segunda-feira, 12 de novembro de 2007

PROVA DA UERJ - 2º EXAME - COMENTÁRIOS

A prova de ciências humanas do segundo exame de qualificação da UERJ-2008 exigiu a análise de aspectos econômicos relacionados a impactos políticos e socioespaciais das transformações nas redes de circulação de riquezas no contexto da mundialização do capitalismo. A maior parte das questões exigiu a interpretação de elementos visuais. Dentre eles temos mapas, gráficos, charges, imagens de propagandas e fotografias.

A quantidade de questões que inclui conteúdos de história aumentou em relação ao primeiro exame deste ano, no entanto houve, novamente, o predomínio de questões ligadas aos conteúdos de geografia. Não há, no nosso entendimento, nenhuma questão passível de anulação. Consideramos, esta, uma das melhores provas de ciências humanas dos últimos exames de qualificação da UERJ, com questões simples, exigindo atenção, observação e raciocínio, além de cobrar poucos conteúdos específicos.

Consulte este gabarito comentado, preferencialmente, com o caderno de questões.


Questão 44 - Gabarito D

Nesta questão, o mapa da esquerda apresenta o território francês e as conexões da cidade de Paris com outros núcleos urbanos franceses destacando que algumas conexões são processadas através de linhas de trens convencionais, e outras através de linhas de trens de grande velocidade (TGV). No mapa da direita, o território francês apresenta-se distorcido em função do tempo de conexão de Paris com as outras aglomerações urbanas. Neste caso, é fundamental notar no mapa da esquerda que algumas cidades encontram-se, aproximadamente, a uma mesma distância em relação à Paris, mas, por estarem integradas através de linhas férreas de tecnologias diferentes, o tempo de conexão também é diferente. As cidades de Marseille e Bayonne refletem isso muito bem. Marseille, integrada pelo TGV, está a três horas da capital, enquanto o trajeto Paris-Bayonne é de quatro horas e meia, aproximadamente. Portanto, a rede ferroviária francesa é composta por linhas de níveis tecnológicos diferenciados e isso se reflete no favorecimento da acessibilidade de alguns aglomerados urbanos como Marseille.


Questão 45 – Gabarito A

A interpretação do gráfico associada ao conhecimento do significado da expressão ‘oligopólios’ era suficiente para responder corretamente esta questão. No gráfico - que representa o percentual do mercado mundial dominado pelas cinco maiores empresas dos setores de minério de ferro (90%); equipamentos siderúrgicos (65%); automóveis (60%); produtos químicos [gases] (80%) e Celulose (70%) - fica claro que um número muito pequeno de empresas controla uma parte muito grande dos mercados citados, constituindo oligopólios. Os oligopólios consistem, exatamente, no controle majoritário de um mercado por um pequeno grupo de empresas. Cabe ressaltar que eles se formam, em geral, através de estratégias de associação de capital como os trustes horizontais – fusões de empresas – e os cartéis – sistemas ilegais de combinação de preços e divisão de mercados – que eliminam gradativamente a concorrência.


Questão 46 – Gabarito C

A questão aborda as contradições do processo de globalização, trazendo um pequeno texto sobre a formação de um bloco econômico (Nafta) que reúne Estados Unidos, Canadá e México como países membros, e uma charge que evidencia as barreiras à imigração mexicana para os Estados Unidos. Uma das principais finalidades da formulação de um bloco econômico é a facilitação da circulação de produtos, capitais, bens e serviços. Mesmo no Nafta, que constitui apenas uma área de livre comércio – o estágio inicial de integração de blocos econômicos – tal facilitação é uma realidade. No entanto, no que tange aos movimentos migratórios, o processo de globalização se contradiz através das nítidas barreiras à circulação impostas pelos países centrais à população com origem nos países periféricos. As guerras, as perseguições políticas e religiosas e, principalmente, as pressões socioeconômicas, impõem movimentos migratórios orientados em direção aos espaços onde o quadro de bem-estar social é mais positivo, como é o caso dos países centrais. E as barreiras se manifestam através da não-concessão de vistos, fiscalização das fronteiras, construção de muros (barreiras físicas), podendo culminar em prisões e deportações.


Questão 47 – Gabarito B

Com conteúdo focado em história, a questão trás um cartaz onde se lê: “Ajude a esmagar o eixo comprando bônus de guerra”. A imagem é representada por um imenso tanque, com bandeiras dos países aliados na segunda guerra mundial, avançando sobre elementos que representam as forças do eixo. A bandeira brasileira no tanque representa a postura do governo em relação ao conflito, onde o Brasil se aproxima aos aliados no combate ao eixo.


Questão 48 – Gabarito B

Abordando a bipolaridade da guerra fria, a charge reflete a “Capacidade de Dissuasão Nuclear” que manteve o equilíbrio entre as superpotências – Estados Unidos e União Soviética – na corrida armamentista. Essa capacidade produz a doutrina da “Destruição Mútua Assegurada” pois nenhuma das superpotências promove um ataque direto contra a rival na certeza de que este ataque seria identificado e respondido imediatamente, gerando a destruição de ambas. É esse clima de “Equilíbrio do Terror”, sem confrontos diretos, que caracteriza a guerra fria.


Questão 49 – Gabarito B

A questão destaca o processo de urbanização dos países subdesenvolvidos. Este processo é caracterizado por ser recente, acelerado e derivado de uma industrialização com tecnologias importadas, ou seja, sem a vivência de uma revolução industrial completa, cujo pilar seria o desenvolvimento das tecnologias internamente. A modernização foi importada e conservadora, portanto, excludente. No quadro recente, a automação industrial transfere para o setor terciário o predomínio das atividades urbanas. O baixo poder aquisitivo médio da população dos países subdesenvolvidos limita o consumo de bens e serviços reduzindo as possibilidades de emprego formal no setor terciário. A informalidade emerge nesse contexto como uma saída para a população que não consegue inserir-se no mercado de trabalho formal, manifestando-se no espaço urbano através da presença de camelôs e biscateiros, dentre outras formas. A ausência de garantias trabalhistas e a redução da arrecadação de tributos (previdência) pelo Estado são conseqüências desta informalidade.


Questão 50 – Gabarito D

Os mapas desta questão retratam a divisão política municipal do Brasil de 1940 (1574 municípios) e 2000 (5507 municípios), retratando a clara ampliação da fragmentação do poder político municipal neste período. A interiorização do povoamento estimulada no período em tela contribui para a fragmentação, pois a ocupação heterogênea do espaço e as atividades exercidas em cada localidade criam identidades que fomentam a separação. A constituição de 1988, além de fortalecer o federalismo – princípio de autonomia dos estados em consonância com as determinações constitucionais – transforma antigos territórios, que estavam sob administração direta da União, em Unidades Federativas, ou seja, estados, como é o caso de Roraima, Rondônia e Amapá. E dentre as flexibilizações geradas pela constituição figuram os parâmetros para a emancipação dos municípios, o que facilita a fragmentação do poder político municipal no Brasil.


Questão 51 – Gabarito B

Com conteúdo focado em história, a questão faz alusão ao controle do tempo com base em relações político-ideológicas como é o caso da criação do calendário que tem como marco a revolução francesa. A proclamação da república define o Ano I do recém-criado calendário francês, possuindo tal calendário seus meses específicos, destacando o mês Termidor, em que Robespierre foi executado, e o episódio do dia 18 Brumário do calendário republicano, em que um golpe de Estado levou o general Napoleão Bonaparte ao poder. Uma evidência que ajudaria ao candidato a responder à questão é o nome do autor do texto que introduz a questão (Jaques Le Goff), nitidamente de origem francesa.


Questão 52 – Gabarito D

A análise da imagem apresentada é essencial à resolução desta questão. Nela vê-se um elemento indígena no centro, com grande destaque; uma escultura de Aleijadinho, no alto, representando um profeta; e dois jogadores de capoeira, na parte de baixo. A associação desses elementos remete às múltiplas origens que compõem o povo brasileiro e sua identidade nacional, estando tais valores associados à miscigenação do povo, com matrizes indígenas (o índio), africanas (os capoeiristas) e européias (o profeta – símbolo da tradição cristã).


Questão 53 – Gabarito A

A questão compara o fim da escravidão no Brasil ao fim do Apartheid na África do Sul no sentido de que os dois processos deixaram marcas, heranças socioeconômicas em seus respectivos espaços. Nos dois casos não há mais legislação discriminatória. A representação política existe e pode ser exemplificada pela eleição de Mandela, após o apartheid, na África do Sul, e pelas ações afirmativas presentes no Brasil atual em relação a população que se define como afro-descendente. Ainda há formas discriminação cultural das minorias, mas a exclusão cultural, conforme aponta a alternativa C, não ocorre. Já a desigualdade de renda se manifesta claramente nos dois casos, com a presença de elites predominantemente brancas, de origem européia.


Questão 54 – Gabarito A

O Estado-Nação moderno nasce no contexto da revolução francesa onde o território deixa de pertencer diretamente ao monarca e passa a ser propriedade do povo, que através do princípio democrático escolhe seus dirigentes políticos. Alguns elementos são essenciais à formação do Estado-Nação moderno, dentre eles: o povo, a presença de um governo, um território delimitado por suas fronteiras e uma constituição. Outros elementos funcionam como símbolos nacionais, a exemplo do hino e da bandeira, não sendo, contudo, essenciais para a constituição do Estado-Nação.


Questão 55 – Gabarito D

Mesclando conteúdos de história e geografia, esta questão demanda a interpretação de um gráfico que retrata o grande crescimento no percentual de eleitores no Brasil entre 1930 e 2000. Este aumento é explicado pela inclusão do voto feminino e dos analfabetos no período em tela e tem, como conseqüência, a expansão da cidadania política. O pluripartidarismo não elevaria o número de eleitores, mas ampliaria as opções de escolha do eleitorado.


Questão 56 – Gabarito A

O gráfico, cuja interpretação era essencial para resolução da questão, reflete o crescimento do percentual da população economicamente ativa (PEA) francesa no setor terciário. A agricultura sofre queda desde o fim dos anos quarenta e a indústria cresce até os anos setenta, entrando em declínio daí em diante. Para a redução do percentual da população ocupada na agricultura, temos como causa o processo de modernização e mecanização das lavouras. Na indústria, o contexto industrial pós-fordista, surgido nos anos 1970, impõe uma forte redução da população ocupada devido a automação dos processos produtivos. A demanda da indústria passa a ser por uma mão-de-obra mais qualificada, habilitada a manipular os robôs inseridos nas linhas de montagem. Portanto, o processo retratado no gráfico é a terciarização da economia, justificada, dentre outras razões, pela reorganização do modelo industrial no mundo.


Questão 57 – Gabarito D

Nas anamorfoses apresentadas na questão identifica-se que a produção de computadores no território americano é baixa, já as receitas provenientes do licenciamento pelo uso marcas e fabricação de produtos são muito altas. A razão para as baixas exportações é a presença de diversas deseconomias de aglomeração no território americano, podendo-se destacar a mão-de-obra cara e sindicalizada, o alto valor do solo urbano, os impostos elevados, entre outras desvantagens que elevam o custo de produção nos Estados Unidos. Áreas com custos mais baixos como China, Índia e Tigres Asiáticos, atraem estas fábricas, sabendo-se que estes espaços oferecem mão-de-obra qualificada e muito mais barata do que a americana, além de outras vantagens como os incentivos fiscais e a baixa sindicalização.. Já as receitas elevadas refletem o domínio americano do setor de tecnologia de ponta. Ou seja, as tecnologias patenteadas são desenvolvidas em laboratórios presentes em solo americano, mas as linhas de montagem apresentam-se em espaços com custos de produção menores.


Questão 58 – Gabarito B

A década de 1950 marca a explosão de um movimento migratório de massa no sentido Nordeste-Centro-Sul, conhecido como êxodo rural. Os quadros social e fundiário associados aos problemas climáticos explicam este movimento. A estrutura fundiária do Sertão é marcada pelo binômio latifúndio-minifúndio, sabendo-se que os latifúndios são mantidos sem produção, como reserva de valor, numa atividade especulativa. Já os minifúndios apresentam uma agricultura baseada em técnicas e ferramentas rudimentares, fazendo policulturas alimentares em caráter de subsistência. Esta injusta distribuição de terras somada à falta de proteção aos trabalhadores rurais, a exemplo dos empregados das lavouras de cana-de-açúcar da Zona da Mata Nordestina, e ao agravamento das condições de vida provocado pelas secas daquela década, leva à organização das ligas camponesas, que reivindicam leis trabalhistas para o campo e reforma agrária. Em 1957, durante o governo JK, foi criado o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), que analisou os desequilíbrios regionais do Brasil e defendeu reformas na economia nordestina como a intensificação dos investimentos industriais, a reforma agrária na Zona da Mata, a modernização da agro-pecuária do Semi-árido, entre outras propostas. Como fruto do GTDN, nasce a SUDENE, em 1960, mas os parlamentares ligados aos interesses de manutenção do latifúndio reprimiram veementemente as ações do órgão, tirando-lhe a eficácia.


Questão 59 – Gabarito C

A análise do gráfico desta questão impõe variantes complexas. Temos o percentual sobre o PIB entre 1901 e 2000 do Imposto sobre a renda (1); Imposto sobre produtos industrializados (2); Imposto de importação (3); e Imposto sobre operações financeiras (4).
O imposto sobre a renda (1), que era a menor arrecadação até os anos 1930, cresce rapidamente, correspondendo à maior arrecadação atualmente. Isso se explica, não somente pelo aumento da taxação da renda da população, mas também pelo aumento da renda média nacional.
O imposto sobre produção industrial (2) apresenta-se estável até os anos 1930, quando o modelo de substituição de importações, apoiado pelo governo, amplia a industrialização do país, elevando a arrecadação. Cabe ressaltar que o auge desse processo coincide com o milagre econômico da ditadura militar (1968-1973), havendo, posteriormente, profunda queda na produção industrial – reflexo da crise econômica e energética mundial – e que este momento de crise aumenta a taxação sobre a renda da população. É a década perdida.
A arrecadação de impostos sobre a importação (3) é muito alta até 1914, pois, até este momento, o Brasil dependia muito da produção externa, não possuindo um parque industrial expressivo. Com o início da primeira guerra, cai a chegada de produtos europeus, já que os países exportadores estão diretamente envolvidos no esforço de guerra. Portanto, a arrecadação de receitas com esses impostos cai vertiginosamente. Durante a segunda guerra ocorre um processo semelhante e o modelo de substituição de importações começa surtir efeito. Nos anos 1990 as importações aumentaram bastante com a abertura de mercados promovida pelo governo Collor, mas a redução das barreiras alfandegárias mantém baixa a arrecadação de impostos de importação.
Já a arrecadação de impostos sobre operações financeiras (4) é baixa apresentando estabilidade relativa ao tamanho do PIB durante todo o século. A economia cresce e cresce também o volume de impostos arrecadados, mas o percentual se mantém estável.
Portanto, a partir dessa análise, podemos dizer que entre 1930 e 1970 houve aumento da riqueza gerada pela produção industrial, sendo uma das razões para tal crescimento o apoio governamental que estabelece o modelo de substituição de importações.


Questão 60 – Gabarito A

A propaganda da Varig, publicada na revista Veja em 4 de julho de 1969 traz o slogan: “A Varig também está em ritmo de Brasil grande”, denotando a expansão da empresa e fazendo alusão ao milagre econômico em curso naquele momento da história do país. O anúncio traz, ainda detalhes das conexões nacionais e internacionais promovidas pela empresa. Vale lembrar que durante o milagre, o governo também teve os seus slogans como “Ninguém segura este país” ou o “Pra frente Brasil”, presente várias vezes na letra da música que saudava a seleção tricampeã na copa de 1970. E que neste momento, o governo realizava obras visando a integração nacional, como a construção das rodovias Transamazônica e Perimetral-norte, além da ampliação da infra-estrutura energética com hidrelétricas e investimentos no setor de petróleo. Portanto as idéias valorizadas tanto pelo anúncio quanto pelo governo brasileiro, na época, estão associadas à expansão econômica e à integração nacional.


Sucesso pra todos! Um abraço solidário!

Um comentário:

Anônimo disse...

Infelizmente as provas de multipla escolha são desonestas ao extremo. Não medem absolutamente nada.
A UERJ em especial sempre deixa o candidato entre duas alternativas e não por acaso induz sempre ao erro, o que nem sempre lá na hora é possível ter a destreza de avaliar isso devido ao tempo e ao emocional.

O pior de tudo é disputar um dos cursos mais concorridos privando-se durante anos pra priorizar os estudos na tentativa de conseguir passar, e quando de fato isso acontece encontrar uma universidade em total decadência.

Isso é Brasil!