terça-feira, 30 de outubro de 2012

DESERTOS, DESERTIZAÇÃO E DESERTIFICAÇÃO

Esse texto visa apresentar respostas objetivas para dez questões relevantes que envolvem os temas apresentados em seu título. Aborda a dinâmica da Natureza e a interação do homem com o meio ambiente como agente causador de impactos. As questões que apresentamos aqui são as seguintes:

1) O que são desertos?
2) O que é desertização?
3) Como ocorre a desertização?
4) O que é desertificação?
5) Como ocorre a desertificação?
6) Quais são as principais consequências da desertificação?
7) Quais são os principais espaços que sofrem a desertificação no Mundo atualmente?
8) Quais são os principais espaços que sofrem a desertificação no Brasil atualmente?
9) Como evitar ou controlar o avanço da desertificação?
10) A desertificação é um processo reversível?

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O que são desertos?

Desertos são espaços onde os níveis de precipitação registrados são muito baixos, em geral até 250 mm anuais em média, e onde os níveis de evaporação superam os de precipitação.

A baixa presença de vapor d’água na atmosfera cria condições para uma elevada amplitude térmica (variação de temperatura) diária. O vapor d’água é um gás estufa, por isso, nas áreas úmidas, o calor do dia é bastante retido à noite. Já nos desertos, a pobreza em vapor d’água favorece a dissipação do calor na atmosfera, tornando as noites bem mais frias que os dias.

Como resultado disso, as paisagens desérticas costumam ter solos muito arenosos ou rochosos. A variação de temperatura induz a ocorrência da meteorização das rochas (uma forma de intemperismo físico), em que a sucessiva dilatação (que ocorre com o aquecimento durante o dia) e a contração (que ocorre com o resfriamento durante a noite) gera a fratura das rochas em blocos menores, o que garante o aspecto arenoso ou rochoso do solo.

As formas de vida são apenas aparentemente pouco diversificadas. As espécies se adaptam ao rigor do clima desértico. Os vegetais, em geral plantas xerófitas, são muito resistentes à seca e à alta salinidade. Encontram-se de forma dispersa no espaço, desenvolvem raízes profundas e armazenam água em seus caules, folhas e raízes. Apresentam espinhos que contribuem para a realização da fotossíntese evitando a perda de água para o meio por causa de seu formato aciculifoliado (folhas em forma de agulhas). Muitos animais mantêm hábitos noturnos e passam o dia protegidos dos intensos raios solares, escondidos na areia ou em tocas.

A maioria dos rios dos desertos tem caráter temporário. Surgem nos momentos de chuva e depois desaparecem. Como nos desertos as tempestades podem trazer grande volume de chuva concentrado em poucos minutos, caminhar pelo leito dos rios enquanto estão secos pode ser perigoso. É comum eles transbordarem em pouco tempo após o início das chuvas. Excetuando esses casos, os principais rios que cortam desertos têm nascentes em áreas não desérticas com chuvas regulares, como é o caso do rio Nilo.


O que é desertização?

Desertização é um processo natural em que um ambiente transforma-se em um deserto. Trata-se de um processo lento e que possui causas naturais independentes da ação humana.

Como ocorre a desertização?

A desertização é resultado de complexas interações entre a atmosfera, a litosfera, a hidrosfera e a biosfera. Os desertos que encontramos na Terra atualmente são formados por pelo menos um dos fatores, ou uma associação deles, a seguir:

- Desertos em zonas de alta pressão subtropical: essas áreas são caracterizadas pela descida dos ventos contra-alísios, que têm uma ação ressecante. Os ventos contra-alísios, ao descerem nas altas pressões subtropicais, dispersam moléculas e dificultam a subida do vapor d’água, que é fundamental para que haja condensação e chuvas.

- Desertos em áreas à sotavento de grandes barreiras orográficas: alguns desertos do planeta se encontram impedidos por montanhas de ter um contato mais amplo com massas de ar úmidas. Dizemos que essas montanhas constituem barreiras orográficas ao fluxo da umidade. A vertente da montanha que é voltada para a origem do fluxo, e que recebe umidade, é chamada de “barlavento”. Já a vertente voltada contra a origem do fluxo, e que não recebe a umidade, é chamada de “sotavento”.

- Desertos Polares: são áreas onde a precipitação é muito baixa pois as temperaturas médias, que ficam sempre abaixo ou muito próximas de 0°C, restringem demais a evaporação que forma as chuvas. Não se encontram dunas de areia mas dunas de neve em certas áreas de desertos polares.

- Desertos costeiros: são os mais complexos. Estão presentes nas margens ocidentais da América, da África e da Oceania, sempre nas regiões próximas aos trópicos. O desvio Coriollis, provocado pela rotação da Terra, faz com que os ventos predominantes nessas margens ocidentais soprem do continente para o oceano, dificultando a ação de ventos úmidos do oceano. Soma-se a isso o fato dessas áreas serem invariavelmente banhadas por correntes marinhas frias, que reduzem a evaporação nos oceanos e refrigeram a baixa troposfera, exercendo um efeito ressecante na atmosfera, ou seja, provocando chuvas sobre o oceano, que não chegam ao continente. A presença comum de dunas em formato de Lua Crescente voltadas para o mar são uma evidência clara do sentido dos ventos. O deserto de Atacama, que é o mais árido do planeta, é um deserto costeiro.

Muitos estudos em Geologia e Paleoclimatologia (ciência que estuda os climas antigos) apontam para a formação de desertos muito antigos no planeta, alguns já desaparecidos, muitos deles cobertos por florestas atualmente. Acredita-se que muitos desertos surgiram ao longo das glaciações que a Terra viveu. As glaciações congelam grande parte da água do planeta, tornando os climas mais secos, o que favorece a desertização.


O que é desertificação?

Desertificação é um processo regressivo da biosfera de um ambiente, gerado pela ação humana. É notavelmente mais comum em áreas de clima semiárido, sub-úmido e em áreas que circundam desertos.

Como ocorre a desertificação?

Diversas ações inapropriadas do homem sobre o solo podem provocar esse processo. Vejamos os principais:

- Monoculturas intensivas sobre ecossistemas frágeis. As monoculturas desgastam muito o solo pois exigem muitos nutrientes da Natureza, o que provoca seu empobrecimento. Em ambientes frágeis, a superexploração do solo pode ser perigosa nesse sentido.

- Desmatamento. A retirada da cobertura vegetal expõe os solos à radiação solar mais intensa e ao contato direto com as águas das chuvas. Naturalmente, esse desmatamento reduz a infiltração das águas no solo, a alimentação dos lençóis freáticos e aumenta o escoamento superficial das águas, potencializando a erosão, que empobrece o solo.

- Técnicas agropecuárias impróprias. Diversas formas indevidas de uso podem favorecer a erosão e a perda de solo, facilitando assim a desertificação. Entre essas formas, destacam-se a pecuária extensiva, em que o gado criado solto pisoteia e compacta os solos dificultando o crescimento dos vegetais; e o plantio direto sem curvas de nível em encostas, que favorece a erosão.

Quais são as principais consequências da desertificação?

As áreas afetadas sofrem diversas consequências, tanto no âmbito ecológico quanto nos âmbitos social e econômico. São consequências comuns em espaços desertificados:

- Redução da retenção de recursos hídricos; impactos sobre a fauna e a flora; mimetização de espécies no ambiente transformado; impactos sociais decorrentes da falta de água, como desnutrição e desidratação; expansão da pobreza; migrações; desagregação familiar associada às migrações; perda de potencial e produtividade agropecuárias; redução das receitas agropecuárias locais; etc.

Uma forma moderna de exploração dos espaços desertificados é o cultivo de eucaliptos. A planta já demonstrou capacidade de crescer nesse tipo de ambiente, no entanto sua presença em larga escala age de forma nociva ao ambiente. O eucalipto é uma espécie de crescimento muito rápido e de grande absorção de água do solo. Essa relação gera enorme extração de água dos solos das regiões desertificadas, o que contribui para a expansão do espaço desertificado.



Quais são os principais espaços que sofrem a desertificação no Mundo atualmente?

A desertificação é um processo que ocorre principalmente em ambientes que possuem alguma fragilidade, como as regiões semiáridas, sub-úmidas e as que circundam desertos. Alguns casos chamam a atenção no Mundo. Vejamos alguns:

- Sahel africano: a palavra “sahel” tem origem árabe e significa “orla”. A região conhecida como Sahel corresponde à orla semiárida meridional do deserto do Saara, uma faixa relativamente fina de terras semidesérticas ao sul do Saara. É uma das regiões mais pobres do planeta, com péssimos indicadores sociais. Lá, boa parte da população combina uma agricultura itinerante rudimentar com um pastoreio nômade. As duas atividades contribuem para a desertificação. Há também a presença de monoculturas exportadoras comandadas principalmente por empresas europeias, que também contribuem para a desertificação.

- Mar de Aralnos anos 1920, a antiga União Soviética desviou os cursos dos principais rios que alimentavam o Mar de Aral para irrigar projetos agrícolas na região semiárida do entorno do mar, processo que continuou sendo ampliado nas décadas seguintes. Com a redução dessa alimentação, o volume de água do mar foi progressivamente reduzindo-se. Hoje ele corresponde a aproximadamente 10% da área original e é uma das maiores tragédias ambientais da história. A região conta com um “cemitério de navios” encalhados e com águas e solo altamente salinizados.


- Portugal Meridional: as províncias do Alentejo e do Algarve sofrem forte pressão hidrográfica causada pelos baixos índices pluviométricos, pela agricultura intensiva e pela ampla infraestrutura turística. Em Alentejo, os portugueses construíram a barragem do Alqueva, criando o maior lago artificial da Europa para enfrentar a falta de chuvas e viabilizar a irrigação agrícola. Além disso, o governo restringiu o uso de água para atividades turísticas em Algarve como em piscinas e campos de golfe.

Quais são os principais espaços que sofrem a desertificação no Brasil atualmente?

No Brasil, os principais espaços que sofrem desertificação são municípios do Sertão nordestino. O clima tropical semiárido e as formas tradicionais de uso do solo favorecem esse processo.

Na microrregião da Campanha ocidental, no Sudeste Rio-grandense, com destaque para Itaqui e Alegrete, ocorre um processo de arenização do solo. Cabe destacar que, embora os processos tenham aspectos semelhantes, a arenização se desenvolve em ambientes úmidos.


No Nordeste, o clima semiárido associado a prática de uma agricultura de subsistência vinculada ao pastoreio de bovinos e caprinos explica a evolução da desertificação. Na campanha ocidental, é a pecuária de bovinos, uma atividade histórica com mais de dois séculos na região, que explica o processo, através da compactação dos solos provocada pelo pisoteio do gado.

Como evitar ou controlar o avanço da desertificação?

Para evitar a desertificação ou controlar seu avanço é necessário identificar e agir sobre as causas do processo. Deve-se proteger a vegetação; praticar a agropecuária de maneira apropriada, sem superexploração do solo ou uso de técnicas indevidas; e manejar os recursos hídricos de forma sustentável, evitando grandes desvios ou transposições de rios.

A desertificação é um processo reversível?

Sim! É possível observar a retomada da expansão vegetal em ambientes que vivem a desertificação. No entanto, dependendo do grau de comprometimento, o processo pode levar séculos para se completar. O homem contribui para essa retomada desocupando as terras e aplicando formas de manejo que contribuam para a reversão do quadro. Esse manejo pode ser extremamente dispendioso, podendo custar bilhões de dólares.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

MIGRAÇÃO PENDULAR E TRANSUMÂNCIA


Nesse texto abordamos dois tipos de movimentos populacionais cujas características despertam interesse e dúvidas nos alunos. Por isso, apresentamos cinco perguntas importantes para você dominar esses temas.

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O que é Migração Pendular?

Migração Pendular é um movimento populacional regular em que as pessoas viajam da cidade em que residem para outra cidade onde trabalham ou estudam em tempo integral. A rigor, não se trata de uma migração já que o tempo de permanência não é longo e os movimentos definidos como migração são entendidos como movimentos definitivos ou de longa duração.

Metrô do Rio de Janeiro lotado.

A Migração Pendular é, necessariamente, um movimento diário?

Tomando por base a definição estabelecida acima, podemos afirmar que as migrações pendulares não devem ser entendidas somente como movimentos de caráter diário mas de qualquer intervalo de tempo, desde que se trate de um movimento regular em que o tempo entre a ida e a volta não seja muito longo.

Quais são os principais exemplos de Migração Pendular?

No campo, o principal exemplo de movimento pendular é o realizado pelos trabalhadores volantes, conhecidos popularmente como boias-frias. Em geral, eles se deslocam no início da manhã, da cidade em que vivem para o campo, de onde voltam para suas casas, na cidade, no final do dia.

Outra situação exemplar é a dos trabalhadores que moram nos municípios de uma Região Metropolitana e fazem o movimento diário de suas cidades para trabalhar na metrópole ou em outra cidade da região. A lotação dos meios de transporte intermunicipais e os congestionamentos das vias urbanas e interurbanas no início da manhã e no fim do dia são fortes evidências desse movimento.

Entre os casos em que o movimento não é diário, destacam-se as seguintes situações:

1 – Executivos – Muitos viajam da cidade em que vivem para a cidade em que trabalham no início da semana, abrigam-se em hotéis ou apart-hotéis, e retornam para casa no fim de semana.

2 – Políticos – Deputados estaduais, deputados federais, senadores e outros representantes políticos vivem, em muitos casos, em cidades diferentes daquela em que trabalham. O próprio Congresso Nacional do Brasil não possui reuniões plenárias regulares nos dias de segunda-feira e sexta-feira pois esses são os dias em que os parlamentares chegam e saem de Brasília.

3 – Petroleiros – Muitos trabalhadores petroleiros passam de 10 a 15 dias consecutivos embarcados em plataformas de petróleo, de onde retornam para casa para alguns dias consecutivos de descanso.

4 – Profissionais liberais – Médicos e professores muitas vezes possuem empregos diferentes. Sendo assim, alguns acabam viajando pelo menos uma vez por semana para outra cidade a fim de realizar um plantão ou ministrar suas aulas semanais .

Quais são as principais diferenças entre Migração Pendular e Transumância?

A migração pendular e a transumância têm em comum o fato de serem movimentos regulares com ida e retorno periódicos. A transumância é um movimento descrito tradicionalmente como sendo executado por rebanhos, vaqueiros e pastores que sobem montanhas no verão em busca do clima ameno das altitudes e descem para as planícies no inverno fugindo do rigor do frio nas montanhas. Fica claro que trata-se de um movimento sazonal, ou seja, regulado pelas estações do ano, o que não ocorre nos movimentos pendulares.

No entanto, o movimento de transumância ganha outro significado quando interpretado do ponto de vista de trabalhadores rurais. O termo “transumância” é usado para designar o movimento migratório realizado por camponeses que vão para a cidade em busca de emprego nos períodos em que o calendário agrícola não oferece trabalho no campo. Numa questão do primeiro exame de qualificação da UERJ de 2009, o movimento é apresentado a partir de um texto de jornal que o descreve do seguinte modo, com grifo nosso na frase definitiva [1]:

Assim, conversinha mole e a criançada que se multiplica. ‘Eu não vou para São Paulo’, anuncia Ari Félix, 12. Mas o irmão dele foi. ‘Difícil ficar’ é a frase mais repetida. Safras perdidas, falta de emprego, família crescendo. A soma faz os homens alternarem: seis meses lá, seis meses cá. Acostumada às despedidas, Vila São Sebastião sabe a rotina: abraços, apertos de mão e adeusinhos frenéticos que, no caso deles, sempre querem dizer ‘até logo’”.

Como as transformações no campo e na cidade contribuíram para Migração Pendular nas Regiões Metropolitanas brasileiras?

O processo de modernização do campo que ganha força no Brasil a partir da crise de 29 e se expande nos anos 1960 e 1970 promove transformações nas relações de trabalho e de produção rurais que tem como consequência uma forte liberação de mão de obra e uma notável concentração fundiária.

Essas realidades associadas às transformações impostas pelo avanço da industrialização nas principais cidades do país, movida pelo desenvolvimentismo brasileiro, criaram uma grande atração de pessoas para esses centros urbanos. Assim, o Brasil observou, em meados da década de 1960, uma mudança na distribuição espacial da população, que passou a viver mais em áreas urbanas do que em áreas rurais.

Diante dessas metamorfoses, podemos dizer que ao mesmo tempo em que o Brasil se urbanizava, o país vivia o processo de metropolização [2] de suas principais capitais, sendo ambos os processos resultados de um fantástico fluxo migratório no sentido campo-cidade observado naquele contexto. Fluxo que convencionamos chamar de êxodo rural, pelo caráter de massa dessas migrações internas.

Assim, o acelerado crescimento dos aglomerados metropolitanos se traduz no crescimento do núcleo metropolitano e, principalmente, na expansão das suas periferias, que nas últimas três décadas passaram a crescer mais rápido que seus respectivos núcleos. É a população residente nessas cidades periféricas em expansão que vai protagonizar os movimentos pendulares diários, principalmente no sentido periferia-núcleo-periferia.


REFERÊNCIAS:


[2] Fausto Brito e Joseane de Souza: Expansão urbana nas grande metrópoles e o significado das migrações intrametropolitanas e da mobilidade pendular na reprodução da pobreza. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-88392005000400003&script=sci_arttext

terça-feira, 23 de outubro de 2012

ENERGIA NUCLEAR

Nesse texto nós apresentamos dez perguntas importantes para quem quer conhecer mais sobre a energia nuclear no mundo. São elas:

1 - Como é gerada a Energia Nuclear?
2 - Quais são as principais formas de uso da Energia Nuclear?
3 - Como funciona uma Usina Nuclear?
4 - Qual é o contexto histórico do desenvolvimento e do uso da energia nuclear?
5 - Como ocorre o processo de enriquecimento de urânio?
6 - Como os Estados se organizaram para elevar a segurança nuclear internacional?
7 - Por que muitos países desconfiam do Programa Nuclear do Irã?
8 - Por que muitos ambientalistas são contrários ao uso da energia nuclear?
9 - Quais foram as principais catástrofes mundiais ligadas à radioatividade até 2011?
10 - Quais são as principais vantagens e desvantagens da energia nuclear?

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Vamos às respostas?

Como é gerada a Energia Nuclear?

Segundo as informações do site da Eletronuclear [1], empresa subsidiária da Eletrobrás, vinculada ao Ministério das Minas e Energia do Brasil, a energia nuclear pode ser produzida pois “os átomos de alguns elementos químicos apresentam a propriedade de, através de reações nucleares, transformar massa em energia. Esse princípio foi demonstrado por Albert Einstein. O processo ocorre espontaneamente em alguns elementos, porém em outros precisa ser provocado através de técnicas específicas”.


A Eletronuclear explica ainda que “existem duas formas de aproveitar essa energia para a produção de eletricidade: A fissão nuclear, onde o núcleo atômico se divide em duas ou mais partículas, e a fusão nuclear, na qual dois ou mais núcleos se unem para produzir um novo elemento”.

Quais são as principais formas de uso da Energia Nuclear?

Uma das principais formas de uso da Energia Nuclear no mundo contemporâneo é a geração de eletricidade. Ainda de acordo com a Eletronuclear, “a fissão do átomo de urânio é a principal técnica empregada para a geração de eletricidade em usinas nucleares. É usada em mais de 400 centrais nucleares em todo o mundo, principalmente em países como a França, Japão, Estados Unidos, Alemanha, Suécia, Espanha, China, Rússia, Coréia do Sul, Paquistão e Índia, entre outros”.

O site da empresa segue explicando que “segundo a WNA (Associação Nuclear Mundial, da sigla em Inglês), hoje, 14% da energia elétrica no mundo, é gerada através de fonte nuclear e este percentual tende a crescer com a construção de novas usinas, principalmente nos países em desenvolvimento (China, Índia, etc.). Os Estados Unidos, que possuem o maior parque nuclear do planeta, com 104 usinas em operação, estão ampliando a capacidade de geração e aumentando a vida útil de várias de suas centrais. França, com 58 reatores, e Japão, com 50, também são grandes produtores de energia nuclear, seguidos por Rússia (33) e Coréia do Sul (21)”.

É importante ressaltar que o processo de produção de energia nuclear em usinas ocorre através de uma fissão nuclear controlada. Bem diferente do que ocorre no caso do uso dessa energia como armamento, onde a reação ocorre de forma descontrolada.

Outra forma de uso da energia proveniente de materiais radioativos se enquadra nos processos de radiação ionizante utilizados, sobretudo, em técnicas medicinais. Exames de cintilografias, Raios-X, tomografias computadorizadas e radioterapia para pacientes com câncer são exemplos clássicos.

O uso de traçadores radioativos pode ser extremamente útil à agricultura. O Conselho Nacional de Energia Nuclear (CNEN), através de apostila educativa sobre aplicações da energia nuclear [2], explica que isso pode ser feito da seguinte maneira:

“É possível acompanhar, com o uso de traçadores radioativos, o metabolismo das plantas, verificando o que elas precisam para crescer, o que é absorvido pelas raízes e pelas folhas e onde um determinado elemento químico fica retido. Uma planta que absorveu um traçador radioativo pode, também, ser ‘radiografada’, permitindo localizar o radioisótopo. Para isso, basta colocar um filme, semelhante ao usado em radiografias e abreugrafias, sobre a região da planta durante alguns dias e revelá-lo. Obtém-se o que se chama de autorradiografia da planta”.

O mesmo material educativo do CNEN ainda explica como esses traçadores podem combater pragas agrícolas:

“A técnica do uso de traçadores radioativos também possibilita o estudo do comportamento de insetos, como abelhas e formigas. Ao ingerirem radioisótopos, os insetos ficam marcados, porque passam a “emitir radiação”, e seu “raio de ação” pode ser acompanhado. No caso de formigas, descobre-se onde fica o formigueiro e, no caso de abelhas, até as flores de sua preferência. A ‘marcação’ de insetos com radioisótopos também é muito útil para eliminação de pragas, identificando qual predador se alimenta de determinado inseto indesejável. Neste caso o predador é usado em vez de inseticidas nocivos à saúde”.

Como funciona uma Usina Nuclear?

Mais uma vez, tomamos para nossa explicação o exemplo apresentado pela Eletronuclear. Ela nos explica que “a fissão dos átomos de urânio dentro das varetas do elemento combustível aquece a água que passa pelo reator a uma temperatura de 320 graus Celsius. Para que não entre em ebulição – o que ocorreria normalmente aos 100 graus Celsius -, esta água é mantida sob uma pressão 157 vezes maior que a pressão atmosférica”.

A empresa segue explicando que “o gerador de vapor realiza uma troca de calor entre as águas deste primeiro circuito e a do circuito secundário, que são independentes entre si. Com essa troca de calor, a água do circuito secundário se transforma em vapor e movimenta a turbina - a uma velocidade de 1.800 rpm - que, por sua vez, aciona o gerador elétrico. Esse vapor, depois de mover a turbina, passa por um condensador, onde é refrigerado pela água do mar, trazida por um terceiro circuito independente. A existência desses três circuitos impede o contato da água que passa pelo reator com as demais”.

Qual é o contexto histórico do desenvolvimento e do uso da energia nuclear?

O desenvolvimento da energia nuclear para uso da sociedade contemporânea é produto do trabalho de cientistas como Ernest Rutherford, Albert Einstein, Enrico Fermi, Ida Noddack, Otto Hahn, Fritz Strabmann, Lise Meitner e Otto Frisch.

O site Brasil Escola [3] nos explica que os “primeiros resultados da divisão do átomo de metais pesados, como o urânio e o plutônio, foram obtidos em 1938. A princípio, a energia liberada pela fissão nuclear foi utilizada para objetivos militares. Posteriormente, as pesquisas avançaram e foram desenvolvidas com o intuito de produzir energia elétrica. No entanto, armas nucleares continuam sendo produzidas através do enriquecimento de urânio”.

As tecnologias que envolvem a produção de energia nuclear são bastante sofisticadas e consideradas compatíveis com os níveis tecnológicos da terceira revolução industrial. A ampliação do uso da energia nuclear, contudo, ocorreu de forma significativa ao longo da década de 1970 quando duas crises energéticas geradas pelo forte aumento dos preços do petróleo impuseram investimentos na busca e na consolidação de fontes energéticas alternativas ao petróleo, entre as quais, a matriz nuclear. Tais crises encontram raízes em instabilidades políticas no Oriente Médio, com a Guerra do Yom Kippur, para a crise de 1973, e com a Revolução Iraniana, para a crise de 1979.

Como ocorre o processo de enriquecimento de urânio?

O material didático do CNEN sobre energia nuclear [4] explica que “o processo físico de retirada de urânio-238 do urânio natural, aumentando, em consequência, a concentração de urânio-235, é conhecido como Enriquecimento de Urânio. Se o grau de enriquecimento for muito alto (acima de 90%), isto é, se houver quase só urânio-235, pode ocorrer uma  reação  em  cadeia  muito  rápida, de difícil controle, mesmo para uma quantidade relativamente pequena de urânio, passando a constituir-se em uma  explosão:  é  a  ‘bomba atômica’”.

E explica ainda que “foram desenvolvidos vários processos de enriquecimento de urânio, entre eles o da Difusão Gasosa e da Ultracentrifugação (em escala industrial), o do Jato Centrífugo (em escala de demonstração industrial) e um processo a Laser (em fase de pesquisa). Por se tratarem de tecnologias sofisticadas, os países que as detêm oferecem empecilhos para que outras nações tenham acesso a elas”.

Como os Estados se organizaram para elevar a segurança nuclear internacional?

Em julho de 1957 foi criada a Agência Internacional de Energia Atômica, com sede em Viena, na Áustria, inicialmente com 56 Estados-membros, e que contava com 155 membros em outubro de 2012. Essa agência foi criada para ser uma entidade global voltada para a promoção da cooperação no campo nuclear e para estimular a criação e o uso de tecnologias nucleares pacíficas e seguras.

No ambiente da Guerra Fria, em meio à desenfreada corrida armamentista, as potências nucleares propuseram, em 1968, um Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). Os Estados Unidos, a antiga União Soviética, a França, o Reino Unido e a China manteriam seu direito a armas nucleares e os demais países se submeteriam à proibição internacional de produção dessas armas.

De início, o tratado teve poucas adesões, afinal ele legitima uma enorme diferença de forças entre os Estados. Atualmente possui 189 signatários, entre os quais o Brasil e o Irã. Índia, Paquistão e Israel não são Estados-membros desse tratado. A Coreia do Norte se retirou do TNP em 2003.

Por que muitos países desconfiam do Programa Nuclear do Irã?

O Irã é um país persa do Oriente Médio. Sua política externa foi reordenada após a revolução teocrática que conduziu os aiatolás xiitas ao poder em 1979. Habitualmente, as lideranças iranianas se pronunciam contra a existência de Israel, Estado criado pelos seguidores do judaísmo no espaço da Palestina, que há muitos séculos era habitado por muçulmanos e que se converteu em território amplamente disputado por esses grupos.

Nesses pronunciamentos contra Israel, é comum ocorrerem ameaças de ataques ao Estado dos judeus, o que deixa o programa nuclear iraniano sob suspeita, pois sabe-se que o país, embora seja membro da Agência Internacional de Energia Atômica e do TNP, possui a tecnologia de enriquecimento de urânio e impõe duros limites à fiscalização de seu programa nuclear.

Por que muitos ambientalistas são contrários ao uso da energia nuclear?

Muitos ambientalistas são contrários à energia nuclear pois sua produção é uma atividade que envolve sérios riscos ambientais. Os funcionários das usinas devem submeter-se a rigorosos protocolos de segurança pois o contato com a radioatividade possui elevado potencial de contaminação, podendo levar a morte por câncer.

Os resíduos da produção, embora tenham baixo volume, são altamente radioativos, o que exige um enorme rigor em seu manejo e soluções muito seguras para o seu despejo. Além disso, mesmo com elevados investimentos em segurança, a atividade envolve o risco de vazamentos e explosões, cujas consequências para a sociedade e o meio ambiente são, em geral, catastróficas.

Apresar disso, alguns ambientalistas muito preocupados com o aquecimento global, como o famoso James Lovelock, da célebre tese Gaia, defendem que a matriz nuclear é indispensável por afetar muito pouco a atmosfera com emissões de gases-estufa, que provêm, fundamentalmente, dos insumos fabricados para serem utilizados na produção de energia nuclear. Ou seja: são emissões indiretas.

Quais foram as principais catástrofes mundiais ligadas à radioatividade até 2011?

Além do uso das bombas nucleares em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, ocorreram acidentes nucleares que marcaram para sempre a história da humanidade. Entre eles destacam-se as explosões em Chernobyl (1986) e Fukushima (2011), ambos classificados, segundo a Wikipédia [5] com grau 7 na escala INES (Escala Internacional de Acidentes Nucleares). Um acidente com risco gerado para espaços fora do local de ocorrência (grau 5) foi o da usina de Three Mile Island, nos Estados Unidos.

Além desses acidentes, a Agência Internacional de Energia Atômica possui registros de centenas de anomalias (grau 1), incidentes (graus 2 e 3) e de alguns acidentes com risco no local ocorrido (grau 4).

Quais são as principais vantagens e desvantagens da energia nuclear?

Entre as vantagens destacam-se as seguintes: é uma matriz de alta produtividade pois um baixo volume de matéria-prima gera muita energia; não gera alta emissão de gases estufa; não gera grandes alagamentos para a formação de represas; não depende de condições ambientais como sol, chuvas ou ventos para sua instalação; seu combustível é basicamente o urânio natural, que pode ser reprocessado (através de enriquecimento) para ser reutilizado; e seus subprodutos podem ser reaproveitados, como é o caso do Plutônio, que serve como combustível de satélites.

Entre as desvantagens destacam-se as seguintes: é uma matriz energética que possui alto custo de construção e operação de suas usinas; exige a manipulação de materiais altamente tóxicos; e tem elevado risco ambiental em caso de vazamentos ou explosões de seus reatores.


REFERÊNCIAS:


[2] Conselho Nacional de Energia Nuclear (Apostila Educativa sobre Aplicações da Energia Nuclear): http://www.cnen.gov.br/ensino/apostilas/aplica.pdf


[4] Conselho Nacional de Energia Nuclear (Apostila Educativa sobre Energia Nuclear): http://www.cnen.gov.br/ensino/apostilas/energia.pdf

quinta-feira, 14 de junho de 2012

SOBRE OS BRICS

A orígem do grupo político-diplomático de países emergentes hoje conhecidos como BRICS remonta ao ano de 2001, quando o economista chefe de pesquisa em economia global do grupo financeiro Goldman Sachs, Jim O'Neil, usou a sigla "BRIC" para se referir àqueles que seriam os quatro principais países emergentes do mundo: Brasil, Rússia, Índia e China.

Ao publicar o relatório "Building Better Global Economic Brics", o Goldman Sachs apontou que esses quatro países eram aqueles que apresentavam as melhores projeções de crescimento econômico até 2050, quando os quatro estariam entre as seis maiores economias do planeta, dividindo espaço apenas com Estados Unidos e Japão.

Esses países têm território extenso, população grande, muitos recursos naturais, e grande importância geopolítica. Rússia e China são membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Brasil e Índia são fortes candidatos a vagas permanentes numa possível renovação ampliadora desse conselho. Todos atraem empresas transnacionais que buscam vantagens produtivas em seus territórios e possuem mercados consumidores em expansão.


Para além dessas semelhanças, existem diferenças profundas entre esses países. O Brasil se destaca por não ter armas nucleares nem conflitos separatistas como ocorre nos outros países. A Rússia é o único país do grupo que apresenta tendência de declínio populacional, tendo muitos idosos e com destaque para o grave problema do alcoolismo, que é um importante fator de mortalidade na população.

A China possui a maior população do planeta e investe muito em qualificação de mão-de-obra formando aproximadamente um milhão de universitários por ano. Seus baixos custos de produção geram enorme atração de investimentos produtivos. Com isso, o país deve, segundo o Goldman Sachs, ter o maior PIB nominal do planeta em 2050.

A Índia apresenta um significativo desenvolvimento em vários setores de tecnologia avançada como os setores de eletrônica, informática e medicamentos. O país, que hoje tem muitas fábricas de softwares e hardwares e é o maior produtor mundial de medicaments genéricos, realiza pesados investimentos em qualificação de mão-de-obra e a língua inglesa, herança da colonização, facilita a atração de empresas, especialmente as prestadoras de serviços de call-center.

Na Rússia, a grande potencialidade está na riqueza energética. O país é o maior produtor mundial de gás natural e o segundo maior produtor de petróleo. Além disso, o país é grande exportador de tecnologias e mão-de-obra qualificada, herança dos investimentos em educação e pesquisa, que incluíam a corrida armamentista e espacial, deixada pelo socialismo soviético.

O Brasil se destaca na área de recursos naturais. O país é um grande exportador de produtos agropecuários, especialmente soja e carne bovina. Vê crescer a sua importância na área de combustíveis fósseis com o pré-sal e novas descobertas de gás natural pelo seu território. Também exporta minérios metálicos como ferro, cobre, bauxita etc. para vários países, incluíndo parceiros regionais do Mercosul. E é um líder em biodiversidade e recursos hídricos.

Ressaltar essas potencialidades não significa dizer que a produção desses países está limitada a esses produtos, serviços e riquezas mencionados. O Brasil, por exemplo, exporta soja, carne bovina e ferro mas também exporta aviões. A produção dos Brics vai muito além daquelas que se apresentam como suas principais vocações aparentes.

A tese do Goldman Sachs cativou as lideranças desses países, que decidiram fazer desse simples acrônimo um verdadeiro espaço de discussão sobre as principais questões mundiais, exercendo um olhar emergente sobre o mundo. Desde 2009 há reuniões oficiais. Primeiro na Rússia, depois no Brasil em 2010. Em 2011 foi a vez da China receber os membros para um encontro, que ocorreu novamente, em 2012, na Índia.

Convidada pela China, a África do Sul passou a integrar o bloco político-diplomático. Não que esse país tenha as mesmas projeções de desenvolvimento econômico dos demais membros. O convite se justifica pois foi uma maneira de inserir o continente africano no espaço constituído pelo bloco e porque a África do Sul exerce importante liderança regional. Desde então, o bloco passa a ser chamado de BRICS, com o "S", de South Africa, no final.

É fundamental concluir que este bloco, ao mobilizar o esforço de união de países com tão grandes potencialidades, abre a perspectiva de uma importante alteração no equilíbrio de poder no mundo no futuro, com o fortalecimento dos emergentes diante das potências ocidentais tradicionais, que hoje já enfrentam fortes crises econômicas, políticas e diplomáticas.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

SOBRE A XENOFOBIA NOS PAÍSES CENTRAIS

Xenofobia é um termo que se aplica a diversas situações que remetem a uma visão negativa que os nativos de um lugar têm acerca dos estrangeiros que com eles convivem. Pode ser uma doença mental que se manifesta através do medo irracional que o doente sente diante de um estrangeiro ou do desconhecido, que os estrangeiros representam. No entanto, na maioria dos casos o termo se refere a um conjunto de sentimentos contra o estrangeiro tais como antipatia, aversão, ódio e suspeita, quase sempre alimentados por componentes sociais como o racismo e o receio da ocorrência de possíveis mudanças culturais e religiosas no seio de seu povo.

Nos países centrais, a presença estrangeira é um produto evidente de intensos movimentos migratórios ocorridos em momentos diversos, porém intensificados no contexto do pós-guerra. No Japão e especialmente na Europa, os trabalhos de reconstrução somados ao declínio populacional gerado pelas mortes na guerra e pela redução nas taxas de fecundidade formaram um ambiente atrativo. Nos Estados Unidos, o clima positivo foi propagado através do “american way of life”. Na maioria desses casos havia intervenção do Estado nas economias para gerar empregos e renda favorecendo o bem estar social. Era necessário ao capitalismo, num ambiente de guerra fria, provar que era melhor que o socialismo, oferecendo direitos sociais e liberdade individual às pessoas.

Na outra ponta do movimento migratório, diversos fatores de repulsão impulsionaram a saída de africanos, asiáticos e latino-americanos de seus países. Milhares de pessoas fugiram do desemprego; dos reflexos de movimentos violentos de descolonização, marcados pela proliferação de conflitos étnicos na disputa pelo poder; dos vários tipos de regimes autoritários que se espalham por todo o mundo subdesenvolvido; e dos efeitos perversos da urbanização acelerada e da modernização produtiva, de notável caráter conservador e excludente, que marcaram esse momento da história dos países pobres.

O Japão recebeu alguns grupos asiáticos e descendentes de japoneses espalhados pelo mundo, inclusive nipo-brasileiros, migrantes lá conhecidos como “dekasseguis”. A Europa recebeu muitos africanos e asiáticos, com destaque para o fato de que na maioria dos casos as pessoas saíam das colônias (ou ex-colônias) para as respectivas metrópoles. Ou seja, da Índia para a Inglaterra; da Argélia para a França etc. Já os Estados Unidos receberam migrantes de todo o mundo subdesenvolvido, porém com grande destaque para latino-americanos, de diversas origens, especialmente os mexicanos, porém incluindo muitos brasileiros, que formam um grupo importante de estrangeiros naquele país.

No período que se estende do final da segunda guerra mundial até o final dos anos 1970, a presença do imigrante gerava um incômodo menor, ou ao menos um volume bem menos significativo de manifestações xenofóbicas nos países centrais. Muitos desses países tinham situação de pleno emprego e os imigrantes, assim, não eram tão mal vistos. No entanto, no final dos anos 1970, diversos países do mundo desenvolvido promoveram uma redução da intervenção do Estado na economia para fins de proteção social. Trata-se da adoção de práticas neoliberais que permitiram a dinamização do comércio e a modernização da produção porém elevaram o nível de desemprego e de pressão sobre as conquistas sociais das populações.

Nesse contexto, o trabalhador imigrante passou a ser responsabilizado pelo desemprego crescente. Fortaleceram-se a xenofobia e os partidos de extrema direita que condenam a presença dos estrangeiros nos seus países. Movimentos Neo-nazistas pregavam a violência contra imigrantes e responsabilizavam estrangeiros pelo aumento dos níveis de violência. Contudo, o argumento xenófobo é notavelmente falso, pois os imigrantes, em geral, ocupam postos de trabalho de baixo prestígio social, que admitem baixa qualificação e oferecem salários menores. São empregos sistematicamente rejeitados pelos nativos, como os trabalhos de faxineiro, coveiro, operador de caixa, empacotador, entregador, auxiliar de cozinha, agente de segurança, entre outros.


Cartaz do partido suíço SVP (em alemão) e UDC (em francês) sugerindo a expulsão de imigrantes do país "por mais segurança".

Mesmo assim ergueram-se barreiras migratórias, tanto políticas quanto físicas, para controlar esses fluxos migratórios. No campo político, aumentou o nível de exigências para a concessão de vistos de entrada além das exigências para o período de permanência, como a apresentação da passagem de retorno, de quantias em dinheiro para os gastos diários e até dos comprovantes de reservas em hotéis. A construção de muros em fronteiras altamente policiadas, como o de Tijuana, na fronteira dos Estados Unidos com o México, e os de Ceuta e Melilla, enclaves espanhóis no norte da África, simbolizam a imposição de um limite físico ao direito humano de migrar.

A crise financeira que se estende desde 2008 vem criando paradoxos interessantes nas políticas migratórias desses países. Estando eles em crise, os capitais deixados em seus territórios pelos turistas com origem em países com Brasil, Índia, China, África do Sul, México e Argentina, adquirem maior importância. Prova disso está nas mudanças que estão sendo implantadas nos consulados dos Estados Unidos aqui no Brasil com intuito de acelerar o processo de emissão de vistos. Anos atrás, os brasileiros quase “imploravam” pelo direito de gastar suas economias nos parques, lojas e hotéis estadunidenses. Hoje, o clamor parece vir de lá para cá.

Mas essa abertura não se faz sem o receio de que isso estimule as tentativas de migração permanente. Assim, na União Europeia, onde vários países como Grécia, Itália, Irlanda, Portugal e Espanha estão em crise, o rigor com o controle migratório cresce e a comunidade questiona a estrutura dos acordos que criaram o Espaço Schengen de livre-circulação interna, cuja revisão dos termos é proposta por alguns membros do bloco, como a Dinamarca, que anunciou, em maio de 2011, que voltaria a controlar suas fronteiras com a Suécia e a Alemanha. A França, quando ainda sob o controle de Sarkozy, reclamava da concessão de vistos pela Itália aos tunisianos em 2011, povo do país africano que foi o epicentro do movimento conhecido como “Primavera Árabe”, pois eles estariam migrando, via Itália, para a França.

Um vídeo institucional produzido pela União Europeia e que gerou muitos protestos por ter sido interpretado como racista e xenofóbico, tendo sua veiculação proibida é esse que você pode assistir clicando aqui.

No entanto, a despeito do medo, desconfiança, preconceito ou receio de mudanças culturais e religiosas, uma questão que se apresenta e exige resposta é: será que os europeus poderão, diante da evolução do seu perfil demográfico, evitar a chegada e a legalização de trabalhadores imigrantes? Pois o número de idosos cresce enquanto diminui o de jovens. É necessário repor a população economicamente ativa. Campanhas natalistas, se forem atendidas pela população, tendem a minimizar o problema, mas em longo prazo, de 25 a 30 anos. Contudo, o quê fazer para solucionar o problema que se exibe agora? Não se torna indispensável reconhecer a importância dos trabalhadores imigrantes nesse quadro? Sobre isso, as sociedades precisarão refletir e produzir uma resposta, que será dada, fundamentalmente, nas urnas, nas eleições de cada país.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O CONCEITO DE TERRITÓRIO

O território como o espaço concreto

A Geografia Política tradicional definiu o território como o espaço concreto em si, apropriado por um determinado agente ou grupo social, tendo em vista que a noção de apropriação empregada no conceito ilustra a existência de uma relação de poder construída pelo homem sobre um espaço delimitado. Para Friedrich Ratzel, geógrafo alemão fundador da geografia política enquanto disciplina da ciência geográfica, mais particularmente como um ramo da geografia humana, a apropriação duradoura, perene do território é capaz de construir vínculos e identidades de forma que um povo não possa mais ser compreendido, concebido sem seu território, pois tais identidades estariam ligadas aos atributos do espaço ocupado.

Mapa Antigo do Rio de Janeiro

O pensamento de Ratzel esteve muito vinculado ao projeto de construção do Estado nacional alemão e à legitimação do expansionismo territorial do Reich. Isso tanto explica quanto exemplifica porque o conceito de território foi tão fortemente associado a um referencial político do Estado. Falar em território significava, praticamente, falar em território nacional. Tanto a Geografia quanto a Ciência Política assim restringiam o conceito tendo em vista o Estado como o detentor do poder por excelência. 

O território como campo de forças 

A renovação crítica do pensamento geográfico propôs uma interpretação diferente, mais ampla do que a proposta pela geografia clássica, do conceito de território. Nela, o território não é o espaço concreto em si mas as relações de poder espacialmente delimitadas que operam sobre uma base, um substrato material referencial. Diferente da proposta de Ratzel, a constituição dos territórios não depende de um longo enraizamento para a construção de identidades e relações de poder. 

Os territórios podem ser construídos e dissolvidos rapidamente ou seja, tendem a ser mais instáveis do que estáveis. Ou ainda, podem ter uma existência regular e periódica. Marcelo José Lopes de Souza, em artigo sobre território publicado no livro Geografia: Conceitos e Temas*, explica essa proposta de conceituação do território como “campo de forças” [1] a partir de exemplos de territorialidade urbana, como os territórios da prostituição, do comércio ambulante e das máfias do narcotráfico no Rio de Janeiro. 

Nesses casos, o autor explica que a territorialidade pode se estabelecer das seguintes maneiras: 

- Territorialidade cíclica: os espaços onde a prostituição ocorre são ocupados no período noturno. Durante o dia, o perfil das pessoas que ocupam o território é diferente. Ao contrário, o comércio ambulante, que também possui uma temporalidade bem definida, predomina ao longo do dia e vai se esvaindo com o anoitecer. 

- Territorialidade móvel: ainda tomando como exemplo a questão da prostituição, o autor explica que pode haver disputa entre grupos rivais (prostituição masculina, feminina, travestis etc.) e como conseqüência pode haver mudanças nos limites controlados por cada grupo. Os limites dos territórios da prostituição são instáveis. 

- Territorialidade em rede: é o exemplo da estrutura espacial do tráfico de drogas, onde cada facção detém o controle de algumas áreas (favelas) relativamente distantes entre si, e intercaladas tanto pelo “asfalto” quanto por outras áreas controladas por facções rivais. No entanto, o conjunto das áreas controladas por uma facção forma uma rede pois essas áreas são conectadas por fluxos diversos (de armas, drogas, dinheiro, ordens de comando etc.). A sobreposição das redes, tanto entre as controladas por cada facção, quanto com o “asfalto”, forma uma malha complexa constituída pelo que o autor optou chamar de “territórios descontínuos”[2]. 

Um conceito polissêmico 

O conceito de território refere-se à espacialidade humana e, por isso, muito além da Geografia, desperta o interesse de outros ramos do conhecimento, cada qual enfatizando suas perspectivas. Desse modo, o conceito ganha muitos significados, torna-se polissêmico. Rogério Haesbaert dá elementos dessa polissemia quando explica a “amplitude do conceito”[3] a partir do enfoque geral das principais ciências que se interessam por ele: 

Enquanto o geógrafo tende a enfatizar a materialidade do território, em suas múltiplas dimensões (que deve[ria] incluir a interação sociedade-natureza), a Ciência Política enfatiza sua construção a partir das relações de poder (na maioria das vezes, ligada a concepção de Estado); a Economia, que prefere a noção de espaço à de território, percebe-o muitas vezes como um fator locacional ou como uma das bases da produção (enquanto “força produtiva”); a Antropologia destaca sua dimensão simbólica, principalmente no estudo das sociedades ditas tradicionais (mas também no tratamento do “neotribalismo” contemporâneo); a Sociologia o enfoca a partir de sua intervenção nas relações sociais, em sentido amplo, e a Psicologia, finalmente, incorpora-o no de debate sobre a construção da subjetividade ou da identidade pessoal, ampliando-o até a escala do indivíduo”.[4] 

Fica evidente que o conceito de território possui múltiplas acepções. Essas várias noções foram sintetizadas por Haesbaert em quatro vertentes: 

- Política: onde o território é visto como espaço delimitado onde se exerce uma relação de poder; 

- Cultural(ista): onde o território é interpretado como fruto da apropriação ou valorização simbólica do espaço vivido por um grupo social. 

- Econômica ou economicista: onde a dimensão espacial das relações econômicas é enfatizada. 

- Natural(ista): onde o território é visto a partir da relação entre o homem e a Natureza, do comportamento “natural” dos homens em relação ao meio físico. 

Apesar do esforço de sintetizar a polissemia do conceito nessas quatro vertentes, Haesbaert propõe que a discussão seja organizada “a partir de outro patamar, mais amplo, em que estas dimensões se inserem dentro da fundamentação filosófica de cada abordagem”.[5] Desse modo, a conceituação de território é proposta segundo “o binômio materialismo-idealismo” e segundo “o binômio espaço-tempo”. 

Entenda-se que, quanto ao binômio materialismo-idealismo, Haesbaert qualifica como perspectivas materialistas a “natural”, a econômica e a política; e qualifica como idealista a perspectiva cultural ou simbólica do território. Ele entende que tais perspectivas podem ser analisadas tanto a partir de uma visão do território que chamou de “parcial” (que enfatiza uma dessas perspectivas, seja a “natural”, a econômica etc.); ou que essas perspectivas podem ser analisadas a partir de uma visão integradora de território, para atender a questões que envolvem todas elas juntas. 

A abordagem segundo o binômio espaço-tempo consiste na visão relacional de território onde este é compreendido como “completamente inserido dentro de relações social-históricas”. [6] Esta abordagem coincide com aquela feita por Marcelo José Lopes de Souza, explicada acima, onde o território é visto prioritariamente como um conjunto de relações sociais, um campo de forças. Haesbaert sinaliza que a interpretação de Souza é justamente cuidadosa pois não nega a materialidade do território e, por isso, evita uma ”desgeografização” do território, que seria acompanhada de um excesso de “sociologização” e “historicização” do conceito. 

Sendo assim, o território, um conceito que interessa a muitas ciências, a concepção do conceito dependerá da posição filosófica de cada pesquisador e da opção por uma dessas perspectivas, ou ainda, pode-se empreender um esforço de superação dessa “dicotomia material/ideal” para integrar tanto a dimensão material quanto a dimensão simbólica como partes inseparáveis do conceito. 

Referências: [1] e [2] SOUZA, Marcelo José Lopes 1995. O território: sobre espaço, poder, autonomia e desenvolvimento. In: Castro et al. (orgs.) Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. [3] [4] [5] e [6] COSTA, Rogério Haesbaert da. 2006. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. 2ªed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 

* O autor desse blog, criado em 2007, não tinha conhecimento da existência do livro organizado por Castro, Gomes e Corrêa quando escolheu o título, que se adéqua à proposta do blog, que é apresentar conceitos (como faz nesse texto) e temas, como é o caso da maioria dos textos aqui publicados, uma coincidência que muito nos honra depois que tivemos contato com a obra e passamos a conhecer o conteúdo de seus textos. 

Esta postagem é dedicada ao centenário do falecimento do Barão do Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos Júnior, Ministro das Relações Exteriores do Brasil entre 1902 e 1912, falecido a 10 de fevereiro de 1912, enquanto ocupava o cargo, sendo uma unanimidade nacional em seu tempo e o principal responsável pela expansão do território brasileiro no período republicano.