segunda-feira, 28 de março de 2011

A PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A passagem dos modos de produção artesanal e manufatureiro para o modo de produção industrial é, certamente, um processo transformador da realidade mundial, verdadeiramente digno de ser tratado como uma revolução. Até então, a evolução técnica das sociedades era muito lenta e com a indústria torna-se muito mais rápida e complexa. Para a produção, a grande mudança está na forte aceleração que o processo produtivo sofreu e na conseqüente multiplicação da capacidade produtiva.

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Essa passagem ocorre em uma data indeterminada, por volta de 1760, ou seja, na segunda metade do século 18, em terras da Inglaterra. Isso porque, naquele contexto histórico, os ingleses reuniram um conjunto de condições básicas - além do desenvolvimento tecnológico e do empreendedorismo - que permitiram a ocorrência das mudanças que criaram o advento da Grande Indústria.

Entre essas condições que levaram ao pioneirismo inglês destacam-se a disponibilidade de capital; a existência de reservas de carvão mineral no país; a presença de mão-de-obra livre e desempregada em grande volume após a expulsão de camponeses com os cercamentos dos campos; e a disponibilidade de matéria-prima para as primeiras indústrias, como a lã produzida no país e o algodão importado, que abasteceram a indústria têxtil.

Num primeiro momento a produção industrial gerava produtos de primeira necessidade como roupas, calçados, ferramentas, materiais de construção, alimentos e utilidades domésticas. Ao longo do processo, foram desenvolvendo-se as indústrias de base, especialmente as metalúrgicas e siderúrgicas, quando, já no início do século 19, a demanda de materiais metálicos vai além dos artefatos militares e se estende à construção das primeiras ferrovias.

O primeiro mercado consumidor foi o próprio mercado nacional inglês. Aos poucos os investimentos foram ampliados, com incentivos do Estado, viabilizando a busca de mercados além das fronteiras da Inglaterra, pondo em curso os primeiros passos da expansão imperialista. A mineração do carvão sustentou as necessidades energéticas das máquinas a vapor dentro das fábricas e dos navios e trens que circulavam com a produção para os novos pontos de produção e comércio.

Com condições técnicas em franca expansão, porém ainda bastante limitadas, transportes e comunicações eram processos caros. Por isso, pelo menos por algumas décadas, a organização espacial das grandes indústrias foi marcada pela concentração em pontos especiais, que reuniam o maior número de vantagens disponíveis, tais como mão-de-obra, energia, matéria-prima e mercado consumidor, para reduzir os custos dos fluxos.

Essa etapa do desenvolvimento do capitalismo se desenrola sob a égide do pensamento econômico liberal, sintetizado em Adam Smith. Para ele, a economia possuía uma “mão invisível” que fazia o trabalho de auto-regulação de modo que a intervenção regulatória do Estado seria desnecessária e acabaria por prejudicar o funcionamento da economia. O Estado poderia atuar como facilitador do desenvolvimento reduzindo entraves burocráticos e corrigindo as crises geradas por rupturas eventuais do equilíbrio econômico.

Outra marca do capitalismo nesse momento é a prática e a defesa da livre-concorrência. Ela seria fundamental pois favoreceria aqueles empreendedores que buscassem conquistar mercados fabricando produtos melhores por preços menores, o que seria ótimo para os consumidores. Mas rapidamente os novos industriais entenderam que isso era nocivo para eles e passaram a se associar em estratégias como cartéis e trustes formando oligopólios industriais, ou seja, uma situação onde poucas empresas dominam todo um ramo ou setor de mercado.

O desafio dos produtores industriais era sobreviver às ondas de evolução tecnológica dos produtos. Quando um conjunto de tecnologias encontrava aplicação produtiva, os industriais empreendedores percebiam uma rápida expansão dos seus lucros. Mas, quando essas tecnologias se disseminavam, a expansão cessava e havia estabilização. O surgimento de novas tecnologias provocava a queda dos lucros da comercialização dos produtos ultrapassados. Era preciso inovar, destruir velhas tecnologias e criar novas: a destruição criadora, imagem clássica cristalizada pelo economista austríaco Joseph Schumpeter, estudioso desses ciclos de desenvolvimento tecnológico.

Um dos traços mais importantes de todo esse processo revolucionário é o da exploração intensa do trabalho humano. Há relatos históricos de jornadas de 14 até 18 horas diárias de trabalho sem nenhum dia de descanso semanal; de agressão aos trabalhadores, que tinham remunerações baixíssimas; e de uso do trabalho infantil, que era preferido pelos industriais por as crianças ganharem menos, serem mais dóceis e menos resistentes a aprender o trabalho. Uma condição geral que remete à escravidão. Fica mais simples entender por que tantos europeus deixaram seus países no século 19 sabendo que as condições de trabalho e de vida eram essas.


Os trabalhadores se submetiam aos baixos salários em função dos altos níveis de desemprego nas cidades. Esse desemprego foi forjado na Inglaterra com a expulsão de camponeses para as áreas urbanas, formando o que Marx definiu como um “exército industrial de reserva”. Certamente a exploração dessa mais-valia – outro conceito de Marx, que representa a diferença entre o valor gerado pelo trabalho do operário e a quantia que ele recebe como salário – foi uma das principais fontes de lucro dos primeiros industriais do planeta. Os trabalhadores tinham muitos motivos pra se organizar em sindicatos e lutar por melhores salários e condições dignas de trabalho.

Por tudo isso, é importante destacar que a industrialização é, em essência, um processo que gera transformações excludentes na sociedade. No mínimo porque tira das mãos dos artesãos e passa para as mãos dos industriais o controle sobre as técnicas de produção; porque leva as primeiras potências industriais à colonização de novos territórios, na África e na Ásia, em busca de matéria-prima, mercados consumidores e espaços para o escoamento de seus capitais excedentes; porque conduz ao enriquecimento da burguesia industrial e à miséria de uma grande massa de operários excluídos.