sábado, 6 de agosto de 2011

MECANISMOS DA GUERRA CAMBIAL E A CILADA DO EURO

Mecanismos da Guerra Cambial

Uma das principais formas de se garantir o crescimento de uma economia e a manutenção de suas finanças em níveis saudáveis é ganhar mais e gastar menos, uma receita muito popular. Contudo existem diversas maneiras de produzir esse efeito, entre as quais destaco as seguintes:

- Arrecadar mais impostos e reduzir despesas internas.
- Exportar mais e importar menos.

Quanto ao primeiro grupo de medidas, fica evidente que a parte mais prejudicada nesse tipo de ajuste é a população, que pagará impostos mais altos e verá seu governo reduzir os gastos com educação, saúde, habitação, transportes e outros setores importantes para a sociedade.

O segundo grupo de medidas encontra obstáculos diferentes afinal não se muda o padrão de exportações e importações da noite para o dia.

Para exportar mais é preciso gerar um ambiente propício à exportação e isso depende de infraestrutura de transporte, de armazenagem de produtos e de comunicações. Depende também da carga tributária, dos custos espaciais (aluguel ou compra de terrenos, preservação ambiental etc.) e dos custos de mão-de-obra.


Fonte: http://migre.me/5pQw2

Essas condições não são criadas em pouco tempo mas às custas de investimentos de longo prazo ou de pressões sobre os trabalhadores, que veem sua legislação flexibilizada e seus sindicatos incapazes de defendê-los, e sobre o meio ambiente, quase sempre prejudicado sem proteção ou reparação de danos.

Reduzir as importações seria uma opção mais rápida com a possibilidade de se realizarem bloqueios às importações por decreto. No entanto, essa prática foge aos princípios que regulam o mercado internacional atual, configurando forte protecionismo, podendo, inclusive, ser impedida aos membros da Organização Mundial do Comércio através de sanções do organismo.

Nesse contexto, a subvalorização cambial, ou seja, a desvalorização da moeda, se apresenta como um mecanismo que cria artificialmente as condições para elevar as exportações e reduzir as importações. Para entender como isso é possível, tomaremos dois cenários de comparação entre o Real (moeda brasileira) e o Dólar (moeda estadunidense).

Cenário 1: Um dólar equivale a 2 reais, ou seja, o real está valorizado.

Cenário 2: Um dólar equivale a 4 reais, ou seja, o real está desvalorizado.

Observe que o Brasil já viveu essas duas situações em momentos diferentes nos últimos 10 anos. E tomemos, primeiramente, o ponto de vista de um exportador brasileiro.

Se o produto de um exportador brasileiro tem custo final de 20 mil reais, no cenário 1, sua produção vale 10 mil dólares. Já no cenário 2, sua produção valeria apenas 5 mil dólares, ou seja, um valor menor e muito mais competitivo. Conclusão: a moeda desvalorizada facilita as exportações.

Tomemos, agora, o ponto de vista de um importador brasileiro. Se o produto importado custa 20 mil dólares, no cenário 1 ele custaria 40 mil reais. Já no cenário 2, com real desvalorizado, o mesmo produto custaria 80 mil reais, ou seja, um preço bem menos competitivo. Conclusão: a moeda desvalorizada dificulta a importação.

Diante da crise financeira que se arrasta desde 2008, a China, os Estados Unidos e alguns países europeus de fora da Zona do Euro adotaram mecanismos que criam e recriam a subvalrização cambial de suas respectivas moedas. O objetivo desses países é claro: elevar a balança comercial ganhando mercados e reduzindo importações.


Fonte: http://migre.me/5pQ7Q

O governo brasileiro já acusou diversas vezes esses países de praticarem uma "Guerra Cambial", que afeta diretamente a economia brasileira, especialmente os seus setores exportadres. Esse ambiente "corrosivo" (ver link de "Guerra Cambial") levou o governo brasileiro a lançar uma política industrial apresentada como uma "cruzada" contra o ambiente comercial predatório.

Segundo matéria publicada no G1, a política industrial lançada pelo governo "inclui a devolução de impostos e financiamento a exportadores, desoneração de folha de pagamento para setores intensivos em mão de obra e uma política tributária especial para montadoras. O programa é anunciado num momento em que vários países desvalorizam suas moedas na ânsia por aumentar sua competitividade em uma economia enfraquecida, sobretudo nos países mais ricos".

Cabe ressaltar que em economias e em setores muito dependentes da importação, a subvalorização cambial pode ser desastrosa ao encarecer produtos essenciais como alimentos ou medicamentos importados, por exemplo, ou restringir a importação de maquinário industrial determinando desaceleração da produção industrial e desemprego, consequentemente.


A Cilada do Euro

O mecanismo da subvalrização cambial não está à disposição dos países que compõem a Zona do Euro. Como a moeda é comunitária, não cabe a um país ou outro resolver suas crises financeiras internas manipulando o valor do Euro. Quem controla a moeda comum da União Europeia é o Banco Central Europeu, em Frankfurt.

Nesse caso as alternativas que tem se apresentado aos países em crise como a Grécia, a Irlanda, a Espanha, a Itália e Portugal tem sido:

1 - recorrer à ajuda interna de outros membros do bloco com economias mais sólidas, como a Alemanha, a França e o Reino Unido. Uma situação que cria a desconfortável sensação para alemães franceses e britânico de estarem "sustentando" economias pobres.

2 - Recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que foi criado justamente para oferecer créditos de curto prazo para fins de recuperação econômica.


Fonte: http://migre.me/5pQhH

No entanto, a receita tradicional do FMI baseia-se na aplicação do primeiro grupo de medidas que mencionamos aqui, ou seja, aumentar impostos e cortar gastos. As populações desses países já sabem que vão viver em recessão por muito tempo com efeitos sociais muito fortes. Desemprego, dificuldade de acesso à educação, saúde, moradia estão entre os principais problemas a serem o enfrentados por eles.

Não é em vão que estão nas ruas a protestar.

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