sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA NO MUNDO ISLÂMICO

O processo de crescimento da população no mundo islâmico possui algumas características bastante peculiares que merecem uma análise um pouco mais atenta. Observe a tabela abaixo que contém as taxas de crescimento vegetativo, de natalidade e de mortalidade de cinco países do mundo islâmico. Dos países da Península Arábica, onde surgiu o islamismo, selecionamos a Arábia Saudita e o Catar. Outro país asiático selecionado foi o Afeganistão. E da África, onde o islamismo se difundiu principalmente no norte do continente, selecionamos a Eritréia e o Chade. Veja os dados:


Como em qualquer país de grandes contrastes, nos países do mundo islâmico existem profundas diferenças entre a pequena parcela mais rica da população e a maioria mais pobre. Para os mais pobres, é normal que os fatores que contribuem para uma natalidade mais elevada produzam efeitos mais significativos. Falta de informação e de acesso aos métodos de controle, além do baixo custo de formação do indivíduo, influenciam diretamente nas altas taxas de natalidade apresentadas.

Para as elites desses países, que poderiam realizar um controle mais efetivo das taxas de natalidade, alguns fatores tradicionais inerentes ao mundo islâmico fazem grande diferença. O islamismo permite a poligamia. No entanto defende que os homens que desejam ter mais de uma esposa devem preocupar-se com a possibilidade de sustentá-las, o que não é nenhum problema para os mais ricos. Permitindo que os homens tenham até quatro mulheres ao mesmo tempo, a poligamia tornou-se sinônimo de melhor condição social, ou seja, de que os homens que tem mais de uma mulher são mais ricos do que os que tem apenas uma.

A mesma lógica acabou sendo apropriada para os filhos. Ter muitos filhos tornou-se também um sinônimo de riqueza, de prosperidade. Um caso exemplar é o da família do terrorista Osama bin Laden. Muhammed Awad bin Laden, pai de Osama, nasceu pobre no Iêmen e migrou para a Arábia Saudita onde tornou-se um dos homens mais ricos e importantes do país. Casou-se e divorciou-se várias vezes tendo 10 esposas ao longo de sua vida. Com elas teve o total de 54 filhos, sendo Osama o único filho que Muhammed Awad teve com Hamida al-Attas, de quem divorciou-se logo após o nascimento do filho.

A soma desses fatores produz taxas de natalidade elevadíssimas no mundo islâmico. Afeganistão, Chade e Eritréia possuem taxas de mortalidades também elevadas, o que reduz o crescimento vegetativo que poderia ser bem maior caso essas mortalidades fossem do mesmo patamar da Arábia Saudita e do Catar. Nesses dois países, o crescimento vegetativo também é bastante afetado pela taxa de migração positiva, especialmente no Catar, que possui uma população absoluta menor. O fator de atração é o petróleo, cuja exploração atrai trabalhadores e negociantes do mundo inteiro.

Outro fator, que frequentemente é abordado na imprensa do Ocidente, é a existência de grupos religiosos islâmicos radicais que defendem a expansão da fé islâmica utilizando o crescimento populacional acelerado como estratégia para elevar o percentual de muçulmanos no planeta. É provável que alguns grupos defendam, de fato, essa estratégia mas não se deve atribuir tal lógica de forma generalizada a todos os seguidores do islamismo.