quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

OS NOVOS PAÍSES INDUSTRIALIZADOS

Os espaços da industrialização clássica no mundo, aquela que despontou no século XVIII e se consolidou no século XIX, são a Europa Ocidental, a América anglo-saxônica, a Rússia e o Japão. Os demais países que hoje possuem industrialização forte podem ser chamados de “países de industrialização tardia”. Uma outra forma, que se tornou bastante comum nos últimos anos, é denominá-los “Novos Países Industrializados” (NPI’s), ou em inglês, “New Industrialized Countries” (NIC’s).

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O contexto e o processo de industrialização

A industrialização desses países decorre, em alguns casos, de iniciativas públicas e privadas internas, e, de maneira mais geral, do deslocamento espacial de grandes empresas transnacionais da Europa, dos Estados Unidos e do Japão para países do mundo subdesenvolvido, essencialmente da América Latina e do sul e sudeste da Ásia.

As multinacionais, especialmente no contexto do pós-guerra, aproveitaram-se dos avanços técnicos nas áreas de transportes e comunicações e transferiram fábricas para o terceiro mundo em busca de vantagens comparativas, tais como mão de obra barata, sindicatos fracos, ofertas atrativas de incentivos fiscais, menor pressão ambiental, matéria-prima abundante e mercados consumidores crescentes.

Os Novos Países Industrializados. Fonte: Wikipedia

Países como Brasil, México, Turquia, China, Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura, Índia, África do Sul e o território de Hong Kong receberam pesados investimentos industriais que mudaram o perfil de ocupação da população economicamente ativa, impulsionaram migrações do campo para as cidades e aceleraram o crescimento urbano que, em muitos casos, foi marcado pela desordem e pelas péssimas condições de vida oferecidas aos mais pobres.

Como o crescimento industrial desses países se dá em pleno contexto de guerra fria, a imposição da influência política e econômica do bloco capitalista e o combate à expansão do socialismo contribuíram para que a maioria desses países vivesse experiências políticas ditatoriais até o fim dos anos 80 ou início dos anos 90, quando a guerra fria acabou. As ditaduras ajudaram a garantir a segurança contra possíveis estatizações dos investimentos produtivos feitos pelas transnacionais nesses países.

As transformações na base produtiva das economias emergentes que constituem os Novos Países Industrializados foram capazes de substituir a velha divisão internacional do trabalho – onde os países subdesenvolvidos eram meros exportadores de bens primários e os países desenvolvidos eram exportadores de bens industrializados – por uma nova divisão internacional do trabalho, que conta não mais com dois grupos, mas com três grupos de países: os desenvolvidos com industrialização de ponta; os emergentes com industrialização de baixa tecnologia e alguns setores de ponta; e os subdesenvolvidos de baixa industrialização.

Diferenças importantes entre dois modelos

No entanto, apesar das muitas semelhanças entre os Novos Países Industrializados, existem diferenças significativas entre os modelos de desenvolvimento aplicados em cada região e em cada caso. Vejamos algumas situações.

Na América Latina, o modelo geral de desenvolvimento industrial ficou conhecido como substituição de importações, isso porque a orientação dos governos foi para a instalação de indústrias de bens de consumo e de indústrias de base que reduzissem ou eliminassem a necessidade de importação de bens industriais para abastecer o mercado interno. Os trabalhadores obtiveram conquistas de direitos trabalhistas de modo geral, como no Brasil de Vargas. No entanto, os investimentos em educação e qualificação profissional foram baixos ou insuficientes.

Já nos chamados “Tigres Asiáticos”, a industrialização se dá sob o modelo que ficou conhecido como “plataforma de exportação”, pois os governos orientaram a industrialização para o atendimento ao mercado externo. Os trabalhadores não receberam os mesmos tipos de proteção trabalhista que a América Latina conheceu, sendo submetidos à elevada exploração, com jornadas longas, em ambientes insalubres e vasto uso de trabalho infantil. Contudo, os investimentos em educação e qualificação profissional foram mais consistentes que os observados na América Latina, atraindo mais indústrias de produtos de tecnologia e alto valor agregado.

Alguns casos em destaque

Entre os tigres asiáticos, a Coréia do Sul destaca-se por não ter recebido tantas indústrias estrangeiras e por ter vivido o desenvolvimento de grandes indústrias nacionais, verdadeiros conglomerados formados por diversas empresas pertencentes a um mesmo grupo e que atuam em diversos setores da economia. Esses conglomerados são chamados de Chaebol, entre os quais se incluem empresas transnacionais como Hyundai, LG, Samsung, Daewoo e Ssangyong.

A China também pertence ao grupo dos Novos Países Industrializados embora tenha vivido trajetória bem diferente. O país é comunista e viveu sob um regime (maoísta) economicamente fechado até o final dos anos 70. A abertura econômica do país e a criação das chamadas Zonas Econômicas Especiais, onde o Estado chinês permitiu a instalação de indústrias estrangeiras, atraiu centenas de companhias transnacionais interessadas em explorar as vantagens competitivas do território.

A China, que nos últimos 30 anos foi o país que mais cresceu economicamente e hoje é a segunda maior economia do planeta, atraiu investimentos oferecendo mão de obra extremamente barata, legislação autoritária que impede a atuação sindical, proximidade com os países do eixo pacífico-índico, matéria-prima abundante e um mercado consumidor crescente, que hoje conta com uma classe média composta por mais de 300 milhões de pessoas.

Taiwan forma-se em 1949, quando a revolução chinesa conduzida por Mao Tsé-Tung perseguiu e expulsou do país os membros e seguidores do grupo derrotado, o partido Kuomintang. Eles fugiram para a ilha de Formosa, onde declararam sua independência, que ainda não foi reconhecida pela China, que considera Taiwan uma província rebelde. Os Estados Unidos apoiaram o governo de Taiwan fazendo pesados investimentos como forma de evitar a expansão do socialismo chinês sobre a ilha. Hoje o país possui diversas indústrias atuando em vários setores de tecnologia.

Hong Kong é um território chinês que esteve sob o controle do Reino Unido a partir de 1842 . Os chineses perderam o controle sobre o arquipélago como resultado da derrota sofrida na guerra do ópio. Um acordo devolveu o território aos chineses em 1997. No entanto, ao longo da guerra fria, Hong Kong serviu aos interesses capitalistas como uma espécie de “vitrine do capitalismo”, ou seja, uma maneira de mostrar ao povo chinês como o capitalismo seria melhor que o socialismo, e com isso atraí-lo. Nesse contexto, Hong Kong recebeu pesados investimentos financeiros e hoje tem uma bolsa de valores muito importante. A China, sabendo que receberia de volta esse território, propagou o slogan: “China: um país, dois sistemas”, que pode-se traduzir por um sistema político comunista fechado e um sistema econômico capitalista relativamente aberto.

Também a partir dos anos 80, na esteira do desenvolvimento dos tigres asiáticos, outros países, que ficaram conhecidos como “Novos Tigres Asiáticos”, também passaram a receber investimentos estrangeiros e a reproduzir o mesmo modelo de desenvolvimento. Nesse grupo estão Malásia, Indonésia, Tailândia e Filipinas. Um pouco depois, despontou o desenvolvimento industrial do Vietnã, com características muito semelhantes aos “Novos Tigres”. Alguns autores classificam esse país como “Novíssimo Tigre Asiático”.

A Índia alcançou a independência apenas em 1947 e viveu um franco desenvolvimento industrial a partir dos anos 50, com controle sobre as importações e os investimentos estrangeiros. A parcela da população que desfruta das melhores condições sociais possui um grau de instrução médio bastante elevado que permitiu ao país o domínio de tecnologias tradicionais e o destaque no controle de vários setores de tecnologia sofisticada, notadamente nos setores de informática, eletrônica, energia nuclear, satélites artificiais e medicamentos.

Recebeu o domínio da língua inglesa como herança colonial, o que favoreceu a instalação de empresas de telemarketing interessadas no custo médio reduzido da mão de obra do país. A Índia conta ainda com um moderno setor financeiro, liberalizou as importações e os investimentos externos no início dos anos 90 e possui uma das melhores projeções de crescimento econômico para as próximas décadas.
A Turquia desenvolveu-se industrialmente após a independência, em 1923, com forte atuação estatal, planejamento rigoroso e forte controle sobre o setor privado, o comércio exterior, e os investimentos externos diretos. A liberalização da economia do país ocorreu, como no caso de vários países, nos anos 80 e foi sucedida tanto de crescimento econômico quanto de crises financeiras nos anos 90 e 2000. O país têm forte indústria naval, setor automobilístico crescente e tem um forte setor petroquímico, constituindo um importante elo entre a Europa e as regiões do Oriente Médio e, agora, também com o Mar Cáspio, com a construção do oleoduto BTC.

A África do Sul, que é o país mais industrializado do continente africano, sofreu até o início dos anos 90 com sanções aplicadas contra o país por conta da vigência do regime de apartheid (segregação racial) que foi extinto em 1994. O governo pós-apartheid, de Nelson Mandela, herdou uma economia com graves problemas mas conseguiu controlar a inflação e atrair investimentos externos. O país é um exportador de produtos primários e depende muito da importação de maquinário e de bens industriais. Apesar disso, sua economia faz parte do grupo de países emergentes mais promissores conhecido com BRICS.

No México, a industrialização, dada no modelo de substituição de importações, foi marcada por investimentos privados e estatais. No entanto, o fato do país ser vizinho dos Estados Unidos influenciou muito sua industrialização. A maior parte das indústrias instaladas no país encontra-se na porção norte do território, perto da fronteira com os Estados Unidos. Para atrair mais investimentos estadunidenses, o México criou, junto à fronteira, uma zona franca que oferece inúmeros incentivos fiscais. Essa medida intensificou a instalação de indústrias intensivas em mão-de-obra conhecidas como “maquilladoras”, que são indústrias de montagem e finalização de produtos industriais, altamente empregadoras, que exploram a baixa remuneração dos trabalhadores mexicanos.

O prestígio dos países emergentes

Os Novos Países Industrializados têm apresentado crescente prestígio político internacional, além do crescimento econômico invejável, que inclui a internacionalização da atuação de várias empresas nacionais, inclusive estatais. A maioria dos NPI’s compõe o G-20, que reúne os países de maior relevância econômica num palco de discussões onde são tomadas algumas das principais decisões sobre os rumos da economia global.

Esses países emergentes também participam de blocos econômicos e políticos formando mercados multilaterais regionalizados que intensificam sua atividade comercial de exportação e importação e as relações políticas e diplomáticas. Brasil é o principal membro do MERCOSUL; o México integra o NAFTA; a China, o tigres e os novos tigres asiáticos integram a APEC (Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico) e/ou a ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático); a Índia participa da SAARC (Associação Sul-Asiática para Cooperação Regional); e a África do Sul integra a UAAA (União Aduaneira da África Austral).

Outra evidência do atual prestígio desses países na nova ordem mundial é o fato deles estarem sediando alguns dos principais eventos esportivos internacionais, como a Copa do Mundo de 2002, sediada pela Coréia do Sul junto com o Japão; os jogos olímpicos de 2008, sediados pela China; a Copa do Mundo de 2010, sediada pela África do Sul; e o grande destaque do Brasil nessa década, quando receberá a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.


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