segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

BREVE PANORAMA DO NEGRO NO BRASIL:

SOBRE O RECONHECIMENTO DA ETNIA, DA CULTURA E DAS DESIGUALDADES SOCIO-POLITICO-ECONÔMICAS.

O reaparecimento de movimentos étnicos, religiosos e linguísticos, que defendem suas identidades culturais na forma de micronacionalismos que ressaltam particularismos locais, pode ser contextualizado com o declínio do poder dos Estados e com o enfraquecimento da idéia de nação no atual mundo globalizado - dominado pelas empresas transnacionais e pelas redes financeiras e informacionais - como uma reação ou resistência à padronização dos costumes, do consumo e à forte penetração da cultura dos países hegemônicos.

Obviamente, essa padronização é excludente e marginaliza o elemento étnico negro, o asiático e o indígena além de outros grupos minoritários. Esses não são reconhecidos de forma igualitária. Assim, no epicentro desses movimentos está a incessante busca pelo reconhecimento da dignidade, do valor humano e, mais profundamente, do prestígio que deseja usufruir o elemento ou o grupo etnico-cultural.

Segundo Hegel, o homem em sua essência deseja ser desejado pelos outros seres humanos e ser reconhecido como homem pois seu valor está intimamente ligado ao valor que lhe é atribuído pelos outros homens. Por isso é tão importante para os indivíduos ou para os grupos etnico-culturais o reconhecimento dos outros elementos ou grupos com os quais eles convivem.

O movimento negro no Brasil busca denunciar a incapacidade da sociedade brasileira para a equalização dos contrastes sociais e econômicos e a sua paralisia para com a dissolução das diferenças de status desfrutadas por brancos e negros no país, já que isso passaria pela partilha do poder e das posições de prestígio, e pelo acesso aos bens materiais, todos de forma igualitária.

Denuncia também a manifestação forçadamente limitada da cultura negra no espaço público e os processos de alienação do elemento negro através da interiorização de imagens depreciativas de si mesmos, buscando desconstruir sua identidade étnica e cultural, o que materializa a segregação espacial dos negros e a segregação de sua cultura vinculada às raízes africanas.

O negro brasileiro não desfruta desse reconhecimento. Ao contrário, a cultura ocidental, acostumada durante séculos a tratar os negros como "coisas sem alma", resiste a aceitação plena do negro e, de forma vil, implode as estruturas da cultura negra através dos vários recursos que domina, desde o espaço público até a mídia, segregando o negro dos padrões estéticos e culturais, e associando-o à miséria e à promiscuidade.