domingo, 21 de agosto de 2011

"ENTRE RIOS" - DOCUMENTÁRIO SOBRE EXPANSÃO URBANA DA CIDADE DE SÃO PAULO

Quais são os limites da intervenção humana sobre o espaço? O crescimento das cidades deve ser planejado a serviço de quem? Quais as razões para a adoção do rodoviarismo individualista como nosso modelo essencial de transporte nas metrópoles?

É possível produzir um desenvolvimento urbano pautado nos preceitos da sustentabilidade, desenvolvendo a vida econômica e social garantindo o respeito ao meio ambiente?

O documentário "Entre Rios", de 2009, produzido como trabalho de conclusão do curso de bacharelado em audiovisual do Senac São Paulo, dirigido por Caio Silva Ferraz, aborda algumas dessas questões tomando como foco a expansão urbana da cidade de São Paulo.

O filme explica como a elite paulistana buscou transformar a cidade em uma metrópole europeia ou ainda numa espécie de "Chicago da América do Sul", alterando os cursos dos seus rios, desmatando suas várzeas, aterrando, loteando e vendendo as áreas de suas margens dando vez à especulação imobiliária.

"A urbanização de São Paulo foi uma coisa tão violenta que ocupou o lugar do rio. Então, enchente é coisa que nós inventamos. Ela é produto da Urbanização", disse a professora Odete Seabra, do departamento de Geografia da FFLCH-USP.

"Entre Rios" ressalta o fato da urbanização ter priorizado a abertura de espaços para consolidação do automóvel de passeio como modelo de transporte às custas da precariedade dos transportes de massa, num evidente processo de modernização conservadora em oposição à uma modernização progressista.

E apresenta importantes depoimentos de especialistas nas áreas relacionadas ao tema da urbanização, além da já citada Professora Odete Seabra, como Professor Nestor Goulart Reis, do Departamento de História da Arquitetura da FAU-USP; Professor Alexandre Delijaicov, do Departamento de Projeto da FAU-USP; Professor Marco Antônio Sávio, do Departamento de História da UFU; e Professor Mario Thadeu de Barros, do Departamento de Hidráulica da POLI-USP.

O filme, com cerca de 25 minutos, é uma bela aula de Geografia Urbana! Aproveite!








ENTRE RIOS from Caio Ferraz on Vimeo.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A DOUTRINA MONROE E O DESTINO MANIFESTO

Os Estados Unidos da América possuem a quarta maior extensão territorial do planeta e o processo de formação do seu território, marcado por uma imensa expansão de sua área, ocorreu sob os fundamentos teóricos e ideológicos da Doutrina Monroe e do "Destino Manifesto".

O país que proclamou a independência em 1776 tinha apenas 13 estados, as até então chamadas 13 colônias que haviam se insurgido contra o domínio inglês. Atualmente são 50 estados ocupando área quase dez vezes maior que a inicial.

A expansão projetada desde os tempos da colonização ganhou força com a independência. O Tratado de Paris, de 1783, definiu as fronteiras dos Estados Unidos reconhecidas pela ex-metrópole, o Reino Unido, incluindo as áreas ao sul dos Grandes Lagos, entre os rios Mississipi e Ohio. Dali partiria a "Marcha para o Oeste" para consolidar as fronteiras atuais.

No início do século 19, Napoleão exige o território da Lousiana, que pertencia à Espanha e incluía o porto de Nova Orleans, fundamental para o livre-comércio dos Estados Unidos. Com receio do expansionismo napoleônico, os americanos pagam-lhe 15 milhões de dólares pelas terras e dobram seu território num acordo em 1803.

Vinte anos depois, o então presidente dos Estados Unidos, James Monroe, num discurso histórico em que projeta a hegemonia geopolítica dos Estados Unidos no continente americano, profere a sentença clássica: "América para os americanos". O recado foi claro e direto para as potências europeias:

"Julgamos propícia esta ocasião para afirmar, como um princípio que afeta os direitos e interesses dos Estados Unidos, que os continentes americanos, em virtude da condição livre e independente que adquiriram e conservam, não podem mais ser considerados, no futuro, como suscetíveis de colonização por nenhuma potência européia [...]"

A América se descolonizava naquele início de século 19. Revolução Haitiana (1791-1804); Independência da Argentina (1810-1816); Independência do México (1810-1821); Independência do Brasil (1822). A Doutrina Monroe define a descolnização da América como processo irreversível e, claro, justificaria a expansão territorial através de aquisições ou guerras de territórios controlados por europeus na América.

James Monroe

Se a América era para os americanos, não haveria razão para que europeus mantivessem posses territoriais no novo mundo. Assim, os americanos ainda buscariam controlar os territórios do Oregon e do Alasca, ampliando ainda mais a abrangência do seu território.

A ocupação das terras conquistadas foi estimulada e viabilizada por imensas correntes migratórias. A descberta de ouro na região da califórnia em 1848 - território anexado do México após guerra com a assinatura do Tratado de Guadalupe Hidalgo - atraiu milhares de pessoas para a Costa Oeste do país.

Outro grande evento que atraiu pessoas foi o Homestead Act (Lei de Propriedade Rural - 1862). A Lei garantia a propriedade de terras de 130 acres de extensão para quem nelas se fixassem e produzissem ininterruptamente por cinco anos.

Feita em meio à Guerra de Secessão (1861-1865), a Lei excluía desse direito os que já tivessem empenhado armas contra o governo dos Estados Unidos e garantia o acesso à terra apenas àqueles que fossem qualificados como "cidadãos desejáveis", o que incluía majoritariamente pessoas do perfil "WASP", ou seja, brancos, anglo-saxônicos e protestantes.

No entanto, todo esse processo de expansão territorial e colonização foi revestido de um certo caráter missionário através da ideologia do Destino Manifesto. A ideia central consiste na "predestinação divina". Segundo a concepção do Destino Manifesto, Deus desejava que os norteamericanos dominassesm as terras da América do Norte.

Progresso Americano, de John Gast. Alegoria do Destino Manifesto.

Essa concepção foi largamente utilizada na prpaganda expansionista americana nos anos 40 do século 19. A expressão "Destino Manifesto", cunhada pelo jornalista John O'Sullivan, foi usada pela primeira vez em 1844 como argumento para que o congresso estadunidense aceitasse a propsta de anexação da República do Texas e depois em 1845 na defesa da anexação completa das terras do Oregon.

Do ponto de vista territorial, o Destino Manifesto apoiou-se na Doutrina de Naturalização das Fronteiras que definia limites naturais para a posse do território. Desse modo, legitimou-se a ideia de que as terras ocupadas deveriam estender-se de um oceano ao outro, do Atlântico ao Pacífico, ou seja, os limites seriam naturais.

Entende-se esse processo como "naturalização" das fronteiras quando partimos do pressuposto que as fronteiras são sempre artificiais, pois são construções humanas. Mas podem ser naturalizadas quando usam elementos naturais tais como oceanos, rios, linhas de cristas etc. como marcos naturais de fronteiras.

O crescimento populacional acelerado da época, potencializado pela intensa entrada de imigrantes, somou-se ao argumento da predestinação divina na defesa do expansionismo. O'Sullivan argumentou assim:

"Nosso destino manifesto atribuído pela Providência Divina para cobrir o continente para o livre desenvolvimento de nossa raça que se multiplica aos milhões anualmente."

É notável a presença da noção de raça nos ideais expansionistas. Isso porque o Destino Manifesto é acompanhado do sentimento de superioridade racial. A expansão dos domínios territorias enfrentou a oposição dos nativos indígenas que sofreram com o extermínio praticado pelos norteamericanos. Cada vitória contra um povo indígena inflava ainda mais o sentimento de superioridade racial.

O Destino Manifesto teve ainda influência sobre o pensamento do geógrafo alemão Friedrich Ratzel e uma de suas principais teorias, a do "Espaço Vital". Ratzel impressionu-se bastante com os resultados da propaganda do Destino Manifesto e sua teoria foi, no século 20, reinterpretada e distorcida por nazistas para sustentar o expansionismo alemão com base na noção de superioridade racial ariana.

A Doutrina Monroe e o Destino Manifesto ainda serviram de instrumentos idelógicos para justificar o expansionismo sobre territórios espanhóis como Cuba e Porto Rico e para a anexação do Havaí. O lema "América para os americanos" influenciou ainda na política do Big Stick, nos vultuosos investimentos em indústrias e terras na América Latina, e na busca da presença cultural através do cinema.

Golpes militares durante a Guerra Fria são reflexos da tentativa de garantir o espaço latinoamericano como área de influência direta no contexto bipolar do conflito geopolítico contra a União Soviética. O uso das engrenagens do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial para fins de recuperação econômica ds países latinamericanos em crise e o Consenso de Washington também são manifestações recentes dessa política.

O crescimento de econonomias emergentes como o Brasil e o México nesse espaço latinoamericano e a aproximação da América do Sul com a China e a Europa são vistos como desafios à manutenção dessa ordem de vínculos que a Doutrina Monroe construiu e se esmerou para preservar.

sábado, 13 de agosto de 2011

O VENENO ESTÁ NA MESA

O filme do diretor Silvio Tendler devassa um ponto crucial e dramático da produção de alimentos no Brasil: o uso intensivo de agrotóxicos para fins de aumento da produtividade agrícola. Esses defensivos agrícolas (na verdade, ofensivos agrícolas), herbicídas, são venenos chegam às mesas dos brasileiros e de todos que consomem nossos produtos exportados.

E por trás dessa violência que atenta contra a dignidade da pessoa humana estão as engrenagens do sistema capitalista preocupado em produzir mais gastando menos e evitando perdas para maximizar os lucros da atividade.

Veja o filme clicando neste link e conheça mais sobre os meandros dessa questão.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O MUNDO SEGUNDO A MONSANTO

A maior corporação entre as dedicadas à produção de trangênicos e insumos para a agropecuária não tem uma relação saudável com as pessoas, o meio ambiente, os animais e com a verdade.

Com 90% do mercado mundial, A Monsanto, indústria química e de engenharia genética estadunidense, é denunciada no filme de Marie-Monique Robin por praticar absurdos como:

Propaganda enganosa sobre a biodegradabilidade de produtos; exploração de tráfico de influência no alto-escalão do governo americano; despejo de resíduos químicos letais em áreas habitadas e nos ecossistemas de suas plantas industriais; entre outras atrocidades.

A melhor forma de entender como tudo isso é feito pela Monsanto é ver o filme "O Mundo Segundo a Monsanto", que você pode ver agora.

sábado, 6 de agosto de 2011

MECANISMOS DA GUERRA CAMBIAL E A CILADA DO EURO

Mecanismos da Guerra Cambial

Uma das principais formas de se garantir o crescimento de uma economia e a manutenção de suas finanças em níveis saudáveis é ganhar mais e gastar menos, uma receita muito popular. Contudo existem diversas maneiras de produzir esse efeito, entre as quais destaco as seguintes:

- Arrecadar mais impostos e reduzir despesas internas.
- Exportar mais e importar menos.

Quanto ao primeiro grupo de medidas, fica evidente que a parte mais prejudicada nesse tipo de ajuste é a população, que pagará impostos mais altos e verá seu governo reduzir os gastos com educação, saúde, habitação, transportes e outros setores importantes para a sociedade.

O segundo grupo de medidas encontra obstáculos diferentes afinal não se muda o padrão de exportações e importações da noite para o dia.

Para exportar mais é preciso gerar um ambiente propício à exportação e isso depende de infraestrutura de transporte, de armazenagem de produtos e de comunicações. Depende também da carga tributária, dos custos espaciais (aluguel ou compra de terrenos, preservação ambiental etc.) e dos custos de mão-de-obra.


Fonte: http://migre.me/5pQw2

Essas condições não são criadas em pouco tempo mas às custas de investimentos de longo prazo ou de pressões sobre os trabalhadores, que veem sua legislação flexibilizada e seus sindicatos incapazes de defendê-los, e sobre o meio ambiente, quase sempre prejudicado sem proteção ou reparação de danos.

Reduzir as importações seria uma opção mais rápida com a possibilidade de se realizarem bloqueios às importações por decreto. No entanto, essa prática foge aos princípios que regulam o mercado internacional atual, configurando forte protecionismo, podendo, inclusive, ser impedida aos membros da Organização Mundial do Comércio através de sanções do organismo.

Nesse contexto, a subvalorização cambial, ou seja, a desvalorização da moeda, se apresenta como um mecanismo que cria artificialmente as condições para elevar as exportações e reduzir as importações. Para entender como isso é possível, tomaremos dois cenários de comparação entre o Real (moeda brasileira) e o Dólar (moeda estadunidense).

Cenário 1: Um dólar equivale a 2 reais, ou seja, o real está valorizado.

Cenário 2: Um dólar equivale a 4 reais, ou seja, o real está desvalorizado.

Observe que o Brasil já viveu essas duas situações em momentos diferentes nos últimos 10 anos. E tomemos, primeiramente, o ponto de vista de um exportador brasileiro.

Se o produto de um exportador brasileiro tem custo final de 20 mil reais, no cenário 1, sua produção vale 10 mil dólares. Já no cenário 2, sua produção valeria apenas 5 mil dólares, ou seja, um valor menor e muito mais competitivo. Conclusão: a moeda desvalorizada facilita as exportações.

Tomemos, agora, o ponto de vista de um importador brasileiro. Se o produto importado custa 20 mil dólares, no cenário 1 ele custaria 40 mil reais. Já no cenário 2, com real desvalorizado, o mesmo produto custaria 80 mil reais, ou seja, um preço bem menos competitivo. Conclusão: a moeda desvalorizada dificulta a importação.

Diante da crise financeira que se arrasta desde 2008, a China, os Estados Unidos e alguns países europeus de fora da Zona do Euro adotaram mecanismos que criam e recriam a subvalrização cambial de suas respectivas moedas. O objetivo desses países é claro: elevar a balança comercial ganhando mercados e reduzindo importações.


Fonte: http://migre.me/5pQ7Q

O governo brasileiro já acusou diversas vezes esses países de praticarem uma "Guerra Cambial", que afeta diretamente a economia brasileira, especialmente os seus setores exportadres. Esse ambiente "corrosivo" (ver link de "Guerra Cambial") levou o governo brasileiro a lançar uma política industrial apresentada como uma "cruzada" contra o ambiente comercial predatório.

Segundo matéria publicada no G1, a política industrial lançada pelo governo "inclui a devolução de impostos e financiamento a exportadores, desoneração de folha de pagamento para setores intensivos em mão de obra e uma política tributária especial para montadoras. O programa é anunciado num momento em que vários países desvalorizam suas moedas na ânsia por aumentar sua competitividade em uma economia enfraquecida, sobretudo nos países mais ricos".

Cabe ressaltar que em economias e em setores muito dependentes da importação, a subvalorização cambial pode ser desastrosa ao encarecer produtos essenciais como alimentos ou medicamentos importados, por exemplo, ou restringir a importação de maquinário industrial determinando desaceleração da produção industrial e desemprego, consequentemente.


A Cilada do Euro

O mecanismo da subvalrização cambial não está à disposição dos países que compõem a Zona do Euro. Como a moeda é comunitária, não cabe a um país ou outro resolver suas crises financeiras internas manipulando o valor do Euro. Quem controla a moeda comum da União Europeia é o Banco Central Europeu, em Frankfurt.

Nesse caso as alternativas que tem se apresentado aos países em crise como a Grécia, a Irlanda, a Espanha, a Itália e Portugal tem sido:

1 - recorrer à ajuda interna de outros membros do bloco com economias mais sólidas, como a Alemanha, a França e o Reino Unido. Uma situação que cria a desconfortável sensação para alemães franceses e britânico de estarem "sustentando" economias pobres.

2 - Recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que foi criado justamente para oferecer créditos de curto prazo para fins de recuperação econômica.


Fonte: http://migre.me/5pQhH

No entanto, a receita tradicional do FMI baseia-se na aplicação do primeiro grupo de medidas que mencionamos aqui, ou seja, aumentar impostos e cortar gastos. As populações desses países já sabem que vão viver em recessão por muito tempo com efeitos sociais muito fortes. Desemprego, dificuldade de acesso à educação, saúde, moradia estão entre os principais problemas a serem o enfrentados por eles.

Não é em vão que estão nas ruas a protestar.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A CRISE ECONÔMICA DOS ESTADOS UNIDOS

A situação econômica dos Estados Unidos inspira muitos cuidados. Como desdobramento da crise financeira que se arrasta desde 2008, quando bancos quebraram, empresas de grande porte faliram ou tiveram sua falência evitada pelo governo, a dívida que o país ostenta atingiu seu limite.

A solução imediata proposta pelo governo de Barack Obama para evitar o default, ou seja, o calote aos seus credores, foi aumentar o teto do endividamento do governo de 14,3 trilhões de dólares para até 16,7 trilhões. Contrair mais empréstimos para pagar no futuro as dívidas que estão vencendo agora.

Pinto&Chinto. La Voz de Galícia. 02/08/2011


Mas a oposição republicana fez desse processo o seu momento político. Impôs a Obama o compromisso de redução dos gastos domésticos em aproximadamente 1 trilhão de dólares e, numa batalha de nervos, fez com que esse aumento do teto da dívida fosse aprovado somente no último dia antes do calote.

Certamente a situação atingiu esse limite pois "o crescimento da dívida ultrapassou a expansão econômica geral e a arrecadação fiscal" do país, como explicou a agência chinesa de avaliação de risco Dagong Global, ao rebaixar a nota dos Estados Unidos de A+ para A.

O ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, ironizou a decisão da agência chinesa e apresentou uma visão diferente daquela da Dagong Global quanto à solidez da economia estadunidense, de acordo com a reportagem no site da Folha de São Paulo:

"Eles deviam tomar cuidado, porque o principal credor dos Estados Unidos é a China e eles estão rebaixando os títulos que eles possuem. Não é o caso de rebaixamento dos Estados Unidos, porque do ponto de vista financeiro, (o país) vai continuar sólido e cumprindo suas obrigações".

Contudo, a questão que deve ser posta para reflexão é: será que tais medidas aprovadas serão eficientes e suficientes para sanar as deficiências da economia americana, incluindo efeitos de longo prazo, ou tornarão o problema do endividamento um desafio ainda maior para as contas do país?