quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A POPULAÇÃO CHINESA

A questão demográfica na China é complexa por fatores que vão muito além de tratar-se do país com a maior população do planeta. Distribuição desigual, políticas de controle da natalidade, mosaico étnico, nacionalismos separatistas e a questão do gênero feminino são outros condimentos que temperam a complexidade do país que realiza o maior censo demográfico da história em 2010, com a participação de seis milhões de agentes recenseadores.

A população chinesa é distribuída de forma bastante desigual pelo território e tal distribuição é profundamente influenciada pela geografia física do país. As regiões autônomas do Tibete, de Xinjiang e da Mongólia Interior apresentam baixas densidades demográficas.

No caso tibetano, por tratar-se de uma grande área cujas altitudes raramente são menores do que 4 mil metros, pelo clima frio e pelos solos rasos e pedregosos, há grande dificuldade para a fixação humana.


Xinjiang e Mongólia Interior apresentam desertos em suas paisagens. O de Taklamakan e o de Gobi, respectivamente. Ambos são marcados por forte continentalidade, ou seja, grande distanciamento em relação ao oceano.

Já as regiões da China Meridional das Colinas e a Manchúria apresentam densidades demográficas muito elevadas por possuirem litoral, por serem marcadas por regimes de chuva favoráveis à implantação tradicional da agricultura, e, por fim, por abarcarem a imensa maioria das Zonas Econômicas Especiais (ZEE’s) criadas no processo de modernização e abertura do país ao capitalismo.

Sobre a China Meridional das Colinas é importante frisar que a região concentra a maior parcela da população chinesa, especialmente nos vales e planícies aluvionais ao longo dos rios Yang-Tsé e Hoang-Ho, ou seja, as principais zonas rurais do país, marcadas pela grande produção de arroz feita através do milenar sistema de jardinagem, intensivo no uso de mão-de-obra.

A população chinesa é a maior do planeta, com mais de 1 bilhão e 300 milhões de habitantes, acompanhada de perto apenas pela da Índia, com pouco mais de 1 bilhão de pessoas. O governo de Mao Tsé-tung estimulava a natalidade como forma de aumentar a população do país e seu percentual em relação à humanidade. Mas com uma população assim, tão grande, dificuldades evidentes se apresentaram ao país como o desemprego e a fome.

Desde 1979, vigora a política do filho único na China, cujo objetivo é reduzir o ritmo de crescimento acelerado da imensa população do país, para minimizar tais problemas. Atualmente as taxas de crescimento vegetativo do país estão abaixo de 0,7% ao ano. Um percentual que aplicado a 1,3 bilhão de pessoas representa um crescimento numérico de aproximadamente 9 milhões de pessoas por ano.

No entanto, por conta de uma característica tradicional da sociedade, o cuidado dos idosos é responsabilidade dos homens e suas respectivas esposas. As mulheres casadas cuidam dos sogros e, via de regra, não têm permissão para cuidar dos próprios pais. Os casais desejam, portanto, ter filhos homens em detrimento das mulheres.

Cresce, assim, o número de abortos quando se descobre que o bebê esperado é do sexo feminino, atingindo aproximadamente meio milhão de interrupções de gestações anualmente. Por isso, atualmente a China proíbe a identificação do sexo dos bebês nos exames de ultra-sonografia.

Também ocorre o abandono de meninas ao relento para a morte. Como conseqüência, atualmente existem 117 homens para cada 100 mulheres. A média mundial é de 106 ou 107 homens para cada 100 mulheres.

Além da preocupação com a velhice, os chineses preferem filhos homens pois eles garantem a perpetuação do sobrenome da família. Tal fato é influenciado pela religiosidade da maioria dos chineses, que é ligada ao culto dos antepassados. Manter o sobrenome vivo é uma forma de garantir que será lembrado pelos seus descendentes no futuro.


Na China, 92% da população pertencem à etnia Han. Esses são os chamados “chineses étnicos”. Os demais 8% dividem-se em mais de 56 etnias minoritárias reconhecidas pelo governo e que formam um grande mosaico populacional. Os tibetanos e os Uigur são duas dessas etnias minoritárias, habitantes das regiões autônomas do Tibete e de XinJiang, respectivamente.

E são nacionalistas. Cada grupo defende a separação de sua porção do restante da China. Os tibetanos tiveram sua soberania reconhecida pelos ingleses em 1904, porém tiveram sua capital ocupada pelos revolucionários chineses em 1950. Organizaram um levante contra tal ocupação em 1959, o que levou ao exílio do Dalai Lama, líder político e espiritual dos tibetanos, que passou a viver na Índia.

Os Uigur formam um povo com quase 9 milhões de pessoas na China. Têm origem turcomena e são muçulmanos. Possuem vínculos culturais e religiosos muito mais intensos com os povos da Ásia Central do que com os Chineses. Por isso costumam realizar protestos com a intenção de transformar a Região Autônoma de Xinjiang num país independente para o seu povo.



É por essas razões que, a fim de dissolver a concentração majoritária dessas etnias em suas regiões, a China impõe migrações de chineses da etnia Han para essas regiões. O que acentua ainda mais as contradições criadas no país a partir do momento da abertura econômica, como as múltiplas oposições entre o campo arcaico e as cidades modernas.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O BRASIL E AS MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS

Mais um vídeo em que falo aos vestibulandos que acessam o site g1.com/vestibular.

Desta vez o tema é o Brasil e as suas migrações internacionais.

Resumo do G1:

O professor de geografia do cursinho pH, Diego Moreira, dá uma aula sobre as migrações internacionais ocorridas no Brasil.

No período de 1500 a 1930, o país apresentava um perfil receptor com a chegada dos colonizadores portugueses, os escravos africanos, os europeus não lusitanos e os asiáticos.

A partir dos anos 30, como reflexo da crise de 1929, o Brasil começa a formar um perfil repulsor.

A lei de cotas de 1934 restringe a entrada de imigrantes, há o êxodo rural e as cidades se tornam metrópoles que não comportam toda a população. O ambiente saturado e a falta de infraestrutura fazem com que os brasileiros deixem o país em busca de melhores condições de vida na Europa, Estados Unidos e Japão.

Confira aula completa em vídeo.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

UM POUCO SOBRE O TRATADO DE NÃO-PROLIFERAÇÃO NUCLEAR

Disponibilizo a aula que gravei para o site do G1/vestibular. Você pode saber um pouco mais sobre o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP-1968). Veja aqui.



Até!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O DRAMA DAS ENCHENTES

Parece mesmo que já faz parte da rotina de nossa sociedade vivenciar eventualmente o drama causado pelas enchentes que castigam esse país tropical de tempos em tempos. Muito além dos prejuízos causados, tais eventos assumem efetivamente a condição de tragédia por sua dimensão humana, ao ceifarem vidas, desestruturarem famílias e piorarem profundamente as condições de vida dos sobreviventes que são gravemente atingidos.


A recorrência desses eventos é bastante alta, especialmente nos meses mais quentes. Em alguns casos o impacto é maior. Sem voltar muito no tempo podemos recordar as chuvas que atingiram o estado de Santa Catarina, no final de 2008; o drama em Angra dos Reis (RJ) e São Luis do Paraitinga (SP) na virada de 2009 para 2010; o impacto violento das águas que caíram sobre a região metropolitana do Rio de Janeiro no início de abril deste ano; e agora as chuvas que atingem o Nordeste, especialmente os estados de Pernambuco e Alagoas.


As recentes chuvas no Nordeste guardam características anormais pela sua época incomum e pelo seu processo de formação. Chuvas intensas assim são mais comuns no verão, no entanto a região sofreu intensa carga pluvial num período de transição do outono para o inverno, quando as chuvas normalmente diminuem. A causa para isso é explicada pela ação conjunta de três fatores climáticos fora da normalidade.


Um deles é a chegada de ventos úmidos vindos da área conhecida como Alta da Bolívia, uma área de alta pressão que dispersa esses ventos úmidos que atingem o Nordeste, normalmente no verão. Sua atuação no inverno pode ser considerada anormal.


Outro fator é a temperatura acima do normal nas águas do Oceano Atlântico na costa nordestina. Este fenômeno, que tem sido observado e monitorado pelos meteorologistas, facilita a evaporação das águas aumentando o volume das chuvas que chegam ao litoral.


Somando-se a esses fatores, notou-se também a permanência da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) sobre o Nordeste. Sua presença, que torna os dias mais chuvosos, é comum no verão mas, com a mudança de estação, ela normalmente se afasta em direção ao hemisfério Norte, reduzindo as chuvas, o que não ocorreu até o início desse inverno.


A causa dessa anomalia foi o fortalecimento de um sistema de ventos paralelos ao Equador que sopram da África em direção ao Brasil. Esses ventos fortes impediram o deslocamento da ZCIT para o Norte, tanto que os níveis de chuva em Roraima e no Amapá - estados mais setentrionais, com terras no hemisfério norte - estão abaixo da média para a época.


Recebendo uma carga pluvial intensa desde abril, os solos permeáveis do Nordeste encharcaram e o volume de água dos rios cresceu. Apesar da existência de diversos açudes ao longo dos principais rios de Pernambuco e Alagoas, muitos deles atingiram sua capacidade máxima e transbordaram, assim como também transbordaram dezenas de rios e córregos, espalhando água, destruição e dor.


E o resultado é um grande número de mortos além de prejuízos de mais de um bilhão de reais, segundo informações do ministro da integração nacional Geddel Vieira Lima. Casas, escolas, hospitais, comércio... Muita destruição. O presidente Luis Inácio Lula da Silva cancelou sua participação na cúpula do G20 e foi ao município de Rio Largo (AL), um dos mais afetados pelas chuvas. A cidade de Rio Largo é cortada pelo rio Mundaú, que nasce no planalto da Borborema, em Pernambuco, na cidade de Garanhuns, e deságua na lagoa Mundaú, ao sul de Maceió. O rio transbordou e arrasou a cidade. Há medidas em curso para a liberação de verbas emergenciais para as cidades afetadas.


A ação solidária dos brasileiros nesses momentos difíceis é de valor inestimável. É fundamental o apoio material e o trabalho voluntário que milhares de pessoas dedicam aos atingidos pelas chuvas. No entanto, diante do conhecimento do problema que enfrentamos, cabe-nos pensar nas medidas que podem ser tomadas para evitar novas tragédias.


Muito além dos necessários investimentos públicos na construção, ampliação e modernização de redes de drenagem, diversas formas de uso e ocupação do solo podem ser implantadas ou devem ser evitadas dependendo do caso.


Entre as medidas mais importantes podemos destacar a preservação e revitalização das matas ciliares (vegetação marginal) evitando o assoreamento dos rios e a redução da sua capacidade de carga; a não-ocupação das margens fluviais já que essas são as principais construções afetadas pelas enchentes; o combate ao desmatamento de encostas, que acelera o escoamento superficial facilitando o acúmulo de água nas áreas baixas do terreno e os desmoronamentos, no caso de encostas ocupadas; e a manutenção da limpeza das redes de escoamento que, principalmente nas grandes cidades, sofrem com o despejo de grandes volumes de lixo.


A implantação dessas e outras medidas cabíveis envolve a elaboração e a prática de um profundo planejamento urbano, social e ambiental além de demandar o enfrentamento das dificuldades políticas da gestão integrada das bacias hidrográficas intermunicipais e interestaduais.


É grande o desafio que temos pela frente. Muito maior é o valor das vidas que dependem da nossa vitória.


P.S.: Veja também o vídeo que gravei para o site g1.com falando sobre esse tema, CLICANDO AQUI.