domingo, 7 de setembro de 2025

UMA CRÍTICA DA RITUALIZAÇÃO DO CONSUMO E DA NATURALIZAÇÃO DO CONSUMISMO

O consumo é uma atividade fundamental na sociedade moderna. Desde o início do século XX, o consumo tem sido incentivado e ritualizado como uma forma de manter a economia em crescimento. No entanto, essa ritualização do consumo e a naturalização do comportamento consumista têm sido objeto de crítica por parte de acadêmicos e pensadores sociais. Neste texto, vamos explorar como a ritualização do consumo está relacionada às necessidades do modo de produção capitalista, especialmente após a crise de 1929, e como isso afeta a sociedade, a economia e o meio ambiente.

A Crise de 1929 e a Emergência do Consumo em Massa

A crise de 1929 foi um divisor de águas na história do capitalismo. A queda da Bolsa de Valores de Nova York em 1929 levou a uma grande depressão econômica que afetou todo o mundo. Para superar essa crise, os governos e as empresas tiveram que encontrar novas maneiras de estimular a economia. Uma das estratégias adotadas foi a promoção do consumo em massa.

Segundo o economista John Kenneth Galbraith, a crise de 1929 foi causada pela falta de demanda efetiva, ou seja, a capacidade das pessoas de comprar bens e serviços (Galbraith, 1958). Para resolver esse problema, as empresas começaram a investir em publicidade e marketing para criar demanda por seus produtos. Isso levou à emergência do consumo em massa, que se tornou uma característica fundamental da sociedade moderna.

A Ritualização do Consumo

A ritualização do consumo refere-se ao processo pelo qual o consumo se torna uma atividade rotineira e automática. As pessoas começam a consumir não apenas para satisfazer suas necessidades básicas, mas também para se sentir bem, para se divertir e para se integrar à sociedade. A publicidade e o marketing desempenham um papel importante nesse processo, criando uma cultura de consumo que incentiva as pessoas a comprar mais e mais.

De acordo com o sociólogo Jean Baudrillard, a sociedade moderna é caracterizada por uma "economia do signo", em que os bens e serviços são consumidos não apenas por sua utilidade, mas também por seu valor simbólico (Baudrillard, 1970). Isso significa que as pessoas consomem não apenas para satisfazer suas necessidades físicas, mas também para se comunicar e se expressar.

O Consumo como Elemento de Distinção Social

Além disso, o consumo também pode ser visto como um elemento de distinção social, como argumentou Pierre Bourdieu em sua teoria dos circuitos de consagração social (Bourdieu, 1979). Segundo Bourdieu, os bens de consumo de alto luxo são consumidos não apenas por sua utilidade ou valor estético, mas também por seu valor simbólico de distinção social.

As pessoas que consomem esses bens estão sinalizando sua posição social e sua pertença a um determinado grupo social. Isso cria circuitos de consagração social cuja eficácia cresce na mesma razão da distância dos objetos sociais consagrados. Os bens de consumo são valorizados não apenas por sua qualidade intrínseca, mas também por sua capacidade de conferir status e distinção social. Marcas de luxo usam muito bem essa estratégia.

Problemas Sociais, Econômicos e Ambientais

A ritualização do consumo e a naturalização do comportamento consumista têm consequências negativas para a sociedade, a economia e o meio ambiente. Alguns dos problemas mais graves incluem:

- Desigualdade social: o consumo em massa pode exacerbar a desigualdade social, pois as pessoas que têm mais recursos financeiros podem consumir mais e melhor do que as pessoas que têm menos recursos.

- Esgotamento de recursos naturais: o consumo em massa pode levar ao esgotamento de recursos naturais, como água, energia e matérias-primas.

- Poluição ambiental: a produção e o consumo de bens e serviços podem gerar poluição ambiental, como a poluição do ar e da água.

- Dívida e instabilidade financeira: o consumo em massa pode levar a uma dívida excessiva e à instabilidade financeira, pois as pessoas podem comprar mais do que podem pagar.

Ou seja, a ritualização do consumo e a naturalização do comportamento consumista são características fundamentais da sociedade moderna. No entanto, essas práticas têm consequências negativas para a sociedade, a economia e o meio ambiente. É importante que as pessoas e as sociedades repensem suas práticas de consumo e busquem formas mais sustentáveis e responsáveis de consumir.


Referências:

- Baudrillard, J. (1970). A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70.

- Bourdieu, P. (1979). A distinção: uma crítica social da faculdade de julgamento. São Paulo: Edusp.

- Galbraith, J. K. (1958). A era da opulência. São Paulo: Pioneira.

- Klein, N. (1999). Sem logo: a tirania das marcas em um planeta vendido. São Paulo: Conrad.

- Veblen, T. (1899). A teoria da classe ociosa. São Paulo: Abril Cultural.

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

A CRISE DE 1929: UMA BREVÍSSIMA ANÁLISE GEOHISTÓRICA

A década de 1920 foi um período de grande crescimento econômico nos Estados Unidos. Após a Primeira Guerra Mundial, o país emergiu como uma potência econômica global, com uma economia em expansão e uma população cada vez mais próspera. Esse período, conhecido como os "Loucos Anos 20", foi marcado por uma grande confiança no mercado de ações e uma sensação de otimismo generalizada.


O Contexto Econômico

Durante a década de 1920, os Estados Unidos experimentaram um grande crescimento econômico, impulsionado pela expansão da indústria automobilística, da construção civil e da produção de bens de consumo. A economia americana estava em alta, com uma taxa de desemprego baixa e uma renda per capita em crescimento. Além disso, a introdução de novas tecnologias e a melhoria da produtividade permitiram que as empresas produzissem mais bens a preços mais baixos, o que aumentou a demanda e estimulou o consumo.

A Crise de 1929

No entanto, por trás desse cenário de prosperidade, havia problemas estruturais que ameaçavam a estabilidade da economia. Um dos principais problemas era a relação de superprodução e subconsumo. A produção industrial estava crescendo a um ritmo acelerado, mas a capacidade de consumo da população não estava acompanhando esse crescimento. Isso levou a uma acumulação de estoques e a uma queda nos preços, o que afetou a lucratividade das empresas.

Além disso, a especulação financeira também desempenhou um papel importante na crise. Muitos investidores estavam comprando ações com dinheiro emprestado, esperando que os preços continuassem a subir. Isso criou uma bolha especulativa que estava destinada a estourar.

A Queda da Bolsa de Valores

Em 24 de outubro de 1929, conhecido como a "Quinta-Feira Negra", a Bolsa de Valores de Nova York sofreu uma grande queda. Os preços das ações começaram a cair rapidamente, e muitos investidores que haviam comprado ações com dinheiro emprestado não conseguiram pagar suas dívidas. Isso levou a uma onda de vendas de ações, o que fez com que os preços caíssem ainda mais.

Consequências nos Estados Unidos

A crise de 1929 teve consequências devastadoras nos Estados Unidos. A taxa de desemprego subiu rapidamente, e muitas empresas faliram. A produção industrial caiu drasticamente, e a economia entrou em uma profunda recessão. A crise também teve um impacto significativo na sociedade americana, com muitas famílias perdendo suas casas e suas economias.

Consequências no Comércio Mundial

A crise de 1929 também teve consequências significativas no comércio mundial. A queda da demanda nos Estados Unidos afetou a exportação de muitos países, o que levou a uma redução do comércio internacional. Além disso, a crise também levou a uma onda de protecionismo, com muitos países impondo tarifas e outras barreiras comerciais para proteger suas indústrias.

Consequências no Brasil

No Brasil, a crise de 1929 teve consequências significativas na economia. A queda da demanda por café, que era um dos principais produtos de exportação do país, afetou a economia brasileira. Além disso, a crise também levou a uma redução da entrada de capital estrangeiro, o que dificultou a capacidade do país de financiar seus projetos de desenvolvimento.

Conclusão

A crise de 1929 foi um evento significativo na história econômica mundial. Ela mostrou como a especulação financeira e a superprodução podem levar a uma crise econômica profunda. Além disso, a crise também destacou a importância da cooperação internacional para resolver problemas econômicos globais. A crise de 1929 levou a uma reavaliação das políticas econômicas e à criação de novas instituições financeiras internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Em resumo, a crise de 1929 foi um evento complexo que teve consequências significativas nos Estados Unidos, no comércio mundial e no Brasil. Ela mostrou como a economia global está interconectada e como as crises econômicas podem ter impactos profundos na sociedade. Além disso, a crise também destacou a importância da cooperação internacional e da criação de políticas econômicas eficazes para prevenir futuras crises.

Referências:

- Kindleberger, C. P. (1973). The World in Depression, 1929-1939. University of California Press.

- Galbraith, J. K. (1954). The Great Crash, 1929. Houghton Mifflin.

- Hobsbawm, E. J. (1994). A Era dos Extremos: O Breve Século XX. Companhia das Letras.

quinta-feira, 12 de maio de 2022

PRINCIPAIS GRUPOS EXTREMISTAS DO MUNDO ISLÂMICO

O terrorismo é uma manifestação da violência, usada como forma de impor a vontade de uma pessoa ou grupo, normalmente com finalidade política. A violência é caracterizada pela prática de atentados com variável potencial destrutivo e cujo objetivo é a desorganização da sociedade existente e a tomada do poder.

Diversas organizações terroristas marcaram a história ao longo do século 20. Muito antes do fundamentalismo islâmico ganhar destaque com os atentados de 11 de setembro de 2001, grupos terroristas tiravam a paz de milhões de pessoas, inclusive em países desenvolvidos. É o caso da Irlanda do Norte, com a atuação do IRA, o Exército Republicano Irlandês, e é também o caso da Espanha, com o ETA, Euskadi Ta Askatasuna (Pátria Basca e Liberdade).

Contudo, é verdade que o terrorismo era protagonizado por atores locais e regionais durante a velha ordem mundial e passou a ter dimensão global na nova ordem, com a sistemática de atentados promovidos por organizações como a Al Qaeda, que articulou os ataques às Torres Gêmeas e ao Pentágono. O terrorismo global, que articula células de organizações complexas estruturadas em redes, é uma das faces da globalização.

É importante ressaltar que o terrorismo não é uma prática exclusiva de grupos políticos extremistas. Existe o terrorismo de Estado, especialmente comum nas ditaduras, nas quais ocorrem perseguições políticas, prisões arbitrárias, torturas e assassinatos de dissidentes. Mesmo em democracias frágeis, onde os direitos constitucionais são violados por instituições de Estado, o terrorismo encontra espaço, como o que é praticado por forças policiais e militares contra populações periféricas do Brasil.


Grupos extremistas de linha sunita wahhabita ou salafistas:


- Al Qaeda

Grupo criado pelo saudita Osama bin Laden no Afeganistão com finalidade original de lutar contra a ocupação soviética (1979-89), pela qual recebeu ajuda financeira e militar dos Estados Unidos. Após a ação americana na Guerra do Golfo (1991) e da instalação de bases militares estadunidenses na península arábica, o grupo volta-se contra alvos americanos e foi o responsável pelos atentados de 11 de setembro de 2001 e outros atentados na África, no Oriente Médio e ao jornal Charlie Hebdo, em Paris.



Militante do ISIS carrega a bandeira do grupo.


- ISIS - Estado Islâmico do Iraque e da Síria

Também conhecido como Daesh, esse grupo surgiu nos anos 2000, tendo por base a atuação em territórios de maioria sunita no Iraque, durante a ocupação norte-americana. Ele foi criado para estabelecer um califado nesses territórios. Com o início da guerra da Síria, os objetivos foram expandidos a partir da atuação do grupo em partes daquele país. O grupo é acusado de de diversos crimes de guerra como a perseguição religiosa, o tratamento brutal dado a civis, a imposição do islamismo aos civis, a violência sexual contra mulheres e a destruição de patrimônios históricos da humanidade. Depois de ter o domínio de extensas áreas, perdeu o controle sobre todos os territórios porém sem se desmobilizar para o terror aproveitando a onda de refugiados rumo à Europa para inserir membros do grupo no Ocidente.


- Boko Haram

Grupo extremista que atua no norte da Nigéria, do Camarões e também no Chade e no Níger. Criado nos anos 2000, já realizou diversos ataques terroristas entre os quais se destacam as ações contra igrejas católicas que mataram 28 pessoas em 2011 e o sequestro de mais de 200 meninas em uma escola do nordeste da Nigéria. O grupo cometeu milhares de assassinatos, já forçou o deslocamento de mais de 2 milhões de pessoas e foi considerado o grupo terrorista mais mortífero do mundo em 2015.


- Al Shabaab

É uma milícia terrorista filiada à rede Al-Qaeda que atua na Somália. Surgiu nos anos 2000 em meio à guerra civil do país e controla diferentes partes do território, com áreas rurais, partes do sul da Somália e trechos da capital Mogadíscio. O grupo foi responsável pelo segundo maior atentado terrorista do século 21, usando um caminhão-bomba contra um edifício e matando pelo menos 587 pessoas.


Principais grupos extremistas palestinos


- Hamas.

É uma das mais importantes organizações palestinas, composta por muçulmanos sunitas. O grupo possui um braço armado (Brigadas Izz ad-Din al-Qassam), contudo também possui um braço filantrópico e um braço política, de forma que sua classificação como organização terrorista não é unânime entre as nações. Atua especialmente na Faixa de Gaza, está vinculado à Irmandade Muçulmana e tem como objetivos a autodeterminação da Palestina, a recuperação dos territórios palestinos e impedir o avanço de Israel sobre a Faixa de Gaza.


- Hezbollah.

Grupo extremista transnacional de orientação xiita que surge como uma milícia de apoio à revolução iraniana e desenvolve uma estrutura importante no Líbano, onde atua como partido político e tem relevância por atuar em serviços sociais e na agricultura, dando apoio a milhares de libaneses no Sul daquele país. O grupo operou forte resistência contra operações israelenses ao Líbano, conquistando relevante apoio popular no país. Recebe ajuda financeira do Irã e apoiou o governo xiita da Síria contra os rebeldes sunitas e o ISIS.