos da expansão imperialista. A mineração do carvão sustentou as necessidades energéticas das máquinas a vapor dentro das fábricas e dos navios e trens que circulavam com a produção para os novos pontos de produção e comércio.

Com condições técnicas em franca expansão, porém ainda bastante limitadas, transportes e comunicações eram processos caros. Por isso, pelo menos por algumas décadas, a organização espacial das grandes indústrias foi marcada pela concentração em pontos especiais, que reuniam o maior número de vantagens disponíveis, tais como mão-de-obra, energia, matéria-prima e mercado consumidor, para reduzir os custos dos fluxos.

Essa etapa do desenvolvimento do capitalismo se desenrola sob a égide do pensamento econômico liberal, sintetizado em Adam Smith. Para ele, a economia possuía uma “mão invisível” que fazia o trabalho de auto-regulação de modo que a intervenção regulatória do Estado seria desnecessária e acabaria por prejudicar o funcionamento da economia. O Estado poderia atuar como facilitador do desenvolvimento reduzindo entraves burocráticos e corrigindo as crises geradas por rupturas eventuais do equilíbrio econômico.

Outra marca do capitalismo nesse momento é a prática e a defesa da livre-concorrência. Ela seria fundamental pois favoreceria aqueles empreendedores que buscassem conquistar mercados fabricando produtos melhores por preços menores, o que seria ótimo para os consumidores. Mas rapidamente os novos industriais entenderam que isso era nocivo para eles e passaram a se associar em estratégias como cartéis e trustes formando oligopólios industriais, ou seja, uma situação onde poucas empresas dominam todo um ramo ou setor de mercado.

O desafio dos produtores industriais era sobreviver às ondas de evolução tecnológica dos produtos. Quando um conjunto de tecnologias encontrava aplicação produtiva, os industriais empreendedores percebiam uma rápida expansão dos seus lucros. Mas, quando essas tecnologias se disseminavam, a expansão cessava e havia estabilização. O surgimento de novas tecnologias provocava a queda dos lucros da comercialização dos produtos ultrapassados. Era preciso inovar, destruir velhas tecnologias e criar novas: a destruição criadora, imagem clássica cristalizada pelo economista austríaco Joseph Schumpeter, estudioso desses ciclos de desenvolvimento tecnológico.

Um dos traços mais importantes de todo esse processo revolucionário é o da exploração intensa do trabalho humano. Há relatos históricos de jornadas de 14 até 18 horas diárias de trabalho sem nenhum dia de descanso semanal; de agressão aos trabalhadores, que tinham remunerações baixíssimas; e de uso do trabalho infantil, que era preferido pelos industriais por as crianças ganharem menos, serem mais dóceis e menos resistentes a aprender o trabalho. Uma condição geral que remete à escravidão. Fica mais simples entender por que tantos europeus deixaram seus países no século 19 sabendo que as condições de trabalho e de vida eram essas.


Os trabalhadores se submetiam aos baixos salários em função dos altos níveis de desemprego nas cidades. Esse desemprego foi forjado na Inglaterra com a expulsão de camponeses para as áreas urbanas, formando o que Marx definiu como um “exército industrial de reserva”. Certamente a exploração dessa mais-valia – outro conceito de Marx, que representa a diferença entre o valor gerado pelo trabalho do operário e a quantia que ele recebe como salário – foi uma das principais fontes de lucro dos primeiros industriais do planeta. Os trabalhadores tinham muitos motivos pra se organizar em sindicatos e lutar por melhores salários e condições dignas de trabalho.

Por tudo isso, é importante destacar que a industrialização é, em essência, um processo que gera transformações excludentes na sociedade. No mínimo porque tira das mãos dos artesãos e passa para as mãos dos industriais o controle sobre as técnicas de produção; porque leva as primeiras potências industriais à colonização de novos territórios, na África e na Ásia, em busca de matéria-prima, mercados consumidores e espaços para o escoamento de seus capitais excedentes; porque conduz ao enriquecimento da burguesia industrial e à miséria de uma grande massa de operários excluídos.