domingo, 4 de novembro de 2007

NOVOS INVESTIMENTOS EM GOIÁS

Texto publicado originalmente em Geografias Suburbanas no dia 06/04/2007, às 05:30 AM.

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O caráter de sertão, lugar distante, fim do mundo, sempre marcou os espaços do interior do Brasil. Juscelino Kubitschek foi aclamado como louco ao decidir construir a cidade de Brasília no território do estado de Goiás. O que poucos sabem é que tal decisão já tinha sido tomada muito antes da campanha eleitoral de Nonô para presidência, em 1955. A construção da nova capital constava na lei brasileira desde a primeira constituição republicana promulgada em 1891. Nela já se dizia que a capital deveria ser construída no estado de Goiás. Além disso, a mudança da capital já tinha sido sugerida por José Bonifácio, em 1821, preocupado com a segurança da família real, que morava nas margens da Baía de Guanabara, um alvo fácil pra qualquer invasor que ultrapassasse a barreira das fortalezas de São João e Santa Cruz, nos extremos da Baía .

O que Nonô fez foi bater o martelo e prometer a construção da capital em Goiás, como mandava a lei. Ganhou muitos votos com isso já que o povo de Goiás e dos estados próximos viu nessa obra, de magnitude incomparável, uma bela oportunidade de empregos e dinamização econômica. E cumpriu-se a promessa apesar do endividamento que a grande empreitada gerou para os cofres públicos.

Atualmente o estado de Goiás tem sido alvo de investimentos importantes quem vêm gerando empregos e diversificando o panorama econômico local e regional. Os setores automobilístico, farmacêutico, energético, alimentício, de insumos agrícolas e de turismo, devem gerar um total de investimentos que pode passar de R$ 4 bilhões nos próximos dois anos, vindos em menor parte dos cofres públicos e, em sua maioria, de aplicações privadas.

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Na área automobilística, os investimentos estão sendo feitos pela Brasileira CAOA em conjunto com a Hyundai. Juntas elas instalaram uma montadora em Anápolis, inaugurada no início de 2007, promovendo um investimento de aproximadamente R$ 600 milhões. A fábrica é da brasileira CAOA que montará os produtos Hyundai, com absorção de tecnologia, e pagará royalties à indústria sul-coreana. Ainda nesse setor, a japonesa Mitsubishi está investindo R$ 180 milhões na fábrica que já possui na cidade de Catalão, no Sul do estado, na fronteira com São Paulo e Minas Gerais. Esta mesma cidade já possui uma montadora da John Deere e apresenta um PIB per capita de mais de R$ 20 mil, segundo os dados do IBGE, produzidos em 2003.

No setor farmacêutico o estado de Goiás tem merecido forte destaque. O Eixo Anápolis-Goiânia possui um pólo farmacêutico com pelo menos 23 empresas das quais a maioria é especializada na produção de genéricos. Desenvolvido com uma forte política de incentivos fiscais, esse pólo já é o terceiro maior do país, perdendo apenas para São Paulo e Rio de Janeiro. A possibilidade de explorar a produção de genéricos de pílulas anticoncepcionais e o vencimento de patentes de alguns medicamentos cria a viabilidade de participação em um filão do mercado que movimenta algo próximo a R$ 1,4 bilhão por ano, o que deve gerar investimentos de R$ 300 milhões no pólo farmacêutico goiano. Os estudantes do curso de farmácia devem encontrar empregos aos montes e com bons salários por lá. Na área de produção de remédios para animais, a empresa argentina Biogenesis vai investir R$ 10 milhões no Distrito Agro-Industrial de Anápolis (Daia).

No setor de insumos agrícolas o grande destaque é o investimento que está sendo projetado pela Copebrás, empresa sediada em Cubatão/SP, mas que possui duas unidades no estado de Goiás, uma no município de Ouvidor e outra no município de Catalão. A unidade de Catalão, fruto de um investimento de R$ 140 milhões, será aumentada e produzirá uma quantidade bem maior de fosfatos e sulfatos do que vem produzindo ultimamente. A produção dos fertilizantes agrícolas praticamente irá dobrar. O investimento na ampliação pode chegar a R$ 180 milhões.

No setor alimentício, a Perdigão, que já estava instalada a um custo de R$ 700 milhões em Rio Verde, sul do estado, pretende promover uma ampliação de suas instalações através de um investimento que deve ultrapassar a casa dos R$ 500 milhões. Com receita líquida de R$ 5,15 bilhões em 2005, a corporação de origem catarinense foi a primeira empresa brasileira de alimentos a lançar ações na bolsa de Nova York, em 2001, e em 2006 adquiriu 51% das ações da Batávia S.A., entrando no mercado de lácteos. A cidade de Rio Verde merece destaque quando se trata da expansão do agronegócio no cerrado brasileiro, já que lá se planta arroz, soja, milho, algodão, sorgo, feijão e girassol, além da criação de bovinos, suínos e da criação avícola, pela qual a Perdigão é responsável.

O turismo também é uma atividade que vem crescendo no estado, especialmente no que se refere a modalidade de ecoturismo no desfrute das águas termais. A proliferação de Resorts dinamiza o setor no estado. A Atlantica Hotels International, que administra as marcas das redes americanas Choice, Starwood e Carlson, está inaugurando cinco hotéis no Brasil, sendo que dois são em Caldas Novas, um em Rio Verde e um em Goiânia, totalizando R$ 84 milhões investidos em Goiás. Na cidade de Rio Quente, a Rio Quente Resort, que constitui o maior complexo hoteleiro e aquático do país, enfrentará essa concorrência de Caldas Novas ampliando seu complexo turístico através de um investimento da ordem de R$ 69 milhões. Rio Quente e Caldas Novas recebem a metade dos quase cinco milhões de turistas que visitam o estado todos os anos.

E, completando esse quadro sintético dos investimentos em Goiás, na área energética, até o fim de 2007, estão prometidas sete novas geradoras elétricas para o estado. O custo deve chegar a R$ 1,5 bilhão.

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Vamos fazer uma análise geoeconômica crítica desses números. Depois da última crise financeira que se estabeleceu no Brasil, em 1999, a quantidade e a diversificação dos investimentos realizados no país vêm crescendo vigorosamente. A segurança econômica está provocando uma queda vertiginosa no índice conhecido como “Risco-País”, que na época da disputa eleitoral entre Lula e Serra, havia atingido o teto histórico acima de 2000 pontos. O Brasil só ganhava da Argentina, mergulhada em profunda crise financeira, e do Afeganistão, em guerra contra os Estados Unidos. Uma observação: A Argentina perdia para o Afeganistão. Nesse início de abril de 2007, o índice atingiu o seu piso histórico, chegando à casa de 165 pontos, algo considerado baixo pelos especialistas. Com toda essa segurança, estabelecida através de uma política econômica bastante conservadora, os investimentos vão chegando ao Brasil, apesar da forte carga tributária mantida pela nossa política fiscal.

O estado de Goiás desponta entre os que mais cresceram nos últimos anos, ao lado da Bahia e do Espírito Santo. Todos esses investimentos são baseados numa agressiva política de incentivos fiscais. Vários tributos municipais e estaduais são eliminados com o objetivo de atrair esses vultuosos investimentos. A contrapartida política com a geração de empregos, mesmo que eles sejam poucos, é muito forte, por isso prefeitos e governadores não medem esforços para abraçar essa guerra fiscal, na disputa pela atração das empresas.

O governo federal, que se recusa a participar dessa guerra, eliminou a lei de incentivos fiscais federais retomando a cobrança dos impostos federais. Apenas a Zona Franca de Manaus foi preservada dessa retomada e, por isso, volta a dar sinais de fôlego, atraindo indústrias, o que não acontecia desde o governo Sarney, criador da lei de incentivos fiscais.

Essa guerra fiscal é o que o geógrafo Milton Santos chamava de “A Guerra dos Lugares”. As cidades (os lugares) buscam oferecer o maior número de vantagens comparativas para atrair indústrias, ainda que isso signifique que as grandes corporações podem escolher segundo seus critérios (maior lucro possível – é claro) quais espaços irão ocupar e, obviamente, explorar. Goiás topou essa exploração em favor do crescimento econômico e partiu, com muito vigor, pra essa guerra.

E até agora, está ganhando.

Um abraço solidário!

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