segunda-feira, 12 de novembro de 2007

PROVA DA UERJ - 2º EXAME - COMENTÁRIOS

A prova de ciências humanas do segundo exame de qualificação da UERJ-2008 exigiu a análise de aspectos econômicos relacionados a impactos políticos e socioespaciais das transformações nas redes de circulação de riquezas no contexto da mundialização do capitalismo. A maior parte das questões exigiu a interpretação de elementos visuais. Dentre eles temos mapas, gráficos, charges, imagens de propagandas e fotografias.

A quantidade de questões que inclui conteúdos de história aumentou em relação ao primeiro exame deste ano, no entanto houve, novamente, o predomínio de questões ligadas aos conteúdos de geografia. Não há, no nosso entendimento, nenhuma questão passível de anulação. Consideramos, esta, uma das melhores provas de ciências humanas dos últimos exames de qualificação da UERJ, com questões simples, exigindo atenção, observação e raciocínio, além de cobrar poucos conteúdos específicos.

Consulte este gabarito comentado, preferencialmente, com o caderno de questões.


Questão 44 - Gabarito D

Nesta questão, o mapa da esquerda apresenta o território francês e as conexões da cidade de Paris com outros núcleos urbanos franceses destacando que algumas conexões são processadas através de linhas de trens convencionais, e outras através de linhas de trens de grande velocidade (TGV). No mapa da direita, o território francês apresenta-se distorcido em função do tempo de conexão de Paris com as outras aglomerações urbanas. Neste caso, é fundamental notar no mapa da esquerda que algumas cidades encontram-se, aproximadamente, a uma mesma distância em relação à Paris, mas, por estarem integradas através de linhas férreas de tecnologias diferentes, o tempo de conexão também é diferente. As cidades de Marseille e Bayonne refletem isso muito bem. Marseille, integrada pelo TGV, está a três horas da capital, enquanto o trajeto Paris-Bayonne é de quatro horas e meia, aproximadamente. Portanto, a rede ferroviária francesa é composta por linhas de níveis tecnológicos diferenciados e isso se reflete no favorecimento da acessibilidade de alguns aglomerados urbanos como Marseille.


Questão 45 – Gabarito A

A interpretação do gráfico associada ao conhecimento do significado da expressão ‘oligopólios’ era suficiente para responder corretamente esta questão. No gráfico - que representa o percentual do mercado mundial dominado pelas cinco maiores empresas dos setores de minério de ferro (90%); equipamentos siderúrgicos (65%); automóveis (60%); produtos químicos [gases] (80%) e Celulose (70%) - fica claro que um número muito pequeno de empresas controla uma parte muito grande dos mercados citados, constituindo oligopólios. Os oligopólios consistem, exatamente, no controle majoritário de um mercado por um pequeno grupo de empresas. Cabe ressaltar que eles se formam, em geral, através de estratégias de associação de capital como os trustes horizontais – fusões de empresas – e os cartéis – sistemas ilegais de combinação de preços e divisão de mercados – que eliminam gradativamente a concorrência.


Questão 46 – Gabarito C

A questão aborda as contradições do processo de globalização, trazendo um pequeno texto sobre a formação de um bloco econômico (Nafta) que reúne Estados Unidos, Canadá e México como países membros, e uma charge que evidencia as barreiras à imigração mexicana para os Estados Unidos. Uma das principais finalidades da formulação de um bloco econômico é a facilitação da circulação de produtos, capitais, bens e serviços. Mesmo no Nafta, que constitui apenas uma área de livre comércio – o estágio inicial de integração de blocos econômicos – tal facilitação é uma realidade. No entanto, no que tange aos movimentos migratórios, o processo de globalização se contradiz através das nítidas barreiras à circulação impostas pelos países centrais à população com origem nos países periféricos. As guerras, as perseguições políticas e religiosas e, principalmente, as pressões socioeconômicas, impõem movimentos migratórios orientados em direção aos espaços onde o quadro de bem-estar social é mais positivo, como é o caso dos países centrais. E as barreiras se manifestam através da não-concessão de vistos, fiscalização das fronteiras, construção de muros (barreiras físicas), podendo culminar em prisões e deportações.


Questão 47 – Gabarito B

Com conteúdo focado em história, a questão trás um cartaz onde se lê: “Ajude a esmagar o eixo comprando bônus de guerra”. A imagem é representada por um imenso tanque, com bandeiras dos países aliados na segunda guerra mundial, avançando sobre elementos que representam as forças do eixo. A bandeira brasileira no tanque representa a postura do governo em relação ao conflito, onde o Brasil se aproxima aos aliados no combate ao eixo.


Questão 48 – Gabarito B

Abordando a bipolaridade da guerra fria, a charge reflete a “Capacidade de Dissuasão Nuclear” que manteve o equilíbrio entre as superpotências – Estados Unidos e União Soviética – na corrida armamentista. Essa capacidade produz a doutrina da “Destruição Mútua Assegurada” pois nenhuma das superpotências promove um ataque direto contra a rival na certeza de que este ataque seria identificado e respondido imediatamente, gerando a destruição de ambas. É esse clima de “Equilíbrio do Terror”, sem confrontos diretos, que caracteriza a guerra fria.


Questão 49 – Gabarito B

A questão destaca o processo de urbanização dos países subdesenvolvidos. Este processo é caracterizado por ser recente, acelerado e derivado de uma industrialização com tecnologias importadas, ou seja, sem a vivência de uma revolução industrial completa, cujo pilar seria o desenvolvimento das tecnologias internamente. A modernização foi importada e conservadora, portanto, excludente. No quadro recente, a automação industrial transfere para o setor terciário o predomínio das atividades urbanas. O baixo poder aquisitivo médio da população dos países subdesenvolvidos limita o consumo de bens e serviços reduzindo as possibilidades de emprego formal no setor terciário. A informalidade emerge nesse contexto como uma saída para a população que não consegue inserir-se no mercado de trabalho formal, manifestando-se no espaço urbano através da presença de camelôs e biscateiros, dentre outras formas. A ausência de garantias trabalhistas e a redução da arrecadação de tributos (previdência) pelo Estado são conseqüências desta informalidade.


Questão 50 – Gabarito D

Os mapas desta questão retratam a divisão política municipal do Brasil de 1940 (1574 municípios) e 2000 (5507 municípios), retratando a clara ampliação da fragmentação do poder político municipal neste período. A interiorização do povoamento estimulada no período em tela contribui para a fragmentação, pois a ocupação heterogênea do espaço e as atividades exercidas em cada localidade criam identidades que fomentam a separação. A constituição de 1988, além de fortalecer o federalismo – princípio de autonomia dos estados em consonância com as determinações constitucionais – transforma antigos territórios, que estavam sob administração direta da União, em Unidades Federativas, ou seja, estados, como é o caso de Roraima, Rondônia e Amapá. E dentre as flexibilizações geradas pela constituição figuram os parâmetros para a emancipação dos municípios, o que facilita a fragmentação do poder político municipal no Brasil.


Questão 51 – Gabarito B

Com conteúdo focado em história, a questão faz alusão ao controle do tempo com base em relações político-ideológicas como é o caso da criação do calendário que tem como marco a revolução francesa. A proclamação da república define o Ano I do recém-criado calendário francês, possuindo tal calendário seus meses específicos, destacando o mês Termidor, em que Robespierre foi executado, e o episódio do dia 18 Brumário do calendário republicano, em que um golpe de Estado levou o general Napoleão Bonaparte ao poder. Uma evidência que ajudaria ao candidato a responder à questão é o nome do autor do texto que introduz a questão (Jaques Le Goff), nitidamente de origem francesa.


Questão 52 – Gabarito D

A análise da imagem apresentada é essencial à resolução desta questão. Nela vê-se um elemento indígena no centro, com grande destaque; uma escultura de Aleijadinho, no alto, representando um profeta; e dois jogadores de capoeira, na parte de baixo. A associação desses elementos remete às múltiplas origens que compõem o povo brasileiro e sua identidade nacional, estando tais valores associados à miscigenação do povo, com matrizes indígenas (o índio), africanas (os capoeiristas) e européias (o profeta – símbolo da tradição cristã).


Questão 53 – Gabarito A

A questão compara o fim da escravidão no Brasil ao fim do Apartheid na África do Sul no sentido de que os dois processos deixaram marcas, heranças socioeconômicas em seus respectivos espaços. Nos dois casos não há mais legislação discriminatória. A representação política existe e pode ser exemplificada pela eleição de Mandela, após o apartheid, na África do Sul, e pelas ações afirmativas presentes no Brasil atual em relação a população que se define como afro-descendente. Ainda há formas discriminação cultural das minorias, mas a exclusão cultural, conforme aponta a alternativa C, não ocorre. Já a desigualdade de renda se manifesta claramente nos dois casos, com a presença de elites predominantemente brancas, de origem européia.


Questão 54 – Gabarito A

O Estado-Nação moderno nasce no contexto da revolução francesa onde o território deixa de pertencer diretamente ao monarca e passa a ser propriedade do povo, que através do princípio democrático escolhe seus dirigentes políticos. Alguns elementos são essenciais à formação do Estado-Nação moderno, dentre eles: o povo, a presença de um governo, um território delimitado por suas fronteiras e uma constituição. Outros elementos funcionam como símbolos nacionais, a exemplo do hino e da bandeira, não sendo, contudo, essenciais para a constituição do Estado-Nação.


Questão 55 – Gabarito D

Mesclando conteúdos de história e geografia, esta questão demanda a interpretação de um gráfico que retrata o grande crescimento no percentual de eleitores no Brasil entre 1930 e 2000. Este aumento é explicado pela inclusão do voto feminino e dos analfabetos no período em tela e tem, como conseqüência, a expansão da cidadania política. O pluripartidarismo não elevaria o número de eleitores, mas ampliaria as opções de escolha do eleitorado.


Questão 56 – Gabarito A

O gráfico, cuja interpretação era essencial para resolução da questão, reflete o crescimento do percentual da população economicamente ativa (PEA) francesa no setor terciário. A agricultura sofre queda desde o fim dos anos quarenta e a indústria cresce até os anos setenta, entrando em declínio daí em diante. Para a redução do percentual da população ocupada na agricultura, temos como causa o processo de modernização e mecanização das lavouras. Na indústria, o contexto industrial pós-fordista, surgido nos anos 1970, impõe uma forte redução da população ocupada devido a automação dos processos produtivos. A demanda da indústria passa a ser por uma mão-de-obra mais qualificada, habilitada a manipular os robôs inseridos nas linhas de montagem. Portanto, o processo retratado no gráfico é a terciarização da economia, justificada, dentre outras razões, pela reorganização do modelo industrial no mundo.


Questão 57 – Gabarito D

Nas anamorfoses apresentadas na questão identifica-se que a produção de computadores no território americano é baixa, já as receitas provenientes do licenciamento pelo uso marcas e fabricação de produtos são muito altas. A razão para as baixas exportações é a presença de diversas deseconomias de aglomeração no território americano, podendo-se destacar a mão-de-obra cara e sindicalizada, o alto valor do solo urbano, os impostos elevados, entre outras desvantagens que elevam o custo de produção nos Estados Unidos. Áreas com custos mais baixos como China, Índia e Tigres Asiáticos, atraem estas fábricas, sabendo-se que estes espaços oferecem mão-de-obra qualificada e muito mais barata do que a americana, além de outras vantagens como os incentivos fiscais e a baixa sindicalização.. Já as receitas elevadas refletem o domínio americano do setor de tecnologia de ponta. Ou seja, as tecnologias patenteadas são desenvolvidas em laboratórios presentes em solo americano, mas as linhas de montagem apresentam-se em espaços com custos de produção menores.


Questão 58 – Gabarito B

A década de 1950 marca a explosão de um movimento migratório de massa no sentido Nordeste-Centro-Sul, conhecido como êxodo rural. Os quadros social e fundiário associados aos problemas climáticos explicam este movimento. A estrutura fundiária do Sertão é marcada pelo binômio latifúndio-minifúndio, sabendo-se que os latifúndios são mantidos sem produção, como reserva de valor, numa atividade especulativa. Já os minifúndios apresentam uma agricultura baseada em técnicas e ferramentas rudimentares, fazendo policulturas alimentares em caráter de subsistência. Esta injusta distribuição de terras somada à falta de proteção aos trabalhadores rurais, a exemplo dos empregados das lavouras de cana-de-açúcar da Zona da Mata Nordestina, e ao agravamento das condições de vida provocado pelas secas daquela década, leva à organização das ligas camponesas, que reivindicam leis trabalhistas para o campo e reforma agrária. Em 1957, durante o governo JK, foi criado o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), que analisou os desequilíbrios regionais do Brasil e defendeu reformas na economia nordestina como a intensificação dos investimentos industriais, a reforma agrária na Zona da Mata, a modernização da agro-pecuária do Semi-árido, entre outras propostas. Como fruto do GTDN, nasce a SUDENE, em 1960, mas os parlamentares ligados aos interesses de manutenção do latifúndio reprimiram veementemente as ações do órgão, tirando-lhe a eficácia.


Questão 59 – Gabarito C

A análise do gráfico desta questão impõe variantes complexas. Temos o percentual sobre o PIB entre 1901 e 2000 do Imposto sobre a renda (1); Imposto sobre produtos industrializados (2); Imposto de importação (3); e Imposto sobre operações financeiras (4).
O imposto sobre a renda (1), que era a menor arrecadação até os anos 1930, cresce rapidamente, correspondendo à maior arrecadação atualmente. Isso se explica, não somente pelo aumento da taxação da renda da população, mas também pelo aumento da renda média nacional.
O imposto sobre produção industrial (2) apresenta-se estável até os anos 1930, quando o modelo de substituição de importações, apoiado pelo governo, amplia a industrialização do país, elevando a arrecadação. Cabe ressaltar que o auge desse processo coincide com o milagre econômico da ditadura militar (1968-1973), havendo, posteriormente, profunda queda na produção industrial – reflexo da crise econômica e energética mundial – e que este momento de crise aumenta a taxação sobre a renda da população. É a década perdida.
A arrecadação de impostos sobre a importação (3) é muito alta até 1914, pois, até este momento, o Brasil dependia muito da produção externa, não possuindo um parque industrial expressivo. Com o início da primeira guerra, cai a chegada de produtos europeus, já que os países exportadores estão diretamente envolvidos no esforço de guerra. Portanto, a arrecadação de receitas com esses impostos cai vertiginosamente. Durante a segunda guerra ocorre um processo semelhante e o modelo de substituição de importações começa surtir efeito. Nos anos 1990 as importações aumentaram bastante com a abertura de mercados promovida pelo governo Collor, mas a redução das barreiras alfandegárias mantém baixa a arrecadação de impostos de importação.
Já a arrecadação de impostos sobre operações financeiras (4) é baixa apresentando estabilidade relativa ao tamanho do PIB durante todo o século. A economia cresce e cresce também o volume de impostos arrecadados, mas o percentual se mantém estável.
Portanto, a partir dessa análise, podemos dizer que entre 1930 e 1970 houve aumento da riqueza gerada pela produção industrial, sendo uma das razões para tal crescimento o apoio governamental que estabelece o modelo de substituição de importações.


Questão 60 – Gabarito A

A propaganda da Varig, publicada na revista Veja em 4 de julho de 1969 traz o slogan: “A Varig também está em ritmo de Brasil grande”, denotando a expansão da empresa e fazendo alusão ao milagre econômico em curso naquele momento da história do país. O anúncio traz, ainda detalhes das conexões nacionais e internacionais promovidas pela empresa. Vale lembrar que durante o milagre, o governo também teve os seus slogans como “Ninguém segura este país” ou o “Pra frente Brasil”, presente várias vezes na letra da música que saudava a seleção tricampeã na copa de 1970. E que neste momento, o governo realizava obras visando a integração nacional, como a construção das rodovias Transamazônica e Perimetral-norte, além da ampliação da infra-estrutura energética com hidrelétricas e investimentos no setor de petróleo. Portanto as idéias valorizadas tanto pelo anúncio quanto pelo governo brasileiro, na época, estão associadas à expansão econômica e à integração nacional.


Sucesso pra todos! Um abraço solidário!

domingo, 11 de novembro de 2007

PROVA DA UERJ - 1º EXAME - COMENTÁRIOS

A prova de ciências humanas e suas tecnologias, do primeiro exame de qualificação do vestibular 2008, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), teve como eixo temático as questões relativas à circulação de pessoas, informações, mercadorias e capitais. Em dez, das dezessete questões, a idéia central esteve ligada a essa temática proposta pela prova. As outras questões fizeram apenas uma leve aproximação em relação a esse assunto.

A UERJ repete a tendência de trazer, nas provas de ciências humanas dos exames de qualificação, mais questões de Geografia do que de História. Tal postura da Comissão de Vestibular da Universidade pode ser associada com a retirada da Geografia como disciplina específica para vários cursos de alguns grupos, dentre eles o curso de Direito, um dos mais concorridos na parte de “Humanas”, fazendo com que a disciplina perca importância nesse contexto. Como História permaneceu na maioria dos casos, esta disciplina perde o peso que possuía nas provas objetivas, deixando espaço para a Geografia.

Nesta prova, que analisamos hoje, dez questões tem conteúdos focados em Geografia, cinco questões apresentam caráter interdisciplinar, como é praxe no vestibular da UERJ, no entanto, todas essas se apresentam mais voltadas para Geografia do que para História, exceto a questão 51. A questão 60 divide-se, de forma mais igualitária, entre geografia e história e a questão 53 apresenta conteúdos focados em História.

Segue uma análise pormenorizada de cada questão da prova.
Baixe a prova aqui!

Questão 44 - Gabarito letra A
A resolução desta questão depende, de forma quase exclusiva, da interpretação dos mapas apresentados. O primeiro, que se refere ao grau de concentração de terra, mostra que os estados do eixo Nordeste-Amazônia apresentam maiores índices de concentração fundiária. O segundo, que ilustra o grau de modernização agrícola, mostra que os estados do eixo Centro-Sul apresentam maior modernização, refletindo um campo mais capitalizado. Como a questão pede a relação verificada entre os graus de concentração de terras e de modernização, a resposta mais adequada, extraída da leitura dos mapas, é a que aponta os estados do Maranhão e Piauí apresentando relação inversa, ou seja, alta concentração fundiária e baixa modernização do campo.

Questão 45 – gabarito letra D
Esta questão, de caráter interdisciplinar, foca a análise da Geopolítica Mundial, especialmente no que se refere à Nova Ordem Mundial instaurada no mundo contemporâneo. As características dessa Nova Ordem opõem-se à análise de Samuel Huntington que via o “Choque de Civilizações” como reflexo de uma bipolaridade cultural representada pelo Ocidente e pelo mundo islâmico, onde não houve separação entre religião e política. A Nova Ordem é caracterizada pela Multipolaridade Econômica, tendo em vista a presença de blocos que disputam pelos mercados mundiais em igualdade com a América Anglo-Saxônica, dentre eles a União Européia e a Bacia do Pacífico, que inclui Japão, China e Tigres Asiáticos. É marcada pela unipolaridade militar, observando-se a larga supremacia bélica dos Estados Unidos, sem opositores à altura para um embate direto. E é marcada, também, pela multiplicação dos conflitos regionais. No contexto da guerra fria, esses conflitos, em sua maioria, estavam associados à bipolaridade que rivalizava Capitalismo e Socialismo. Atualmente, com a ausência dessa bipolaridade, percebe-se o recrudescimento dos nacionalismos, que impõem conflitos de ordem separatista como os que marcaram a Bósnia e o Kosovo, e disputas como as que marcam a questão dos Curdos, dos Tibetanos e dos Palestinos, entre outros povos.

Questão 46 – Gabarito letra C
Esta questão, focada em geografia, aborda a temática da circulação de informações. A UERJ, que já tinha abordado a televisão como um instrumento de difusão de modelos culturais, no primeiro exame de 2006, destaca, agora, o fato de que o acesso amplo aos aparelhos de TV, presentes mesmo nas residências de famílias com baixa renda, populariza os programas transmitidos, que atingem audiência de milhões de espectadores. Um dos efeitos dessa difusão é a massificação dos hábitos de consumo, já que a cultura de consumo é um dos modelos difundidos pelos meios de comunicação televisivos.

Questão 47 – Gabarito letra B
Focada em geografia, esta questão aborda a temática de circulação de pessoas, especialmente no que se refere ao conceito de urbanização, e depende, essencialmente, da interpretação da tabela apresentada pela questão. Relacionando riqueza e urbanização, a tabela mostra que as dez cidades mais populosas apresentam-se, majoritariamente, em países semiperiféricos, embora algumas das mais populosas estejam em países centrais, caso de cidades como Tóquio, Nova Iorque, Los Angeles e Osaka. Mostra, também, que as dez cidades mais ricas estão, todas, nos países centrais. Ou seja, “a concentração de riqueza não apresenta relação direta com a população absoluta”.

Questão 48 – Gabarito letra C
Esta questão aborda a temática de circulação de capitais, sendo focada em geografia, e depende, essencialmente da análise dos mapas apresentados. O mapa da esquerda mostra que os maiores índices de renda nas zonas urbanas estão no litoral Sudeste. O mapa da direita mostra que as maiores disparidades entre renda urbana e rural estão na mesma região. Desta leitura dos mapas depreende-se que “as áreas mais ricas apresentam maiores disparidades sociais”.

Questão 49 – Gabarito letra A
Abordando a temática de circulação de pessoas, especialmente no que se refere aos movimentos migratórios direcionados ao Brasil, esta questão, de caráter interdisciplinar, impõe a análise de um gráfico referente à distribuição das populações declaradas Negras, Brancas, Pardas e Outros, pelas regiões do país. Tendo em vista a grande entrada de imigrantes europeus no processo de colonização do Sul do Brasil, durante os séculos XIX e XX, o contingente de brancos nesta região é elevado.

Questão 50 – Gabarito letra C
Esta questão foca as principais reformas urbanas promovidas na cidade do Rio de Janeiro, em particular em sua área central, em boa parte do século XX. Essas reformas têm como conseqüência comum a ampliação das vias de circulação urbana, a exemplo da construção das avenidas Beira-Mar, Atlântica e Central (atual Rio Branco), na gestão de Pereira Passos, que também promoveu o alargamento das ruas do Catete, Prainha, Marechal Floriano, Uruguaiana, Carioca, Sete de Setembro e Camerino. A demolição do Morro do Castelo é parte das obras do Prefeito Carlos Sampaio. A gestão de Henrique Dodsworth tem como uma de suas marcas a abertura da avenida Presidente Vargas além do arruamento dos arredores do Aeroporto Santos Dumont e da urbanização de alguns bairros do subúrbio como Ramos. Carlos Lacerda, como governador do Estado da Guanabara, foi responsável pela construção de boa parte do aterro do Flamengo, do túnel Santa Bárbara e por parte do túnel Rebouças, inaugurado na gestão de Negrão de Lima, seu sucessor. Nesse contexto, a questão contempla a temática da circulação de pessoas e mercadorias na cidade do Rio de Janeiro.


Questão 51 – Gabarito Letra D
Essa questão de caráter interdisciplinar coloca a formação cultural de uma sociedade como um elemento fundamental para a violência. A questão não exclui a argumentação que aponta a pobreza como causa para a violência. No entanto, ressalta, diante da comparação da realidade apresentada no texto com a realidade brasileira, que o argumento da pobreza é “insuficiente” para explicar a questão.

Questão 52 – Gabarito letra A
Apresentando-se focada na temática da circulação de pessoas, a resolução dessa questão, de caráter interdisciplinar, depende da interpretação do gráfico apresentado, em associação com os conhecimentos do aluno. Fazendo a leitura do gráfico, percebe-se que boa parte dos imigrantes presentes nos países europeus têm origem em paises onde houve uma relação de colonização no contexto do imperialismo. Como exemplos temos a presença de Argelinos e Marroquinos na França, e de Indianos, Paquistaneses e Sul-africanos, no Reino Unido. Outras presenças estão associadas à proximidade como no caso entre Grécia e Albânia, Suíça e Itália, e Espanha e Marrocos, considerando-se disparidades sócio-econômicas entre tais áreas. E as justificativas para os fluxos em direção à Alemanha estão associadas ao desenvolvimento econômico do país e ao grande número de empregos industriais ainda existentes.

Questão 53 – Gabarito letra A
Questão focada em história, retratando uma conseqüência da entrada do Brasil no grupo de aliados, que é a aproximação com os Estados Unidos, que assumiram a liderança contra o Eixo, durante a segunda guerra. Cabe ressaltar que o governo Vargas nos idos de 1942 criava indústrias estatais como a CSN e a Vale do Rio Doce, o que elimina a alternativa D; adotava medidas protecionistas, o que elimina a alternativa B; e tinha forte caráter nacionalista, incompatível com a alternativa C.

Questão 54 – Gabarito letra C
Ligada à temática ambiental, essa questão deveria ser resolvida a partir da interpretação do mapa apresentado. Todos os dados em destaque no mapa referem-se à hidrosfera, seja no que tange ao fluxo, alimentação e recarga dos rios, dos aqüíferos, ou no que tange à redução da umidade do solo, perspectiva apontada para parte da Amazônia Brasileira. Destacando regiões como a América do Sul, África, Ásia e Sul da Europa, o mapa sugere a interpretação de que as principais áreas afetadas serão os países mais pobres, e que o principal problema será a escassez de água.

Questão 55 – Gabarito letra B
Algumas transformações processadas nos setores secundário e terciário estão retratadas nessa questão, que aborda a circulação de capitais, dentro da temática proposta pela prova. Uma das faces modernas do processo de globalização refere-se à padronização do consumo, a partir da difusão de modelos culturais. A expansão das empresas transnacionais, identificada como causa histórica para tal padronização, reflete o processo de globalização da produção, onde empresas de determinados paises espalham suas atividades por todo o espaço mundial, conquistando os mercados apoiados por estratégias de marketing que se adaptam ao universo cultural local. Na Índia, por exemplo, a Rede McDonalds vende hambúrgueres com carne de carneiro, pois as vacas são consideradas sagradas. Lá, eles também mantêm um cardápio vegetariano voltado para religiosos hindus ortodoxos. Carne de pato e queijo roquefort fazem parte do cardápio nas lanchonetes da rede na França.

Questão 56 – Gabarito letra D.
A questão, baseada na interpretação da “tirinha”, aborda o crescimento populacional como um problema grave do mundo atual. Podemos extrair da ilustração a idéia de que o crescimento vegetativo elevado, típico dos países pobres, no contexto atual, conduzirá o planeta à exaustão dos seus recursos. Dentre as alternativas, a mais adequada é a D, que a ponta a teoria Neomalthusiana. A questão, em si, caminha para indicar a teoria Ecomalthusiana, oriunda do Clube de Roma (1968) e exposta na conferência de Estocolmo (1972), já que ela faz, exatamente a relação entre crescimento populacional e desgaste dos recursos naturais. No entanto, na ausência desta alternativa, e com a incoerência das outras opções, a resposta possível é a letra D.

Questão 57 – Gabarito letra C
Essa questão, que faz alusão ao processo de circulação de mercadorias e de capital, exige a interpretação de um gráfico que demonstra o crescimento do consumo de equipamentos domésticos (Automóveis, Televisão, Geladeira e Lava-roupa), apontando, portanto, mudanças no padrão de consumo de países desenvolvidos entre 1950 e 1990. O modelo produtivo é o Fordismo com produção em massa. A lógica de transferência, aos trabalhadores, de ganho de produtividade visava, não só estimular o trabalhador a produzir mais e melhor, como visava, principalmente, fazer com que o trabalhador comprasse o produto da empresa. Com esse mecanismo as empresas absorviam novamente parte do capital investido na remuneração da mão-de-obra.

Questão 58 – Gabarito letra B
Através da difusão do Jazz, música tradicional americana, a questão insere uma análise sobre o processo de globalização cultural cujas bases estão fundamentadas numa “rede de influências culturais recíprocas, facilitada pelo desenvolvimento mundial das telecomunicações”. Nesse contexto, a questão tem como temática a circulação de informação. Cabe salientar que os aparatos de difusão cultural estão muito melhor estruturados nos países centrais, o que lhes concede posição favorável diante do processo de globalização cultural. No entanto, a reciprocidade não impõe ao processo contribuições de mesmo peso, fazendo com que a alternativa seja verdadeira. Na alternativa A, o uso da expressão “formação de uma cultura homogênea” soa radical, tornando, a questão, falsa.

Questão 59 – Gabarito letra D
Essa questão, de caráter interdisciplinar, opõe dois modelos de Estado. O primeiro, de caráter interventor, busca a construção do Bem-estar Social, típico do Keynesianismo. O segundo, não-interventor, sustenta-se em bases liberais na nova ordem mundial, constituindo o Neoliberalismo.

Questão 60 – Gabarito letra B
Integração nacional e ampliação da rede rodoviária são respostas possíveis no que se refere a estratégias governamentais da ditadura militar no Brasil (1964/1985). Estes mesmos aspectos foram abordados pela UERJ em seu segundo exame de qualificação do ano de 2003. A referência à “Transa Amazônica” no cartaz, deixa clara a questão da rodovia. No entanto, a modernização urbana não pode ser considerada efeito socioeconômico desse processo. A aculturação da população local pode ser um reflexo desse processo já que, na imagem, vê-se a mulher, de raízes indígenas, utilizando vestimentas que fazem menção à Coca-Cola, tipo de refrigerante produzido por uma transnacional.

Calma, galera! Está só começando o vestibular!
Sucesso e um abraço solidário!

domingo, 4 de novembro de 2007

NOVOS INVESTIMENTOS EM GOIÁS

Texto publicado originalmente em Geografias Suburbanas no dia 06/04/2007, às 05:30 AM.

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O caráter de sertão, lugar distante, fim do mundo, sempre marcou os espaços do interior do Brasil. Juscelino Kubitschek foi aclamado como louco ao decidir construir a cidade de Brasília no território do estado de Goiás. O que poucos sabem é que tal decisão já tinha sido tomada muito antes da campanha eleitoral de Nonô para presidência, em 1955. A construção da nova capital constava na lei brasileira desde a primeira constituição republicana promulgada em 1891. Nela já se dizia que a capital deveria ser construída no estado de Goiás. Além disso, a mudança da capital já tinha sido sugerida por José Bonifácio, em 1821, preocupado com a segurança da família real, que morava nas margens da Baía de Guanabara, um alvo fácil pra qualquer invasor que ultrapassasse a barreira das fortalezas de São João e Santa Cruz, nos extremos da Baía .

O que Nonô fez foi bater o martelo e prometer a construção da capital em Goiás, como mandava a lei. Ganhou muitos votos com isso já que o povo de Goiás e dos estados próximos viu nessa obra, de magnitude incomparável, uma bela oportunidade de empregos e dinamização econômica. E cumpriu-se a promessa apesar do endividamento que a grande empreitada gerou para os cofres públicos.

Atualmente o estado de Goiás tem sido alvo de investimentos importantes quem vêm gerando empregos e diversificando o panorama econômico local e regional. Os setores automobilístico, farmacêutico, energético, alimentício, de insumos agrícolas e de turismo, devem gerar um total de investimentos que pode passar de R$ 4 bilhões nos próximos dois anos, vindos em menor parte dos cofres públicos e, em sua maioria, de aplicações privadas.

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Na área automobilística, os investimentos estão sendo feitos pela Brasileira CAOA em conjunto com a Hyundai. Juntas elas instalaram uma montadora em Anápolis, inaugurada no início de 2007, promovendo um investimento de aproximadamente R$ 600 milhões. A fábrica é da brasileira CAOA que montará os produtos Hyundai, com absorção de tecnologia, e pagará royalties à indústria sul-coreana. Ainda nesse setor, a japonesa Mitsubishi está investindo R$ 180 milhões na fábrica que já possui na cidade de Catalão, no Sul do estado, na fronteira com São Paulo e Minas Gerais. Esta mesma cidade já possui uma montadora da John Deere e apresenta um PIB per capita de mais de R$ 20 mil, segundo os dados do IBGE, produzidos em 2003.

No setor farmacêutico o estado de Goiás tem merecido forte destaque. O Eixo Anápolis-Goiânia possui um pólo farmacêutico com pelo menos 23 empresas das quais a maioria é especializada na produção de genéricos. Desenvolvido com uma forte política de incentivos fiscais, esse pólo já é o terceiro maior do país, perdendo apenas para São Paulo e Rio de Janeiro. A possibilidade de explorar a produção de genéricos de pílulas anticoncepcionais e o vencimento de patentes de alguns medicamentos cria a viabilidade de participação em um filão do mercado que movimenta algo próximo a R$ 1,4 bilhão por ano, o que deve gerar investimentos de R$ 300 milhões no pólo farmacêutico goiano. Os estudantes do curso de farmácia devem encontrar empregos aos montes e com bons salários por lá. Na área de produção de remédios para animais, a empresa argentina Biogenesis vai investir R$ 10 milhões no Distrito Agro-Industrial de Anápolis (Daia).

No setor de insumos agrícolas o grande destaque é o investimento que está sendo projetado pela Copebrás, empresa sediada em Cubatão/SP, mas que possui duas unidades no estado de Goiás, uma no município de Ouvidor e outra no município de Catalão. A unidade de Catalão, fruto de um investimento de R$ 140 milhões, será aumentada e produzirá uma quantidade bem maior de fosfatos e sulfatos do que vem produzindo ultimamente. A produção dos fertilizantes agrícolas praticamente irá dobrar. O investimento na ampliação pode chegar a R$ 180 milhões.

No setor alimentício, a Perdigão, que já estava instalada a um custo de R$ 700 milhões em Rio Verde, sul do estado, pretende promover uma ampliação de suas instalações através de um investimento que deve ultrapassar a casa dos R$ 500 milhões. Com receita líquida de R$ 5,15 bilhões em 2005, a corporação de origem catarinense foi a primeira empresa brasileira de alimentos a lançar ações na bolsa de Nova York, em 2001, e em 2006 adquiriu 51% das ações da Batávia S.A., entrando no mercado de lácteos. A cidade de Rio Verde merece destaque quando se trata da expansão do agronegócio no cerrado brasileiro, já que lá se planta arroz, soja, milho, algodão, sorgo, feijão e girassol, além da criação de bovinos, suínos e da criação avícola, pela qual a Perdigão é responsável.

O turismo também é uma atividade que vem crescendo no estado, especialmente no que se refere a modalidade de ecoturismo no desfrute das águas termais. A proliferação de Resorts dinamiza o setor no estado. A Atlantica Hotels International, que administra as marcas das redes americanas Choice, Starwood e Carlson, está inaugurando cinco hotéis no Brasil, sendo que dois são em Caldas Novas, um em Rio Verde e um em Goiânia, totalizando R$ 84 milhões investidos em Goiás. Na cidade de Rio Quente, a Rio Quente Resort, que constitui o maior complexo hoteleiro e aquático do país, enfrentará essa concorrência de Caldas Novas ampliando seu complexo turístico através de um investimento da ordem de R$ 69 milhões. Rio Quente e Caldas Novas recebem a metade dos quase cinco milhões de turistas que visitam o estado todos os anos.

E, completando esse quadro sintético dos investimentos em Goiás, na área energética, até o fim de 2007, estão prometidas sete novas geradoras elétricas para o estado. O custo deve chegar a R$ 1,5 bilhão.

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Vamos fazer uma análise geoeconômica crítica desses números. Depois da última crise financeira que se estabeleceu no Brasil, em 1999, a quantidade e a diversificação dos investimentos realizados no país vêm crescendo vigorosamente. A segurança econômica está provocando uma queda vertiginosa no índice conhecido como “Risco-País”, que na época da disputa eleitoral entre Lula e Serra, havia atingido o teto histórico acima de 2000 pontos. O Brasil só ganhava da Argentina, mergulhada em profunda crise financeira, e do Afeganistão, em guerra contra os Estados Unidos. Uma observação: A Argentina perdia para o Afeganistão. Nesse início de abril de 2007, o índice atingiu o seu piso histórico, chegando à casa de 165 pontos, algo considerado baixo pelos especialistas. Com toda essa segurança, estabelecida através de uma política econômica bastante conservadora, os investimentos vão chegando ao Brasil, apesar da forte carga tributária mantida pela nossa política fiscal.

O estado de Goiás desponta entre os que mais cresceram nos últimos anos, ao lado da Bahia e do Espírito Santo. Todos esses investimentos são baseados numa agressiva política de incentivos fiscais. Vários tributos municipais e estaduais são eliminados com o objetivo de atrair esses vultuosos investimentos. A contrapartida política com a geração de empregos, mesmo que eles sejam poucos, é muito forte, por isso prefeitos e governadores não medem esforços para abraçar essa guerra fiscal, na disputa pela atração das empresas.

O governo federal, que se recusa a participar dessa guerra, eliminou a lei de incentivos fiscais federais retomando a cobrança dos impostos federais. Apenas a Zona Franca de Manaus foi preservada dessa retomada e, por isso, volta a dar sinais de fôlego, atraindo indústrias, o que não acontecia desde o governo Sarney, criador da lei de incentivos fiscais.

Essa guerra fiscal é o que o geógrafo Milton Santos chamava de “A Guerra dos Lugares”. As cidades (os lugares) buscam oferecer o maior número de vantagens comparativas para atrair indústrias, ainda que isso signifique que as grandes corporações podem escolher segundo seus critérios (maior lucro possível – é claro) quais espaços irão ocupar e, obviamente, explorar. Goiás topou essa exploração em favor do crescimento econômico e partiu, com muito vigor, pra essa guerra.

E até agora, está ganhando.

Um abraço solidário!

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

A POLÊMICA TRANSPOSIÇÃO DO VELHO CHICO

Texto publicado originalmente em Geografias Suburbanas no dia 01/04/2007, às 2:20 PM

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Iniciando a série de textos sobre o Brasil contemporâneo, trago esse texto sobre a Transposição das águas do Rio São Francisco.

Uma das obras mais polêmicas e caras iniciadas pelo governo Lula, em seu primeiro mandato, é a de transposição de águas do rio São Francisco. O fato de ser caro explica-se pelo orçamento que, inicialmente, foi projetado em R$ 1,5 bilhão, mas que já se sabe que deve custar, pelo menos, R$ 4,5 bilhões, o que a transforma, sem dúvida, na maior obra iniciada no primeiro governo. Já a questão da polêmica, para ser compreendida, merece uma explanação mais detalhada, que exponha os principais argumentos de quem é contra e de quem é a favor da realização do projeto.


Mas antes de entrarmos na polêmica, vamos esclarecer ao leitor em que consiste a obra de transposição das águas do Velho Chico. O projeto pretende transformar rios temporários do semi-árido em rios permanentes. No semi-árido onde os rios são submetidos ao regime pluvial de alimentação, as baixas precipitações limitam a quantidade de água que chega ao leito dos rios. Nos períodos mais secos a falta de chuva faz os rios desaparecerem, o que os caracteriza como temporários. Com a transposição o regime de alimentação desses rios passaria a receber a contribuição das águas tiradas do São Francisco fazendo com que eles se tornem rios permanentes, ou seja, teriam fluxo de água durante o ano inteiro.

Com rios permanentes no semi-árido muitos benefícios podem ser produzidos. E o principal deles é o aumento da disponibilidade de água para o abastecimento humano. O Geógrafo e professor da USP Jurandyr L. Sanches Ross estima que 12 milhões de sertanejos devem ser favorecidos por esse benefício, nos estados da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.


Outro fator positivo importante está na possibilidade de uso agrícola das águas transpostas. O solo do semi-árido é fértil. Só precisa de mais água. A região do vale do São Francisco ensina isso hoje ao Brasil. Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), cidades vizinhas, separadas pelo rio, são exemplos claros de que é possível fazer uma agricultura com altíssimo padrão de qualidade em clima seco. Aliás, uma historinha...

Não faz muito tempo, depois do carnaval, provei um vinho pernambucano do vale do Velho Chico, chamado Rio Sol. Escrevo o nome do vinho, não pra fazer propaganda, mas porque achei genial. Ganhei de presente de um amigo vindo do Sul. Nunca vi uma garrafa desse vinho nas prateleiras daqui.

O Rio e o Sol são os dois elementos que permitem a produção, de uvas e frutas em geral, com alta qualidade na região. O rio para irrigação, claro. E o Sol para que se possa controlar essa irrigação. Com pouca chuva, o homem controla através de técnicas, toda a absorção de água pelos vegetais, gerando um padrão de qualidade elevadíssimo. Pode-se fazer uma técnica chamada ‘stress hídrico’ onde os agrônomos interrompem a irrigação. O vegetal, ao ‘perceber’ a redução da presença de água, inicia uma tarefa de armazenamento de energia na forma de glicose nos frutos. Ou seja, com stress hídrico, produzem-se frutos doces, muito doces. Uma beleza. Na Califórnia isso também é feito há anos. Porém nós, no Nordeste, temos mais Sol do que eles. Questão de posição latitudinal. Estamos mais próximos à linha do Equador.

A fruticultura realizada por lá é feita em pequenas e médias propriedades, quase todas de caráter familiar e que estão organizadas em cooperativas para a exportação da produção. O aeroporto internacional de Petrolina faz pelo menos dois vôos por semana para a Europa, carregados de frutas do vale do Velho Chico. A transposição possibilitaria a expansão desse negócio pelo semi-árido e também a produção voltada para o Biodiesel, gerando mais empregos, renda, energia mais limpa e desenvolvimento regional. Sem contar que isso reduzirá a dependência política da população local em relação aos coronéis e ao assistencialismo que vem gerando fortes dividendos políticos há séculos na região.

Fonte: http://oiramsemog.blogspot.com.br/2012/03/transposicao-do-rio-sao-francisco.html

No entanto, apesar dos enormes benefícios sociais e econômicos que podem ser produzidos pelo projeto, existem problemas que devem ser considerados devido à sua grande relevância. Numa análise superficial, já se consegue perceber que se tirarmos água do São Francisco para colocar em outros rios, o fluxo do Velho Chico será reduzido. A grande questão é: até que ponto poderemos tirar água do rio sem prejudicá-lo? Qualquer intervenção será sentida pelo rio e terá reflexos mais ou menos intensos dependendo da quantidade de água retirada.

Segundo Silvia de Faria Pereira e Carvalho, geógrafa e professora do Centro Pedagógico da UFMG, a vazão média do São Francisco é próxima a 1.860 m3/s e o Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF) fixou o valor de 1.500 m3/s que devem chegar ao oceano. Como se vê, sobram 360m3/s para residências, indústrias, agricultura e rebanhos. E o projeto pretende transpor 127m3/s para as bacias dos rios Jaguaribe, Apodi, Piranhas e Paraíba.

Além dessa questão, é preciso destacar que o projeto em seu Eixo Leste (Paraíba) e Eixo Norte (Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte) corta, em muitos casos, vários latifúndios do Sertão, o que pode gerar uma violenta especulação imobiliária nas terras sertanejas. Beneficiará, também, as grande empresas agrícolas da região.

E, por fim, com a redução da quantidade de águas no São Francisco, tem-se a redução da capacidade energética do rio, das cheias que possibilitam agricultura nas margens e haverá redução no nível da pesca, que é uma atividade que sustenta boa parte da população ribeirinha da região.

O assunto é espinhoso. São argumentos fortes, tanto a favor quanto contra a realização do projeto. E você, qual a sua opinião? Registre aqui.

Um abraço solidário!

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Referências:

Revista Discutindo Geografia – ano 2 – nº 10.
Estadão Negócios – Novo Mapa do Brasil – Maio 2006

SOBRE O ENSINO DE GEOGRAFIA FÍSICA

Adaptado do original publicado em Geografias Suburbanas no dia 20/12/2006, às 12:26 AM.

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Trabalhando desde 2003 com o ensino da Geografia, percebi que os alunos, de acordo com a sua faixa etária, apresentam interesse e disposição diferentes para lidar com a Geografia Física. Ao abordar este tema nas turmas de ensino fundamental, fica claro que é com entusiasmo que os alunos recebem as informações que sistematizamos para passarmos a eles. Tudo parece novo, mágico, instigante e somos bombardeados com dezenas de perguntas e curiosidades que os nossos alunos anseiam por esclarecer.

No entanto, o mesmo recorte temático encontra receptividade bem diferente se o grupo a trabalhar pertence a turmas do ensino médio. Nas turmas de pré-vestibular, trabalho este assunto nas primeiras semanas do ano, quando o ânimo e a disposição deles é grande. Se estas fossem as últimas aulas do calendário, quando o cansaço daqueles que se dedicaram é nítido, provavelmente, as turmas seriam formadas apenas por alguns desavisados que foram pra aula sem notar previamente qual era o tema da semana. Surge, então, o questionamento: o que será que provoca esta transformação radical na visão dos alunos sobre a geografia física?

Analisando a questão em busca de uma resposta entendo que este eixo temático, em comparação com os outros eixos abarcados pela ciência geográfica, parece ser aquele que possui a maior quantidade de explicações mecânicas, onde a dinâmica da natureza e seus princípios físico-químicos exercem predomínio. Processos como abalos sísmicos, subducção e o mecanismo de aquecimento da atmosfera exigem ao professor uma grande aproximação com a linguagem das ciências da natureza.

Creio que os pequenos pré-adolescentes do ensino fundamental, portadores de visão ainda bastante maniqueísta, buscam ansiosamente pela verdade absoluta, pelo que é certo e pelo que é definitivamente errado. Entendem que a ciência é a única capaz de fornecer-lhes esta verdade. Quando, então, nos apropriamos da linguagem científica para explicar os fenômenos fisiográficos, o professor transforma-se numa poderosa referência e eles desandam a perguntar tudo o que lhes vêm à mente. Geralmente a pergunta começa com um "é verdade que...", e assim vai.

Já os jovens do ensino médio parecem muito mais interessados em tramas e fatos do jogo político internacional. Guerras, informações especiais sobre guerra fria e espionagem industrial soam como música para seus ouvidos. Já a mecânica da geografia física soa como um ruído irritante. Acredito, neste caso, que a busca pelo amadurecimento intelectual, a possibilidade de ter recursos para discutir questões polêmicas, construir uma visão mais ampla do mundo e uma opinião política, podem ser agentes determinantes nesta transformação.

No ano de 2006, o uso de ferramentas tecnológicas no ensino de geografia física abriu uma outra perspectiva em minha experiência profissional. Percebi que com a tecnologia é possível provocar nos estudantes um novo encantamento com a dinâmica da natureza. A própria geografia física evoluiu muito a partir dessas novas tecnologias e acredito que esta pode ser uma solução para enfrentar a aversão claramente manifestada pelos alunos.

No mais, gosto é algo que não se discute. E você, leitor? Gosta de Geografia Física ou não?

Um abraço solidário!